Por Ana Alice Vargas Oliveira/Reportagem em Curso

Mostardas, cidade no litoral sul do Rio Grande do Sul, já teve seu tempo de glória no futebol de campo amador, e o Esporte Clube Tamandaré foi um dos grandes protagonistas dessa história. Por anos, o time uniu a cidade, protagonizando rivalidades acirradas e fazendo do futebol mais do que um simples esporte: uma tradição que reunia famílias e movimentava a comunidade. Hoje, o Tamandaré já não está mais em campo, mas seu legado segue vivo na memória de quem viveu essa época de ouro. Nesta reportagem, revisitamos a história do clube, seus momentos marcantes e o impacto que deixou no futebol de Mostardas.

Fundado em 11 de janeiro de 1942, o grupo foi muito além de um time, tornando-se um clube e parte do coração de muitos sócios mostardenses. Além das competições esportivas, suas sedes eram usadas para reuniões e bailes. Suas festas eram conhecidas pela tradicional escolha de suas rainhas e serviam como ponto de encontro para a população local. Durante seus anos de atividade, teve diversos espaços como sede, mas somente em 1969 a prefeitura concedeu uma área de terras ao clube, dando origem ao Campo do Tamandaré, que se tornou um verdadeiro marco do futebol na cidade. Sua primeira diretoria, em 1942, contou com sete principais nomes: o presidente Dr. Edgardo Pereira Velho, o vice-presidente José Pedro Leandro Filho, os secretários Pedro Gaciba e Dirceu Chaves Lemos, os tesoureiros Dr. Carlos Jorge de Azevedo Futuro e Mário Pereira Leandro, e o orador Mário Colares.

O Tamandaré protagonizou duelos inesquecíveis e conquistou títulos importantes ao longo das décadas. O clube foi campeão em diversas ocasiões, levantando taças nos anos de 1970, 1971, 1978, 1986, 1987, 1988, 1989, 1992, 1993, 1998, 2002, 2009 e 2010. Essas conquistas não apenas demonstram o talento e a dedicação dos jogadores que vestiram a camisa, mas também a paixão da torcida, que sempre marcou presença nos jogos e celebrava cada vitória como um evento memorável. Um de seus principais rivais era outro time local, o Esporte Clube Lutador Gaúcho.

Em 1992, o jornal local “Freguesia das Águas”, que também não está mais em circulação, publicou uma edição especial em comemoração aos 50 anos do E. C. Tamandaré. A publicação trazia homenagens, fotos históricas e um relato sobre a trajetória do clube. Uma das imagens mais marcantes era a foto mais antiga do time, registrada em 1954.

O futebol amador sempre teve grande relevância em Mostardas, e o Tamandaré era um dos pilares dessa tradição. A rivalidade com outros times da região tornava as partidas ainda mais emocionantes, criando histórias que até hoje são contadas pelos moradores. Os jogos reuniam multidões e geravam uma energia única na cidade, atraindo até pessoas de fora para admirar as partidas. Cada clássico era uma verdadeira festa e, a cada gol marcado, um grito de emoção ecoava ao redor do campo.

Com o passar dos anos, o clube acabou encerrando suas atividades devido à falta de recursos e à ausência de pessoas que se dedicassem completamente a sua manutenção. No entanto, ex-jogadores e torcedores ainda recordam com nostalgia os tempos de ouro do Tamandaré. O campo, que já foi palco de tantas batalhas esportivas, pode não receber mais jogos como antigamente, mas sua história segue gravada no coração de quem viveu essa época inesquecível. Como conta Giovani Silva, ex-jogador: “Minha maior recordação é do dia em que entrei no time, em 31 de maio de 1998, que também era aniversário do meu pai. Nessa data, fomos campeões.”

Time foi campeão invicto em 2009

Outro relato é do torcedor Cláudio Luiz Santos: “Além de ser torcedor desde criança, participei das diretorias do clube desde 1989. Nesses anos, vivi muitos jogos inesquecíveis, principalmente as finais acirradas contra o E. C. Lutador Gaúcho e o E. C. Internacional do Valim. Uma das mais difíceis foi a de 1989, contra o Lutador Gaúcho. No primeiro jogo, no campo do Rincão, empatamos em 1×1, em uma partida marcada por uma briga generalizada. No segundo jogo, em Mostardas, no Campo do Tamandaré, vencemos por 2×1.” Ele também destaca um momento especial na história do clube: “Em 1992, quando o clube completou 50 anos, houve um jogo amistoso contra os veteranos da dupla Gre-Nal. Foi uma partida linda, com um público enorme e a presença de jogadores famosos e muito conhecidos.” Outra torcedora, Aura Teixeira, relembra a forte ligação de sua família com o clube: “Meus tios e até meu irmão foram jogadores do Tamandaré. Meu tio Joaquim foi presidente e construiu a sede social. Minha mãe era uma torcedora aguerrida.”

O futebol em Mostardas pode ter mudado ao longo dos anos, mas a influência do Tamandaré permanece. O clube deixou uma marca que vai além das quatro linhas, sendo um símbolo ainda lembrado no esporte local. Seu nome é citado com orgulho, e sua trajetória é um testemunho de como o futebol pode ser um elo poderoso entre as pessoas, reforçando laços e criando memórias.

No Brasil, o futebol amador tem uma importância enorme, especialmente no interior, onde muitos times ainda jogam e novos surgem. Segundo a Secretaria Estadual de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, em 2024, a famosa Copa RS de Futebol Amador contou com 165 times e mais de 6,5 mil profissionais envolvidos. Muitos desses times são formados por jogadores que conciliam o esporte com outras profissões, mas que mantêm viva a paixão pelo futebol. O Tamandaré foi um exemplo disso: um clube que fez história na cidade e mostrou como o futebol, mesmo sem holofotes e grandes investimentos, pode transformar comunidades e construir laços que duram por anos.