Por Bruna Palharini/Reportagem em Curso
Um dos maiores sonhos de muitos adolescentes e jovens que moram em cidades pequenas é sair delas. Buscar novos caminhos, oportunidades e realizações nas capitais metropolitanas do Brasil e do mundo. Eu, Bruna Weber Palharini, sou natural de Ijuí, Rio Grande do Sul, mas sempre morei em Augusto Pestana, cidade vizinha, que possui 7.149 habitantes (IBGE, 2022). Como tantos outros jovens, compartilho desse mesmo sonho. A falta de oportunidades e infraestrutura para além do básico foi o principal gatilho para essa vontade. No entanto, isso não significa que a mudança tenha sido fácil—ficar longe da família e dos amigos pela primeira vez é sempre um desafio.
Neste contexto, as pequenas cidades enfrentam um verdadeiro êxodo juvenil. Nos últimos anos, mais jovens estão migrando para centros urbanos. Segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em comparação com o Censo de 2010, o grau de urbanização no Brasil aumentou significativamente: 16,6 milhões de pessoas passaram a morar em áreas urbanas, enquanto houve uma queda de 4,3 milhões na população rural. Hoje, 84,4% dos brasileiros vivem em cidades.
A inexistência de oportunidades escolares, como universidades e ensino de qualidade, força os jovens a se mudarem para cidades maiores em busca de outras perspectivas, gerando custos financeiros e afastando-os de suas famílias e amigos. Davi Schneider Bruinsma, estudante de Medicina Veterinária de 19 anos que mora no interior de Augusto Pestana, confirma essa realidade: “A falta de acesso à educação é o principal problema. No geral, a infraestrutura de comércio, saúde e ensino é limitada, e as pessoas precisam buscar esses serviços em cidades vizinhas.”
Além da educação, a escassez de infraestrutura e serviços impacta diretamente as oportunidades acadêmicas e profissionais, dificultando a entrada dos jovens no mercado de trabalho. No entanto, o avanço tecnológico tem permitido o surgimento de novas formas de trabalho, como o remoto, o que pode ser uma alternativa para que os jovens permaneçam em suas cidades sem precisar buscar oportunidades nos grandes centros urbanos.

Falta de oportunidades é um dos motivos apontados pelos jovens para deixar as pequenas cidades
Outro fator determinante para o êxodo juvenil é a falta de opções de cultura e lazer em cidades pequenas. A ausência de eventos e atividades impacta a qualidade de vida e o desenvolvimento social dos jovens. Giovana Kunzler, de 17 anos, destaca: “A falta de diversidade no mercado de trabalho, especialmente em áreas mais novas e menos tradicionais, é um grande problema. Além disso, em momentos de lazer, as opções são muito limitadas se comparadas às cidades maiores.”
Mas e aqueles que ficam? O envelhecimento da população é uma preocupação crescente em todo o país. A professora de Sociologia Sandra Nunes Rosa observa: “Estamos testemunhando, no Brasil, a diminuição das famílias e o aumento da população idosa. Ao mesmo tempo, há uma carência de serviços básicos nessas cidades, sejam eles públicos ou privados, o que desestimula ainda mais a permanência dos jovens.”
O futuro das novas gerações nas cidades de origem dependerá do equilíbrio entre qualidade de vida e criação de novas oportunidades. Investimentos em infraestrutura, educação e incentivo ao empreendedorismo são fundamentais para evitar a fuga dos jovens. Sandra exemplifica com um cenário internacional: “A Europa enfrentou um êxodo rural massivo, mas, décadas depois, conseguiu tornar o interior novamente atrativo para os jovens, resgatando o orgulho de pertencer à cultura do campo. No Brasil, já vemos um movimento de valorização do agronegócio entre os jovens. O espaço universitário pode ser essencial para encontrar caminhos que melhorem as cidades e, consequentemente, a vida das pessoas.”
Apesar dos desafios enfrentados pelas pequenas cidades, o futuro da juventude nesses locais pode ser promissor, desde que haja investimentos estratégicos em saúde, infraestrutura, cultura e, principalmente, educação. Além disso, o incentivo ao uso de novas tecnologias pode ser um grande aliado na transformação desse cenário, ampliando oportunidades e garantindo melhor qualidade de vida para os jovens que optam por permanecer em suas cidades natais.