Stephen Basdeo
(Trad. por Luiz Guerra)
Introdução
No Brasil, em 1850, um curioso novo romance apareceu à venda no Rio de Janeiro intitulado Mistérios do Povo; ou uma história duma família de proletários. [1] Sucesso mundial e traduzido para vários idiomas além do português, o romance foi originalmente escrito em francês (como Mysteres du Peuple) após a Revolução de 1848 pelo escritor e político Republicano Vermelho Eugene Sue (1804-1857). O livro contava a história de uma “família proletária” e seus descendentes ao longo dos séculos que se envolveram em todas as revoltas da história francesa. Quando traduzido para o inglês como Mysteries of the People, o romance abrange 21 volumes e a maior parte da ação ocorre durante o período medieval. Eu argumento aqui, que o romance de Sue fazia parte de uma tendência geral entre os intelectuais socialistas e liberais após 1848 que buscava reavaliar o lugar das classes trabalhadoras na história europeia e, de forma mais geral, mundial. No entanto, como Sue reconheceu em seu romance, seu conto a história das provações e infortúnios de uma família francesa sob o jugo de uma sucessão de governantes despóticos e capitalistas pretendia ser uma fonte de esperança para trabalhadores de todo o mundo: O caminho para uma vida melhor a sociedade não seria fácil e haveria muitas insurreições que foram esmagadas, mas cada revolta sucessiva estava levando a humanidade, pedaço por pedaço, para um futuro melhor.
Eugene Sue: O Mestre dos Mistérios
O gênero “mistérios” nasceu em 1839, quando Eugene Sue começou a escrever um romance, originalmente intitulado Paris en 1839, que pretendia ser uma narrativa de como as vidas dos ricos, pobres e criminosos na Paris do século XIX estavam interligadas.[2] Sue começou a publicar seu romance na seção de folhetins do Journal des Debats – renomeado como Mysteres de Paris – em fascículos semanais em 1842.[3] O romance causou sensação em toda a sociedade francesa, e logo romancistas de outros países começaram a escrever seus próprios romances de “mistérios” que expandiram o gênero: [4] Na Inglaterra, o incendiário radical George W.M. Reynolds escreveu The Mysteries of London (1844-1848) e The Mysteries of the Court of London (1849-1856). Em Portugal, Camilo Castelo Branco escreveu Os Mistérios de Lisboa (1854) e Mistérios de Fafe (1868). No Brasil temos Os Mistérios del Plata (1852), de Juana Manso.[5] A ideologia de rebelião sustentava a maioria dos romances de mistério que floresceram neste momento: Sue era socialista e apoiador da Revolução Francesa de 1848. Reynolds foi uma figura importante no movimento cartista na Inglaterra e um orador regular em comícios, incluindo o ‘Monster Meeting’ das Cartistas em abril de 1848.[6] Camilo Branco participou da Revolução Maria da Fonte em 1846. A argentina Juana Manso fez uma campanha de propaganda contra o ditador argentino Juan Rosas com Misterios del Plata depois que foi forçada a fugir da Argentina para o Império do Brasil.
Sue se converteu a uma forma pré-marxista de socialismo chamada republicanismo vermelho – fortemente influenciada por Pierre Joseph Proudhon[7] – enquanto conduzia pesquisas para Mysteres de Paris. Ficar cara a cara com a extrema pobreza e criminalidade nos guetos de Paris, aparentemente esquecidas pela elite francesa, o convenceu da necessidade de reformas sociais e políticas. Após a Revolução Francesa de 1848 e a fundação da Segunda República, Sue foi eleito para a Assembleia Nacional Francesa e juntou-se às fileiras do ‘Partido da Montanha’ dos Republicanos Vermelhos. Resumindo, os republicanos vermelhos – que tinham adeptos na Alemanha, Bélgica e Áustria – defendiam o sufrágio universal, a nacionalização de todas as terras e fábricas e educação gratuita para todos.
Foi em 1849, quando foi eleito para a assembléia legislativa, que Sue começou a escrever as primeiras partes de Mysteres du Peuple, que apresentaram aos leitores o gaulês Joel, o Brenn, e sua família, que bravamente, mas desamparadamente, ajudaram Vercingetorix a resistir à invasão de César. São as histórias dos descendentes de Joel que seriam contadas em parcelas subsequentes enquanto eles enfrentavam a escravidão, a servidão e a opressão nas mãos da classe dominante ao longo dos séculos até 1848. Essas primeiras partes tiveram tanto sucesso na França que foram traduzidas por George W. M. Reynolds e publicadas em série no Reynolds’s Miscellany entre 1849 e 1850. No entanto, ambos os principais partidos – os republicanos vermelhos e a oposição ‘Partido de l’Ordre’ – e o povo francês em geral, não iriam estar em uma república por muito tempo, devido ao golpe de Estado de Napoleão III em 1851. Napoleão III, apesar de inicialmente afirmar em 1849 que também era um socialista para ganhar votos, partiu para a ofensiva contra os republicanos (com r minúsculo) tanto no Parti de l’Ordre quanto na Montanha . Sue foi um dos alvos de Napoleão. As remessas de Mysteres du Peuple foram apreendidas e livreiros foram impedidos de vendê-las.[8] Muitos políticos franceses foram forçados ao exílio como resultado do golpe; tal destino se abateu sobre Victor Hugo – outro “romancista social” francês – e também sobre Sue. Tendo fugido para Savoy, então parte do Reino de Savoy, Sue começou a terminar seu épico romance socialista.
A imensa república humana e o medievalismo de Sue
Quando examinamos a ideologia política de Sue a partir de 1842, vemos uma transformação ocorrendo. Em seus primeiros dias de socialismo, ele se preocupava apenas com o progresso social na França. Na verdade, ele era conhecido, antes dos Mysteres, como um escritor de histórias de aventuras navais imperialistas francesas. Em 1849, ele era um internacionalista.[9] As palavras de Hugo a respeito do revolucionário estudantil republicano vermelho Enjolras em Os miseráveis (1862) podem ser facilmente aplicadas a Sue: ‘[ele aceitou], como evolução definitva e magnífica, a transformação da grande república francesa em imensa república humana’.[10] Isso aparece em grande parte do romance de Sue. Muito da obra dele ocorre na França e na Gália, mas a história da opressão é universal: “um resumo da luta secular entre os vencedores e os vencidos, os opressores e os oprimidos”.[11] Assim, grande parte da narrativa se passa fora da França: os descendentes de Joel, o Brenn, encontram-se na Judéia, onde um deles testemunha a morte do “socialista dos socialistas” Jesus Cristo. Em volumes posteriores, os descendentes de Brenn são encontrados na Alemanha, Inglaterra e nos Países Baixos. A relação dos descendentes com as histórias da América do Norte e do Sul, África e Índias Orientais também é destacada em volumes posteriores. Verdadeiramente, a história da família proletária de Sue era a história do mundo, um fato reconhecido pelo tradutor do romance para o inglês no século XX, o ativista socialista Daniel de Leon, que observou que o romance era “um presente inestimável para todos cujo país o priva de fundo histórico’.[12]
Vamos agora focar no medievalismo de Sue ou seu ‘Anti-Medievalismo’. Sue não acreditava, como muitos de seus colegas republicanos, que o período clássico representava uma era de esclarecimento “republicano” e nem acreditava, como muitos de seus contemporâneos conservadores, que o período medieval representava o melhor da herança da França. Em vez disso, os dois grandes pontos da história para Sue foram o tempo antes da invasão de César e a Revolução de 1789.
Para Sue, a história gaulesa progrediu em três estágios: nos primeiros tempos, antes da conquista de César, os gauleses desfrutavam de uma liberdade incomparável devido ao seu modo de vida “comunitário”, no qual cada homem desfrutava dos frutos de seu trabalho. Então os romanos e os francos vieram e impuseram a escravidão e a servidão aos amantes da paz gauleses. Não seria até a Revolução Francesa de 1789 quando a “Gália” – representante do espírito de liberdade – ressurgiu e varreu diante de si o romanismo e o medievalismo de eras passadas. A concepção de história de Sue é bem resumida em uma profecia relatada por uma mulher chamada Victoria na obra intitulada ‘The Casque’s Lark’:
É este o futuro que se revela aos meus olhos? Quem é aquela mulher – tão pálida, prostrada, deitada? O seu manto é manchado pelo sangue. Também, sua capa de folhas de carvalho tem gotas de sangue; a espada, que sua mão viril uma vez segurara, está quebrada ao seu lado. Um desses francos selvagens, com a cabeça ornamentada com uma coroa, segura a nobre mulher debaixo dos joelhos; ele olha com um semblante leve e tímido para um homem esplendidamente vestido como um pontífice… A mulher sangrenta – é gaulesa! O bárbaro que se ajoelha sobre ela – é um rei franco! O pontífice – é o bispo de Roma! O sangue escorre! Uma corrente de sangue! Leva em seu curso, à luz das chamas das conflagrações, uma massa de ruínas, milhares de cadáveres! Oh! A mulher Gaulesa, vejo-a de novo a definhar, desgastada, revestida de trapos, a colar de ferro da servidão no pescoço; ela se arrasta de joelhos; dobrando-se sob uma pesada carga! O rei franco e o bispo romano aceleram a marcha da Gália escravizada com seus chicotes! Outra torrente de sangue; ainda o glamour da conflagração… Basta de ruínas e massacres! … [mas] que o céu seja louvado! … A nobre mulher se levantou aos seus pés! Contemplem-na mais bela, mais orgulhosa do que nunca! Sua cabeça é coroada por uma coroa de folhas de carvalho fresco! Em uma mão ela segura um molho de grãos, uvas e flores; na outra, uma bandeira vermelha, superada pelo galo gálico. Soberbamente, ela pisoteia os fragmentos de sua coleira de escravidão, a coroa dos reis francos e a dos pontífices romanos! Sim, essa mulher, finalmente livre, majestosa, gloriosa e frutífera – ela é gaulesa!
O período medieval não era nada além de papismo, barbárie e opressão – de acordo com Sue. Houve vislumbres de esperança para a família Brenn durante o período antigo e medieval, quando eles assumiram o poder e se levantaram contra seus opressores. Houve o separatista Império Gálico do século III sob Vitória, a Grande – uma união da Gália e da Britânia na qual, muito brevemente, a liberdade gaulesa foi arrancada dos romanos e na fundação da qual os Brenns desempenham um papel importante. Havia também o Mosteiro de Charolles, fundado por um dos descendentes de Brenn, que foi um lugar que recebeu sua própria carta de comuna, e cujos habitantes são autossuficientes e trabalham apenas para o bem da comunidade. Ao longo de todo o período medieval, as revoltas em que os descendentes de Joel o Brenn estão envolvidos estão fadadas ao fracasso, porque são desorganizadas. A única vez que a família Brenn participou de uma revolta bem-sucedida foi em 1848, porque fazia parte de uma resistência organizada mais ampla que incluía toda a classe trabalhadora e resultou, parafraseando Karl Marx, em uma reconstituição revolucionária da sociedade em geral que resultou na fundação da Segunda República.
O Noventa e Três de Victor Hugo’s (1874)
A concepção de história de Sue era única para ele em um aspecto: tanto quanto pode ser apurado, ele é o único que voltou até a Gália pré-romana para encontrar um exemplo de uma sociedade comunista. Mas deve-se notar que outros escritores franceses também desprezaram o período medieval. Victor Hugo, por exemplo, em seu romance Noventa e Três (1874) – um conto histórico da guerra na Vendéia – explicou de forma semelhante que a Revolução de 1789 marcou um ponto alto na história porque foi “a vasta regeneração da raça humana”.[13] Nesse romance, de fato, os rebeldes vendeanos que lutam pela restauração da monarquia são medievalistas atrasados:
Em frente à Revolução Francesa, que representa uma imensa incursão de todos os benefícios – civilização em acesso de raiva – um excesso de progresso enlouquecido – melhorias que excedem a medida e a compreensão – você deve colocar esses selvagens estranhos e graves, com olhos claros e cabelos soltos, vivendo de leite e castanhas, suas idéias limitadas por seus telhados de palha, suas cercas e seus fossos … falando uma língua morta, que era como forçar seus pensamentos a habitar um túmulo; conduzindo seus bois, afiando suas foices, peneirando seu grão preto, amassando sua massa de trigo sarraceno, venerando primeiro seu arado e depois suas avós; acreditando na Santíssima Virgem e na Senhora Branca… amando seu rei, seu senhor, seu sacerdote, seus próprios piolhos; pensativo sem pensar.
Alguns camponeses, como a boa Michelle, ao que parece, estão dispostos e são capazes de aceitar a ajuda que a revolução lhes oferece. Embora seja uma mulher simples, suas ideias não são “limitadas por telhados de palha”. Não é assim com o exército camponês que parece, na opinião de Hugo, estar verdadeiramente perdido na escuridão. A crítica anticatólica e, portanto, antimedieval, contra a veneração da “Virgem Santíssima” é recorrente ao longo do romance. Em outros lugares, Hugo declara que a revolta Vendéan é também uma “revolta dos sacerdotes”; é ‘escuridão auxiliando a escuridão’ e os camponeses estão na escuridão mental e estão lutando com as forças das trevas.[14] De fato, em um ponto do romance, os padres enganam os camponeses simplórios para que apoiem a causa monarquista – durante uma missa, várias pessoas aparecem com marcas vermelhas no pescoço e os padres dizem aos camponeses simples que os homens que aparecem diante deles são os espíritos dos padres guilhotinados que voltaram para exortá-los a lutar contra a revolução.[15] Quando Hugo começou a escrever poesia na década de 1820, ele era um monarquista e medievalista. O romance Notre Dame de Paris (1831) ele chega a lamentar a rejeição da França à sua herança medieval. Na época em que escreveu Os Miseráveis em 1862, ele havia abraçado o republicanismo, uma ideologia que se estendeu em Noventa e Três, e seus sentimentos antimedievais foram claramente uma ruptura com o catolicismo de sua juventude.[16]
Hugo fica perplexo com o por que qualquer camponês ficaria do lado dos monarquistas, e ele também nunca parece ser capaz de explicar isso a seus leitores, a não ser para dizer que eles eram simples selvagens.[17] A história fornece uma resposta potencial, no entanto. Em 1789, a maioria dos nobres franceses eram proprietários ausentes e geralmente residiam longe de suas propriedades rurais, resultado do governo absolutista de Luís XIV e da centralização do governo. Querendo concentrar o poder em suas próprias mãos, Luís governou de seu recém-construído Palácio de Versalhes. A maneira de qualquer nobre ganhar o favor real era estar perto de Luís, o que para a nobreza francesa exigia sua residência em ou perto de Versalhes. A exceção a isso, no entanto, eram os nobres bretões que frequentemente evitavam a vida na corte e, até a revolucao, geralmente viviam em suas propriedades ao lado de seus camponeses. [18] Quando o típico ressentimento ‘gaulês’ dos bretões em relação a todas as coisas parisienses também é considerado – pois a Bretanha, como Hugo observou, sempre teve um espírito ‘independente’ – então a imposição do serviço militar obrigatório pelos revolucionários parisienses e seu ataque às tradições dos bretões forneceram um terreno fértil para o crescimento da rebelião.
Essa temática, de que o mundo feudal representa o atraso, ocorre ao longo do 93 de Hugo. Ele argumenta que a “guerra civil” da Vendéia foi essencialmente uma luta entre a “civilização” (a revolução) e a “barbárie” retrógrada (realeza). A revolução foi, portanto, uma “guerra contra o passado”; uma nação só pode renascer se se livrar do peso morto de suas tradições e herança monarquistas. Como Hugo afirma em sua descrição do julgamento de Luís XVI, a revolução representou
“Sopros fatais que ventaram sobre a velha tocha da monarquia, que ardeu por dezoito séculos, e a apagaram. O julgamento decisivo de todos os reis neste único rei, foi como o ponto de partida na grande guerra contra o Passado.”[19]
Claro, Hugo observa que a revolução não foi uma destruição total do passado. Ele conta que foi durante a revolução que Duboe começou a catalogar todos os tesouros guardados nos arquivos franceses.[20] Outros frutos da revolução incluíam academias de música e museus. Ao lado de algumas coisas antigas, poderiam coexistir coisas novas: novos códigos de leis, unidade de pesos e medidas e cálculo com o sistema decimal.[21] As estruturas sociais feudais precisavam ser varridas. Mas o que a revolução faz, ou deveria fazer, na visão de Hugo é reter o melhor do passado, mas seguir em frente com novas ideias. A revolução era o progresso personificado.
Esse antimedievalismo não se limitava aos escritores franceses, mas era uma característica de outros escritores de romances de “mistério”. Juana Manso, uma admiradora de Sue e Reynolds, também denegriu o período medieval quando elogiou a “civilização” do século XIX por dissipar tudo o que era “gótico”. [22] Edwin B. Roberts, escritor da série ‘Nova História da Inglaterra’ pretendia reeducar o público leitor da classe trabalhadora e fazê-los perceber o desdém de sua herança medieval em favor do socialismo republicano. James Bronterre O’Brien escreveu ‘A aristocracia: sua origem, progresso e decadência’, e com isso Bronterre procurou dissipar o mito – comum entre os radicais britânicos de meio século antes – de que o período anglo-saxão foi uma época em que os ingleses gozavam de uma liberdade incomparável. Para O’Brien, o período anglo-saxão foi simplesmente outra era em que os plebeus foram escravizados.[23] Não houve idade de ouro no passado; que viria no futuro.
Conclusão
Eugene Sue e Victor Hugo apresentam-nos, portanto, o que se poderia chamar de “anti-medievalismo”. Eles exploram, como fizeram muitos grandes romancistas do passado e do presente, a história medieval para fins de entretenimento. Eles também usaram o período para defender uma posição política, como fizeram muitos apropriadores do período medieval desde o início do período moderno. No entanto, o romance altamente popular, mas agora esquecido, de Sue pode ampliar nossa compreensão do medievalismo do século XIX. A “recuperação” do romance Mysteres du Peuple de Sue deve lembrar aos estudiosos que nem todas as apropriações do período medieval no século XIX promoveram o imperialismo e a superioridade racial branca, que é uma visão um tanto caricaturada do medievalismo vitoriano que tem sido promovida nos últimos anos. De fato, quando o sucesso mundial de livros como o romance de Sue é levado em consideração, é evidente que os estudiosos devem dar espaço em suas próprias conversas sobre medievalismo, nacionalismo e racialismo do século XIX para interpretações concorrentes do período que, enquanto o período foi retratado como opressor, não foi empregado para fins desagradáveis, mas pretendia destacar os abusos da opressão das elites.
Hugo, assim como Sue, acreditava firmemente que a Revolução Francesa representava um progresso. O medievalismo em seu texto era realmente anti-medievalismo e marca a mudança final de Hugo do medievalismo e do catolicismo de sua juventude para o secularismo e o socialismo. Suas observações sobre os camponeses de Vendéan e o passado medieval em geral revelam pouco que simpatiza com a época. O motivo predominante em todo o romance é o da barbárie medieval e do atraso versus a civilização revolucionária e o progresso. A revolução foi uma guerra contra o passado e a guerra precisava ser travada para que a França pudesse ser regenerada.
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[1] Helena Bonito Couto Pereira and Maria Luiza Guarnieri Atik, Intermediações literárias: Brasil, França (São Paulo: Scorterri Editoria, 2005), 169. I have not found a copy of this Portuguese translation yet; its existence seems only to be attested to in Brazilian newspaper and magazine advertisements.
[2] Eugene Sue, ‘Á Charles Gosselin, 20 avril 1839’, in Correspondance Générale d’Eugene Sue, ed. by Jean-Pierre Galvan, 4 vols (Paris: Honoré Champion, 2010–18), I, p. 28
[3] For a definition of ‘mystery novels’ see Stephen Knight, Mysteries of the Cities: Urban Crime Fiction in the Nineteenth Century (Jefferson, NC: Macfarland, 2012), 184.
[4] On Sue’s worldwide popularity see the following: Hernan Páz, ‘Eugène Sue en Buenos Aires: Edición, circulación y comercialización del folletín durante el rosismo’, Varia Historia, 34: 64 (2018), 193–225;
[5] On Manso and the literary context of Brazilian mysteries novels see Alexandro Henrique Paixão, ‘The Literary Taste for Novels in the Portuguese Subscription Library in Rio de Janeiro’, in The Transatlantic Circulation of Novels Between Europe and Brazil, 1789-1914, ed. by Marcía Abreu (Basingstoke: Palgrave, 2017), 39–60; Nelson Schapochnik, ‘Edição, recepção e mobilidade do romance Les mystères de Paris no Brasil oitocentista’, Varia Historia, 26: 44 (2010), 591–617. On the history of the Argentine May Revolution see Jorge Gelman and Raúl Fradkin, Doscientos años pensando la Revolución de Mayo (Buenos Aires: Sudamericana, 2010). English-language overviews of Argentine history include Nicolas Shumway, The Invention of Argentina (Berkeley: University of California Press, 1991). See also Santiago Diaz Lage [online], ‘For a History of the Spanish Urban Mysteries’, M19. Medias 19: Littérature et culture médiatique, 12 December 2021, accessed 29 December 2021, available at: https://www.medias19.org/
[6] See Stephen Basdeo and Mya Driver, Victorian England’s Best-Selling Author: The Revolutionary Life of G.W.M. Reynolds (Barnsley: Pen and Sword, 2022), 79–81.
[7] See William Clare Roberts, Marx’s Inferno: The Political Theory of Capital (Princeton University Press, 2016).
[8] Berry Palmer Chevasco, Mysterymania: The Reception of Eugene Sue in Britain, 1838–60 (Bern: Peter Lang, 2003), 57.
[9] Jean-Louis Bory, Eugene Sue: Le Roi de la Roman Populaire (Paris: Hachette, 1962), 331.
[10] https://www.cm-cantanhede.pt/mcsite/media/biblioteca/OsMiseraveis_VictorHugo.pdf
[11] Eugene Sue, The Galley Slave’s Ring; or, The Family of LeBrenn. A Tale of the French Revolution of 1848, Trans. Daniel de Leon (New York Labor News, 1911), 223.
[12] Daniel de Leon, ‘Translator’s Preface’, in Eugene Sue, The Gold Sickle, Trans. Daniel de Leon (New York Labour News, 1904), i–ii.
[13] Victor Hugo, Ninety-Three [no Trans. listed] (London: Richard Edward King, c.1890), 66.
[14] Ibid. 20.
[15] Ibid., 137.
[16] John Andrew Frey, A Victor Hugo Encyclopedia (Westport, CT: Greenwood, 1999), 148. In an 1862 letter to M. Daelli, the Italian translator of Les Misérables, Hugo declared his regret that Italy, France, England, and indeed the whole of Europe, ‘have prejudices, superstitions, tyrannies, fanaticisms … you have [the figure of] a barbarian, the monk’—See Victor Hugo, “Letter to M. Daelli, 18 October 1862,” in Les Miserables, Trans. Isabel Hapgood, vol. 2 (London: Walter Scott, n.d.), 281.
[17] Victor Hugo, Les Misérables, vol. 5 (Philadelphia: David MacKay, n.d.), 1. He had earlier attempted to answer this question in more depth in Les Misérables when he said that ‘it sometimes happens that the rabble … offers battle to the people’.
[18] Donald M. G. Sutherland, The French Revolution and Empire: The Quest for a Civic Order (Blackwell Publishing, 2003), 155.
[19] Ibid., 107.
[20] On French archival practices since the revolution see Édouard Vasseur, “French archivists, the management of records and records management since the nineteenth century: are French recordkeeping tradition and practice incompatible with records management?” Archives and Manuscripts, 49 no. 1–2 (2021): 107–32.
[21] Hugo, Ninety-Three, 105, 107.
[22] Juana Manso, ‘Misterios del Plata’, Jornal das Senhores, 1 January 1852, 7.
[23] James Bronterre O’Brien, ‘The Aristocracy: Its Origin, Progress, and Decay’, Reynold’s Political Instructor, 10 November 1849, 5.
Publicado em 22 de agosto de 2023.
Como citar: BASDEO, Stephen. Anti-medievalismo e Republicanismo nas Obras de Eugene Sue e Victor Hugo. (trad. Luiz Guerra). Blog do POIEMA. Pelotas 22 ago 2023. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/poiema/blog-especial-basdeo/. Acessado em: Data em que você acessou o artigo.