Sobre a Necessidade da Denúncia!
Daniele Gallindo Gonçalves
(POIEMA – UFPel)
Nas redes sociais, principalmente em momentos que são acionados discursos de ódio ou em defesa de nazismo e fascismo, o poema intitulado “É preciso agir” é distribuído em forma de cards com o rosto de Bertolt Brecht (1898-1956). O dramaturgo alemão, ainda que engajado na luta contra o nazismo, não produziu tal poema. O texto a seguir é, na verdade, um sermão de Martin Niemöller (1892-1984), teólogo perseguido pelos nazistas e enviado em 1938 ao campo de concentração de Sachsenhausen.
Em suas palavras, Niemöller denuncia as conivências cotidianas do “calar-se” em situações que não nos diriam respeito, dentro de uma lógica que aponta para noções de “aquilo que não é comigo, não precisa me incomodar”. Todavia, as privações de liberdades são uma reação em cadeia: primeiro os outros, até que em determinado momento atinge o eu. “Calar-se” é, portanto, deixar acontecer e não pensar na consequência do ato. No eixo de interpretação do texto de Niemöller, o silêncio de hoje é a perseguição de amanhã. A necessidade de agir e se posicionar é latente, sendo a denúncia o primeiro passo. A necessidade de reflexão urge!
Quando os nazis levaram os comunistas,
eu me calei,
eu não era comunista.
Quando eles aprisionaram os sociais-democratas,
eu me calei,
eu também não era nenhum social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas,
eu me calei,
eu não era nenhum sindicalista.
Quando me levaram
não havia mais ninguém
que pudesse protestar.
Veja o card no Instagram sobre Apologia e Opressão aqui.
Indicações de leitura:
ECO, Umberto. O fascismo eterno. 5ª ed. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2019.
LACOUE-LABARTHE, Philippe/ NANCY, Jean-Luc. O mito nazista. Tradução de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Iluminuras, 2002.
STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”. 6ª ed. Tradução de Bruno Alexander. Porto Alegre: L&PM, 2020.