Essa é uma nova seção do nosso site, onde você encontrará resenhas sobre publicações relacionadas às nossas atividades ovelheiras.

Para começar, vamos com ideias que nos inspiram desde a Bolívia!

  1. Silvia Rivera Cusicanqui é uma militante, socióloga e historiadora boliviana, nascida em La Paz em 1949, de origem aimará, professora emérita da Universidad Mayor de San Andrés. Foi professora visitante nas universidades de Columbia e Austin (Estados Unidos), Jujuy (Argentina) e na Universidad Andina Simón Bolivar de Quito (Equador). Fundou o Taller de Historia Oral Andina e é cofundadora da Colectiva Ch’ixi. É autora de muitos títulos, inclusive o que apresentamos aqui: Um mundo ch’ixi é possível – ensaios de um presente em crise, lançado no Brasil pela Editora Elefante.

Ao descrever a sociedade boliviana como uma combinação de elementos desigual e contraditória, propõe a ideia de ch’ixi, oriunda do mundo indígena, como chave de compreensão de uma contemporaneidade latino-americana imersa em crises. Em aimará, a palavra ch’ixi designa um tipo de tonalidade cinza. Um cinza mesclado que, como tecido ou marca corporal, distingue certas figuras ou entidades, como a serpente, nas quais se manifesta a potência de atravessar fronteiras e encarnar polos opostos de maneira reverberante. Segundo a autora: “a vida das comunidades, a vida da rua, a vida das vizinhanças nos bairros, as redes de ajuda mútua e organização para resistir ao avanço do poder e às crises do mercado podem ser inaudíveis e invisíveis, mas alcançar a opinião pública planetária. Produto de práticas multifacetadas, como minhocas produtoras de solo fertilizante, desencadeia pensamentos e palavras ainda indizíveis, que buscam fazer frente aos discursos macro, reventendo a grandiloquência com o ridículo, a solenidade com a festa e a política com o trabalho, submergindo-nos na magia da realidade viva para fugir da magia das palavras”. Em outro momento, ela nos diz que “no tempo das coisas pequenas, talvez seja a hora de voltar o olhar para a minúcia dos detalhes da existência, para encontrar neles as pautas de comportamento que nos ajudem a enfrentar os desafios deste momento de crise”.


2. Elogio da loucura

Com uma escrita inteligente, cativante e, por vezes, mordaz, Erasmo de Roterdã apresenta Elogio da Loucura, um livro que, apesar de ter sido escrito no século XVI, parece mais relevante hoje do que nunca.

Em suas páginas, é a própria loucura — sinônimo de tolice, insensatez e estupidez — que, com habilidade e orgulho, nos diz como ela está no cerne das relações humanas e as sustenta. Erasmo chega a propor o paradoxo de pensar como a própria vida deve muito à insensatez de homens e mulheres.

A partir de suas palavras, o leitor pode até se ver diante da encruzilhada de decidir entre entrar na loucura ou defender a razão, mesmo que isso tenha um custo.

Elogio da Loucura pode ser uma boa opção, uma bússola única, para aqueles que às vezes não sabem qual caminho seguir ou como analisar este mundo moderno, onde é incerto se é melhor ser louco ou são. É um bom livro, um companheiro generoso, para aqueles que agora se encontram confrontados, confusos, perplexos e até mesmo sozinhos, numa época que parece responder com cada vez menos bom senso, menos humildade e menos amor pela vida.

 “A pior loucura é, sem dúvida, fingir sanidade num mundo de loucos.”

Erasmo de Roterdã em “Elogio da Loucura”