Filme “Os intocáveis” (Intouchables)

A cidade Parisiense é palco desta trama onde a vida de Philippe, um multimilionário tetraplégico preso a uma cadeira de rodas, se cruza com a de Driss, um jovem morador do subúrbio de Paris, quando Driss entra aleatoriamente em uma entrevista onde está sendo feita a seleção para um novo cuidador. O mesmo começa a falar a respeito de um documento que precisa a fim de receber um benefício do governo, logo os dois começam uma discussão a respeito de seus gostos musicais e Philippe nota que é tratado como uma pessoa normal, o que não acontecia com os outros candidatos.

O filme estimula um olhar humanista para vermos além do que os olhos podem enxergar, a observar as pessoas com outras perspectivas, também nos levando a refletir quanto as nossas próprias limitações e barreiras.

Diversas vezes o multimilionário é questionado do porquê ter contratado tal cuidador, tendo em vista que o mesmo não tem experiencia alguma com tal profissão, entretanto seu argumento é sempre em virtude de que a forma como o rapaz o trata lhe faz sentir-se novamente como um humano.

Outrossim, o filme traz ao espectador a oportunidade de se transportar para aquele universo levando o mesmo a refletir, o quão sem esperança Philippe se encontrava e o quanto a amizade verdadeira e a empatia podem ser agentes transformadores para a superação. Em determinada cena do longa-metragem, Philippe relata: “O acidente só não quebrou a minha alma”.

Por conseguinte, há na trama o contraste com a vida dura do cuidador que mora no subúrbio e passa por diversas dificuldades.

Assim, em poucas palavras, podemos dizer que Driss trouxe Philippe como autor de sua própria vida novamente.

A história do longa foi baseada em fatos verídicos, os reais nomes dos personagens Philippe e Driss são respectivamente: Philippe Pozzo Di Borgo e Abdel Sellou.

Destarte, ao nos colocarmos no lugar do próximo conseguimos compreender melhor seus anseios, seus medos e limitações.

E se no lugar de termos pena, tivéssemos mais empatia?

 

*Por Lucas Silva Dellalibera. Bolsista de Iniciação à Extensão/UFPEL.

SOBRE CUIDADORES…*

Lucas da Silva Dellalibera**

Pessoas com doenças crônicas podem necessitar de cuidados prolongados, devido à agudização de algum sintoma decorrente do adoecimento. Com isso, a atenção domiciliar tem sido considerada menos onerosa enquanto modalidade de tratamento e acompanhamento dessa população nos diferentes sistemasde saúde . Nesse contexto, um membro da família necessita assumir o cuidado da pessoa doente, o que inclui as limitações derivadas deste agravo. Assim, o cuidador familiar precisa se fortalecer, tendo em vista que o ato de cuidar envolve renúncia e comprometimento, visando o bem-estar do outro.  Muitos destes cuidadores assumem a responsabilidade de cuidar do outro como uma missão ou ato de amor, que pode ser gratificante e ao mesmo tempo, ocasionar em sobrecarga.

Cada pessoa com suas especificidades e necessidades, seus humores e opiniões, anatomia particular e singular torna o ato de cuidar único. Além de que possa ser uma tarefa árdua, considerando que estes cuidadores na maior parte das vezes pelejam sozinhos ao lado de seus queridos: esposas, maridos, filhos, amigos; antes seus parceiros na vida, hoje dependentes de sua dedicação e interesse.  Este ato de amor e resignação pode parecer excêntrico ou insensato para quem não está imerso nesta realidade tão comum e ao mesmo tempo tão singular. Entretanto, só quem cuida sabe o que é batalhar por atendimento de qualidade e,  lutar muitas vezes pela medicação de difícil acesso, permanecer em filas  numa busca incansável pelo bem-estar de seus familiares em situação de adoecimento.

Ser cuidador consiste no ato de cuidar propriamente dito, em um buscar incessante, e estar em uma linha tênue entre ter e perder a presença daquela pessoa, que antes era vista como ativa e, hoje demandando mais cuidados. Além disso, é a esperança do amanhã e também o encontrar auxílio e apoio onde jamais se esperava. Assim, se entendermos um pouco mais o que é ser um CUIDADOR e que num dado momento de nossas próprias vidas, talvez tenhamos que assumir este papel, poderemos entender e compreender aqueles que já desenvolvem tal função e estender a eles novas formas de apoio.

 

*Texto revisado pelas professoras do Projeto de Extensão “Um olhar sobre o cuidador familiar: quem cuida merece ser cuidado”.

** Bolsista de Iniciação a Extensão – 2018 da Universidade Federal de Pelotas.

Não tenho medo da morte – Gilberto Gil

 

Não tenho medo da morte
Mas sim medo de morrer
Qual seria a diferença
Você há de perguntar
É que a morte já é depois
Que eu deixar de respirar
Morrer ainda é aqui
Na vida, no sol, no ar
Ainda pode haver dor
Ou vontade de mijar

A morte já é depois
Já não haverá ninguém
Como eu aqui agora
Pensando sobre o além
Já não haverá o além
O além já será então
Não terei pé nem cabeça

Nem fígado, nem pulmão
Como poderei ter medo
Se não terei coração?

Não tenho medo da morte
Mas medo de morrer, sim
A morte e depois de mim
Mas quem vai morrer sou eu
O derradeiro ato meu
E eu terei de estar presente
Assim como um presidente
Dando posse ao sucessor
Terei que morrer vivendo
Sabendo que já me vou

Então nesse instante sim
Sofrerei quem sabe um choque
Um piripaque, ou um baque
Um calafrio ou um toque
Coisas naturais da vida
Como comer, caminhar
Morrer de morte matada
Morrer de morte morrida
Quem sabe eu sinta