Manifestações de 07 de Setembro

A pedido do Estadão, demos uma olhada na mobilização em torno do 07 de setembro no Twitter e no Facebook. Buscamos por “07 de setembro”, de modo a observar um conjunto maior de dados, para além das hashtags que apresentam alguma filiação partidária ou ideológica. Para a coleta de dados utilizamos a API do Twitter através do Social Feed Manager e para dados do Facebook utilizamos o CrowdTangle.  Para análise, utilizamos Análise de Redes Sociais, focando em métricas de grupabilidade, grau de entrada e grau de saída. As principais observações estão a seguir.

Twitter

É um dos espaços mais interessantes para observar o contexto de articulação das manifestações. Coletamos aproximadamente 500 mil tweets entre os dias 30 de agosto e 02 de setembro. O que observamos, primeiramente é que existem dois grandes grupos articulando conversações em torno do tema. O primeiro, parece ter atores da esquerda entre os mais centrais (grupo verde), além de alguns veículos informativos. O segundo, o grupo rosa, é claramente bolsonarista, com atores centrais vinculados a grupos políticos de apoio ao presidente. (Observamos os nós mais centrais pelo grau de entrada ou indegree). (Figura 1)

Figura 1: Manifestações sobre o 07 de setembro no Twitter. Fonte: MIDIARS

Observamos também um maior nível de homogeneidade e conexão no grupo rosa, indicando um grupo bastante fechado. As conexões entre os dois grupos referem-se, principalmente, a citações entre os atores.

O grupo verde é menos coeso e mais múltiplo, com um maior número de atores diversos e citações a vários outros grupos (embora atores voltados à esquerda sejam mais centrais).

O ponto que achamos mais interessante é o da métrica de outdegree (grau de saída). O grupo rosa tem uma quantidade grande de atores que tuíta muito e repetidamente sobre o tema usando os termos da busca. Entre os nós que tuitaram mais de 50 vezes sobre o tema, nos três dias de coleta, a maioria está neste grupo (Figura 2). Olhando um pouco mais para esse grupo de nós muito ativos, observamos vários indícios de artificialidade e ativismo, como uma quantidade gigante de tweets em um curto espaço de tempo (por exemplo, contas com média de 1000 tweets por dia), contas relativamente novas, mas com alta quantidade de tweets, monotemas e etc. Isso mostra que há um grupo muito engajado (que possivelmente conte com contas artificiais ou mecanismos artificiais) que está diretamente envolvido com a promoção da manifestação e  ganho de visibilidade para a mesma, buscando tornar esta pauta presente na conversação.

Figura 2: Contas mais ativas nas conversações. Fonte: MIDIARS

Facebook

No Facebook, a conversa nas páginas e grupos públicos está bem menos inflada. Vimos cerca de 35 mil posts públicos, dos quais 16839 com links. Aqui temos apenas os posts com links na imagem a na análise, pois eles mostram uma filiação e uma conversação entre os diferentes grupos (o que poderia indicar uma articulação ou envolvimento maior de grupos).  Quanto maior o nó, maior a quantidade de vezes que ele publicou posts com links para conteúdos sobre as manifestações. Também é importante salientar que não coletamos dados privados, ou seja, só vemos o que aparece publicamente no Facebook.

Na figura 3, vemos as páginas e grupos que se manifestaram sobre o assunto. Temos três grupos de páginas: As do lado esquerdo, que apresentam um alinhamento discursivo com a esquerda (páginas relacionadas ao Partido do Trabalhadores, com denominações da esquerda e etc.), as do centro, que são veículos noticiosos e as da direita, que representam um núcleo de páginas de apoio à polícia, exército e forças armadas, páginas de conteúdo hiperpartidário, páginas defendendo golpe e páginas bolsonaristas e de apoio ao presidente. Esses dados indicam novamente a articulação dos centros discursivos manifestação, porém de um modo menor que o do Twitter. Os dois núcleos polarizados estão unidos pelas citações à mídia tradicional. O núcleo bolsonarista, no entanto, é mais ativo e compartilha mais conteúdo do que os demais.

Figura 3: Núcleo de páginas e grupos falando sobre o assunto no Facebook. Fonte: MIDIARS

Além disso, temos um grande universo de páginas que não se citam ou não compartilham conteúdo de outras no período analisado (7 dias), gravitando em torno deste núcleo (Figura 4)

Figura 4: Todas as páginas e grupos que falaram nas manifestações. Fonte: MIDIARS

De um modo geral, também, há uma tendência de queda nas interações sobre o assunto, pelo menos até a data do dia 03 (Figura 5).

Figura 5: Tendência de postagem e interações. Fonte: CrowdTangle

As interações e publicações mais recentes também parecem estar mais ativas nos grupos bolsonaristas, com uma menor ativação dos grupos da esquerda (Figura 6). Na imagem a seguir, vemos as últimas 24h, onde há uma concentração da ação e da atividade entre as páginas entre os grupos de apoiadores do presidente, defensores das forças armadas e de golpe militar.

Figura 6: Grupos e páginas mais ativos no dia 02. Fonte: MIDIARS

Conclusões

De um modo geral, as conversações na mídia social não permitem predições sobre a movimentação nas ruas. O que podemos dizer é o que estas conversações estão mostrando hoje. Porém, parece-nos que:

  • Há uma maior articulação de grupos bolsonaristas e de extrema direita, ainda que essa articulação seja, em muitos casos, artificializada com o uso de automatização.  Os grupos de esquerda estão menos articulados e, no Facebook, por exemplo, parecem menos ativos nos últimos dias.  Aliás, todos os grupos e conversações parecem menos ativos nos últimos dias, o que é incomum para manifestações. Geralmente espera-se que o engajamento aumente, não reduza, e que a articulação aumente, não reduza.
  • Há uma articulação fortemente baseada em automatização nas conversações da direita.
  • As conversações sobre as manifestações não parecem derramar para a sociedade civil como um todo, mantendo-se concentradas nos grupos vinculados às diferentes ideologias.