PESQUISA DEMONSTRA EFEITO DO SILÍCIO NA REDUÇÃO DA MANCHA AMARELA DO TRIGO


A mancha amarela do trigo (Pyrenophora tritici-repentis) é a principal mancha foliar da cultura. Esta doença causa redução na produtividade de até 48% e reduz a qualidade do grão. O patógeno pode ser introduzido na lavoura pelas sementes infectadas e/ou dispersão de conídios pelo vento, bem como o fungo P. tritici-repentis é um patógeno necrotrófico com capacidade de sobreviver em restos culturais. Devido a esta característica a doença tem sido mais severa em áreas com monocultura e plantio direto. Uma vez ocorrida à infecção primária, o inóculo secundário na forma de conídios é produzido nas folhas infectadas e a sua disseminação ocorre por respingos de chuva e vento dando assim continuidade ao progresso da epidemia. Nos restos culturais também ocorre à fase sexuada do patógeno aumentando a sua variabilidade genética. Mundialmente oito raças são reconhecidas, baseado no tipo de toxina que produzem e na habilidade em induzir necrose e/ou clorose em uma gama de variedades diferenciadoras. No Brasil foram identificadas quatro raças. Devido à elevada variabilidade do patógeno, o controle da doença por meio de variedades resistentes é limitado.
Estudos realizado por pesquisadores do Laboratório de Interação Planta Patógeno (LIPP) da UFPel avaliaram o potencial de uso da fertilização silicatada (como fonte de silício) no manejo da mancha amarela do trigo. O silício é um elemento mineral presente nos solos, no entanto em solos muito intemperizados a disponibilização do elemento é inferior à demanda das plantas. Plantas, especialmente da família Poaceae, são beneficiadas pelo acumulo do silício melhorando sua capacidade de suportar estresses tanto biótico como abiótico.
Os resultados destes estudos demonstraram que a fertilização silicatada pode reduzir em mais de 80% a severidade da mancha amarela, dependendo do genótipo do trigo. Esse efeito ocorre devido o silício afetar vários componentes monocíclicos da mancha amarela reduzindo assim o seu progresso. Os dados desta pesquisa foram publicados na revista científica European Journal of Plant Pathology. Na busca pela compreensão de como o silício afeta o desenvolvimento da mancha amarela, análises bioquímicas e histológicas foram realizadas nas plantas de trigo supridas com silício. Nestas plantas o fungo afetou um menor numero de células da folha de trigo, o que está relacionado com a formação de lesões menores e menor desenvolvimento da mancha amarela. As plantas de trigo que receberam aplicação de silício apresentaram maior capacidade de defesa contra o fungo envolvendo a produção de espécies reativas de oxigênio, ativação antecipada de enzimas de defesa e potencialização da rota dos fenilpropanoides, que levam a formação de compostos fenólicos os quais mostraram-se tóxicos à P. tritici-repentis. Os dados destas pesquisas estão publicados nas revistas científicas Physiological and Molecular Plant Pathology e na Plant Pathology.
Atualmente estão sendo realizadas, pelos pesquisadores do LIPP, pesquisas para validar em campo a viabilidade de aplicação do silício na cultura do trigo. As pesquisas envolvem o emprego de genótipos de trigo com diferente nível de resistência a mancha amarela, fornecimento de silício e aplicação em parte aérea de fungicidas.
Estas pesquisas foram financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com recurso disponibilizado para o processo 476852/2012-9.