Teatro e Psicologia Social

O projeto busca dar continuidade a práticas integradas entre o curso de Psicologia, o Centro de Artes e o Mestrado em Artes Visuais da UFPel. Tais práticas foram iniciadas em 2022 pelo Grupo como Dispositivo e podem ser visitadas no seguinte endereço: https://wp.ufpel.edu.br/lapso/o-grupo-como-dispositivo/
Partindo de uma articulação entre diversas linguagens artísticas (Artes Visuais; Música; Teatro; Cinema) e a Psicologia Social, o projeto busca abrir condições de possibilidade para elaboração, desenvolvimento e divulgação de novas tecnologias sociais. Trata-se de constituir oficinas, ateliers, espaços de criação onde possamos nos colocar (encharcados por uma prática) diante a relação que envolve processos de criação e processos de subjetivação. No primeiro semestre de 2024 estamos oferecemos uma breve formação aos alunos selecionados: um estudo prático sobre aplicações das linguagens cênicas no contexto da psicologia (Psicodrama, Sociodrama, Esquizodrama, etc). A partir de novembro – segundo semestre – abrimos o projeto às instituições parceiras e a comunidade em geral

Work in progress

Infâncias

Performance com direção de Max Chagas, cartografia visual de Naíma Zee e Hadla Hassan.

14/12/2024, às 10h, na sala 5 do Prédio de Psicologia da FURG (Rio Grande – RS)

Cartografia Visual

Roteiro da performance

 

Des-territo-rializações

Performance com direção de Liara Damé e cartografia visual de Naíma Zee.

23/11/2024, às 10h, no Auditório da CRINTER.

Cartografia Visual

Narrativas

Roteiro da Performance

 

 

 

 


Oficinas

  • Primeira Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro:

No primeiro encontro do grupo de teatro e psicologia social, nos reunimos como desconhecidos, cada um trazendo suas próprias experiências e expectativas. O ambiente era um pouco tenso no início, com todos ainda tentando se ajustar à presença dos outros.

Começamos nos apresentando, compartilhando um pouco sobre quem somos e o que nos trouxe ao grupo. As conversas foram abrindo espaço para entendermos melhor as motivações e expectativas de cada um. Alguns estavam ali para explorar novas formas de expressão, outros para aprofundar o entendimento sobre as interações humanas, ter boas trocas ou ainda romper com paradigmas internos para se libertar de uma ciência engendrada.

A partir dessas trocas, começamos a delinear o que esperávamos do grupo. Ficou claro que todos buscávamos mais do que apenas ensaiar ou analisar teorias; queríamos criar um espaço onde arte e ciência pudessem se encontrar, onde pudéssemos aprender uns com os outros e desenvolver uma compreensão mais profunda de nós mesmos e das dinâmicas sociais.

Ao final do encontro, entendemos o aspecto promissor das nossas ideias como grupo, conectamos nossos saberes afim de estabelecer uma produção social que atinja a comunidade.

Expectativas:

Boas Trocas, Boas Práticas, Boas Experiências, Conhecimento, Aprendizado, Sabedoria, Liberdade, Diversidade, Expressão, Alegria, Felicidade, Leveza, Teoria, Prática.


  • Segunda Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro

[ ] Cenopoesia 1
Chegar no Lapso é um processo de reconhecer os pares, dispostos a frequenciar seus pensamentos em um compartilhar, em uma só onda.
É um espaço de possibilidades criativas onde o som é o silêncio problematizam e elaboram caminhos.
Fazer parte do Lapso é colapsar barreiras limitantes para o corpo e suas ramificações.

 

Hoje me deixei cair em braços estranhos
rodopiar de curvas confiantes
a confiar no vínculo do riso
hoje dancei de olhos vendados
passos no escuro
parede humana que me guia
hoje vi janelas
de todas as cores
expressões
sustentos e desvios
hoje caminhei sobre nuvens
desfilei sobre a boemia
sempre com a cabeça em poesia
que não pede licença para passar
mas que ensina
aquecer as fibras
Antecede a vazão de segredos
Antes não ditos


 

  • Terceira Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro:

A expressão é a manifestação objetiva da essência da substância

Apoiado na leitura de trecho da obra de Deleuze, Espinosa e o problema da expressão(2017:12), buscamos uma explicação para um momento alegre percebido após o período de aquecimento psico dramático: a lembrança da eclosão dos quatro pintinhos. Procuramos explicar em palavras, aquilo que foi uma recordação agradável e essa explicação resultou numa representação psicodramática que envolveu tangenciamentos e forças que atravessavam a cena. Dentre as forças observadas na cena talvez o principal elemento seja os efeitos do patriarcalismo sobre o protagonista. Assolado pelo estigma de que a um homem não convinha criar animais fora do padrão costumeiro e por eles nutrisse afeição, cuidado e afetuosidade, o protagonista reprimia seus sentimentos. Conforme deleuze, analisando a noção de explicação para Espinosa, o conceito de expressão lhe é anterior, pois, neste caso, manifesta objetivamente a essência da substância denominada vida. Temos vida na transformação do embrião, temos vida na eclosão do novo ser, ao romper a rigorosa casca do ovo, temos vida na expressão de carinho e amor do protagonista mas temos, ao mesmo tempo, o problema da inadequação social, imposta pelo patriarcalismo, de expressar essa mesma vida por parte do protagonista.

Grupo de Teatro e Psicologia Social


  • Quarta Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro:

[ ] Cenopoesia 2
Em meu arcabouço lapsiano, componho o grupo musical, através dos instrumentos, da voz, dos ruídos e do corpo.
Cada história é uma música, cada música um sentimento, e cada sentimento um compartilhar.
Frequentar, frequenciar o Lapso é sempre emocionante.


  • Quinta Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro:

[ ] Cenopoesia 3
Em sua infância qual foi a sua contravenção, sabotagem, infração, violação, transgressão?
– Agora intensifica a música… solta, deixa que a florem as imagens, os passos mais rápidos, o olhar encontrando o colega assim que o tambor soar.
Bummm… deixe imergir a memória no olhar do outro.
– Ah! Aquela bendita bala soft.


  • Sexta Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro:

[Corpos estranhos, dispersos no espaço,
Cada um em seu compasso,
Silhuetas fragmentadas,
Sombras que não se encontram,
Movem-se como notas dissonantes,
Rasgando o ar com gestos que dançam sozinhos.

O palco é vasto, e no silêncio das luzes,
Os pés tocam o chão,
Sem eco, sem rumo,
Um abraço invisível entre o vácuo e o desejo.
Os corpos se afastam,
Traçando linhas, curvas, rupturas,
Um caos orquestrado,
Onde cada ser é uma ilha perdida.

Mas ao longe, surge o som.
Primeiro, um sussurro tímido,
Uma melodia que percorre o vazio.
Ela chama, une, costura o espaço entre os corpos,
A música cresce, pulsa, e os corpos seguem,
Um a um, se entregam ao mesmo ritmo.

O caos se dissolve,
Os gestos antes errantes encontram harmonia,
Movimento que se expande,
Braços que se estendem,
Dedos que tocam,
Rostos que se aproximam,
Num abraço final,
Onde a estranheza já não importa.

Na última nota,
Na última batida,
São um só corpo,
Um só som,
E o silêncio cai,
Como o fim de uma música que ecoa na alma.]


  • Sétima Oficina

Breves narrativas disparadas pelo encontro: 

Uma breve pausa na lógica do tempo.

Encontro do Grupo para reflexões sobre o que construímos juntos ao longo das nossas trocas.
Nosso café tornou-se um verdadeiro espetáculo de arte, com o fruto da produção artística de Naíma Zee e a troca musical do grupo.


  • Oitava Oficina: o retorno.

Breves narrativas disparadas pelo encontro:

Roteiro Testado Internamente.

A sala era um palco improvisado, uma confluência de energias jovens e curiosas. Sob a condução de uma estudante de psicologia, a sessão de psicodrama começou a pulsar como um organismo vivo, guiada pela música que ecoava nos cantos. As notas suaves dos instrumentos misturavam-se ao som dos passos e das vozes, enquanto o tema da tarde– cansaço e rotina – parecia ressoar em cada gesto, como uma vibração que todos partilhavam.

Os estudantes, ao mesmo tempo atores e expectadores, exploravam suas dinâmicas internas e coletivas. As cadeiras eram deixadas de lado e, em círculo, dissolveu-se a hierarquia usual. O espaço deixou de ser um contorno físico para se tornar um “corpo sem órgãos”, como diriam Deleuze e Guattari, um território potencial que se abria para as forças do desejo, do afeto e da criação coletiva. A rotina foi personificada; o cansaço, dramatizado como um peso invisível que se materializava em movimentos lentos e gestos truncados.

Os disparadores surgiram em formas múltiplas: uma memória de infância evocada por uma melodia; uma cadeira vazia que se tornou palco para a projeção de um diálogo íntimo; ou um simples toque no ombro que despertava a narrativa oculta de cada participante. O psicodrama era mais do que técnica; era rizomático, tecendo histórias e afetos, deslocando o foco do individual para o coletivo.

Cada cena encenada não era apenas uma representação, mas um corte no tempo, um instante em que as linhas duras da rotina cederam ao movimento criador do devir. Como os fluxos esquizos analisados por Deleuze e Guattari, os estudantes experimentavam, na prática, a transgressão das formas fixas e a construção de novos territórios de aprendizagem e experiência.

Ao final, a música cedeu espaço ao silêncio reflexivo. Os olhares trocados no círculo pareciam trazer consigo uma compreensão renovada. Havia ali não só um entendimento técnico do psicodrama, mas também uma experiência sensível de autoconhecimento e conexão. “A rotina não precisa ser apenas um cansaço”  “mas pode ser o ponto de partida para recriarmos o cotidiano.”

A sessão se encerrou com um sentimento de plenitude – não por uma resolução, mas pelo processo, pelo fluxo contínuo que, ao se revelar, abriu portas para outros devires, outros encontros.