As coisas

“Os dormentes principalmente, pelo tempo, a chuva, tudo vai desgastando, vai ficando cheio de marcas, marcas do tempo.” Erlice Santhes
As coisas compartilham a vida com as pessoas ao longo do tempo. E suas biografias ajudam-nos a narrar as nossas. Devido ao seu potencial simbólico ativam a evocação de memórias daquilo que foi, mas também daquilo que não veio a ser. Expõem as marcas do tempo impressas em sua materialidade e as ausências daquilo que já não é mais. A ressignificação dada aos objetos, a partir de novos usos no presente, demonstra o desejo de preservação de aspectos de uma vida à beira dos trilhos. Trajetórias marcadas por encontros, deslocamentos e pela sonoridade do trem, a partir da qual a rotina do dia se organizava

Najara e seu pai, Mozart Medeiros, mostram a planta baixa da Estação Férrea de Pelotas. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Esse boné aqui, eu não me lembro em que ocasião foi que ganhei ele. Até não sei se foi o pai que me deu ele, mas eu ainda tenho, ele é bem velho. É o logotipo da rede ferroviária”. Najara Medeiros Autoria: Daniele Borges (2015)

“É um parafuso, me recordo dele pregado nos dormentes e agora só ficou a lembrança. Esses pregos todos pregados nos dormentes, é uma coisa emocionante a gente viver em cima dos trilhos, tudo o que ficou pra trás agora é só lembrança”. Erlice Santhes. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ó, eu não posso falar somente do prego, porque o prego é o conjunto todo, é o prego, é as pedras, o dormente, o tijolo, o tijolo não, o trilho. Então é um conjunto, não é um objeto somente”. Erlice Santhes Autoria: Hamilton Bittencourt (2015)

“A comida do meu pai tem uma lembrança muito forte, de cheiro, de sabor, e até hoje peço muito pra ele fazer, que era o arroz carreteiro que ele fazia. De manhã cedo antes de ir pro serviço ele fritava o arroz com a carne, os temperos dele, levava a panelinha e na hora do almoço o Bocha que era o cozinheiro só botava pra cozinhar”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

Os dormentes principalmente, pelo tempo, a chuva, tudo vai desgastando, vai ficando cheio de marcas, marcas do tempo.” Erlice Santhes Autoria: Kelly Schmidt

“Eu brinquei muito de trolinho, era pequena e um colega do pai me ensinou a empurrar com um cabo de vassoura porque eu não alcançava no chão”. Najara Autoria:

Najara e seu pai, Mozart Medeiros, mostram a planta baixa da Estação Férrea de Pelotas. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima, é o original da ferrovia, serviço do meu pai, que me criou, que nos criou, tenho ele guardado há muito tempo, guardo ele com carinho. É uma paixão na vida da gente, a ferrovia.” Najara Medeiros Autoria: Daniele Borges (2015)

Em baixo relevo, a inscrição TC7 aparece como detalhe num antigo banco da Estação férrea, restaurado e apropriado pelo morador Mozart. “Eu lembro quando funcionavam todos os escritórios ali. Tinha a parte do engenheiro, o pessoal que trabalhava com ele. E na ponta ali tinha uma portinha que dizia TC7, a turma do meu pai, que se não me engano, tá marcado aqui nesse banco, em algum lugar, alí, TC7, era a turma dele”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ele tinha uma caixa, assim de madeira, uma caixa que hoje é caixa de lenha. E aí ele tinha a panelinha e roupa, e as coisas dele alí. A caixa cheia de tartaruguinhas. Então na caixa tinha tartaruga, nos bolsos tinha tartaruga, nos armários dele na oficina tinha tartaruga. Ele chegava aqui tinha tartaruga em tudo que era bolso”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

“Meu pai encontrou essa lanterna jogada quando ia para o lixo. Essa lanterna era muito importante porque servia como auxiliar para iluminar os trilhos em momentos de acidentes, e também para manutenção noturna, para visualizar os desvios, por exemplo”. Adriana Oteiro Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ele entrava na estação e ele botava, de longe aparecia o trem e ele botava, era verde ou vermelho, ficava balançando. Eles botavam uma chama com querosene”. Vitório Corrêa. Autoria: Daniele Borges (2015)

“ Foi a Najara que fez o logo. Teve um concurso e a Najara ganhou. Ele representa os trilhos do trem”. Marli Medeiros Autoria: Daniele Borges (2015)

Najara e seu pai, Mozart Medeiros, mostram a planta baixa da Estação Férrea de Pelotas. Autoria: Daniele Borges (2015)

“É um parafuso, me recordo dele pregado nos dormentes e agora só ficou a lembrança. Esses pregos todos pregados nos dormentes, é uma coisa emocionante a gente viver em cima dos trilhos, tudo o que ficou pra trás agora é só lembrança”. Erlice Santhes. Autoria: Daniele Borges (2015)

Assim como o banco da Estação outros elementos foram apropriados pelos moradores, no período que a Ferrovia estava em ruínas, como é o caso de parte dos trilhos que hoje servem como elementos estruturais nas casas de alguns dos antigos ferroviários. Autoria: Daniele Borges (2015)

“Ele tinha uma caixa, assim de madeira, uma caixa que hoje é caixa de lenha. E aí ele tinha a panelinha e roupa, e as coisas dele alí. A caixa cheia de tartaruguinhas. Então na caixa tinha tartaruga, nos bolsos tinha tartaruga, nos armários dele na oficina tinha tartaruga. Ele chegava aqui tinha tartaruga em tudo que era bolso”. Najara Autoria: Daniele Borges (2015)

“Meu pai encontrou essa lanterna jogada quando ia para o lixo. Essa lanterna era muito importante porque servia como auxiliar para iluminar os trilhos em momentos de acidentes, e também para manutenção noturna, para visualizar os desvios, por exemplo”. Adriana Oteiro Autoria: Daniele Borges (2015)

“Essa garrafa de vinho se abrir é capaz de estourar. O pai ganhou de presente. Ele ganhava muito presente. As empresas faziam transporte pelo trem”. Vitório Corrêa. Autoria: Daniele Borges (2014)

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