Encerramos este primeiro ciclo de entrevistas com curadores em Montreal com Charles Guilbert. Curador independente, professor com graduação em arte, mestrado em literatura, músico, videomaker, artista plástico, poeta e crítico abordou a curadoria a partir da perspectiva do curador produtor. Guilbert realizou inúmeras curadorias para exposições no Cégep du Vieux Montréal (Collége d’enseignement général et professionnel), de onde é professor. Para Charles Guilbert um curador é alguém que realiza um evento, que faz escolhas e seleções e também interage e se integra com seu meio buscando compreender o impacto de suas ações sobre esse meio. A partir de sua prática e formação, Guilbert é alguém capaz de pensar a curadoria a partir de pontos de vista diversos e complementares.
No último dia de entrevistas em Montreal para o projeto “Perspectivas contemporâneas em curadoria” encontramos Gilles Daigneault e Margarida Mafra, que nos apresentaram a Fontation Molinari, relataram sua rotina de trabalho e como funciona a atividade curatorial nesse contexto específico. Gilles Daigneault é um reconhecido crítico de arte e profundo conhecedor da obra de Guido Molinari (1933-2004), um dos mais importantes artistas de Montreal e do Canadá. A sede da Fontation Molinari é num imóvel que abrigava seu ateliê, no térreo, e residência, no andar superior. Tendo em vista que o interesse e função primeira deste espaço é a perpetuação da memória do artista, a documentação de sua vida e obra e difusão de sua arte e da arte contemporânea, a atividade curatorial, voltada inicialmente a uma perspectiva monográfica, também busca estabelecer diálogo entre Molinari e outros artistas, sejam artistas atuantes, a partir, por exemplo de um programa de residências previsto na criação da Fontation, seja a partir de artistas históricos cujas obras dialogam com Molinari, ou artistas convidados por Daigneault e Margarida Mafra. Margarida Mafra nasceu em Portugal e vive em Montreal onde trabalha na Fondation Molinari. Mais que uma assistente, Mafra acompanha e divide com Daigneault a própria gestão da Fontation. Com formação em História da Arte em Lisboa, fez estudos complementares na École du Louvre, em Paris, e atuou na Fundação Calouste Gulbenkian, também em Lisboa. Iniciou sua atividade na Fondation Molinari para a realização do Catálogo raisonée e hoje realiza atividades relacionadas ao programa de exposições, à conservação das obras, às atividades educativas e visitação, às itinerância e ao acompanhamento e cotação das obras do artista no mercado de arte. Além das residências e exposições com outros artistas a Fondation Molinari também convida curadores para a realização de projetos e exposições.
Serge Murphy se define como um artista curador ou como um curador artista. Nos recebeu na tarde de 14 de novembro de 2019 em seu ateliê em Montreal e relatou experiências como artista, curador e pesquisador junto a UQAM (Université du Québec a Montréal). A atuação de Murphy como curador remonta a sua formação em artes quando, ainda como estudante, organizou a Galerie Parallèle, um importante espaço alternativo para artistas e estudantes. Desde então acompanha e atua intensamente na cena artística quebequoise, seja como artista, como curador ou como ativista cultural. Apesar da intensa atuação de Murphy como curador, considera-se primeiramente um artista e, desse ponto de vista, afirma que uma das principais qualidades que deve ser destacada num curador é sua capacidade de entendimento, compreensão e diálogo profundo com o artista.