Por Superávit Caseiro

Estudo encomendado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgado nesse final de semana mostra que menos de 1% das pessoas que sonham em ficar ricas com a compra e venda de ações diárias conseguem atingir esse objetivo. A pesquisa mostra que 90% de quem tenta viver como day trader (pessoas que compram ações para vender no mesmo dia por um preço mais alto) obtém mais prejuízos do que lucros. O levantamento utilizou dados de aproximadamente 20 mil investidores que operaram na Bolsa de Valores brasileira (B3) durante seis anos.

Um dos fatores que a pesquisa aponta é que, com o isolamento social imposto pela pandemia, mais pessoas sem qualificação para operar como day trade se aventuraram pelo mercado financeiro, apostando na volatilidade do dólar e das ações listadas na B3. Com o crescimento de pessoas interessadas em ganhar dinheiro no mercado de capitais, também houve um significativo aumento na oferta de cursos para leigos e iniciantes. Reportagem do site do jornal da Folha de S.Paulo mostra que são quase oito milhões de páginas listadas quando se procura cursos de day trade, gratuitos e pagos.

A pesquisa divulgada pela CVM foi coordenada pelos professores Fernando Chague e Bruno Giovannetti, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV) e analisou milhões de operações. Foram comparados os resultados dos investidores com CNPJ e com CPF. Uma das principais conclusões mostra que as operações profissionais de bancos e corretoras levam ampla vantagem sobre day trade individuais, sendo muito raro casos de investidores pessoa física conquistarem grandes ganhos nesse tipo de operação. Isso reforça o primeiro texto trazido pelo Superávit Caseiro na editoria de Investimentos que apresentou os mitos sobre investir. Um deles é o sonho que muitas pessoas têm em ficar ricas em pouco tempo e com mínimo esforço, no entanto, basta observar a biografia dos grandes investidores do Brasil e do mundo para ver que sempre ocorre exatamente o contrário: muito estudo e trabalho duro até obter o sucesso.

O levantamento encomendado pela CVM mostra justamente que dentre os pesquisados, 91% fechou o período dos seis anos com prejuízo e apenas 13 investidores (0,8% do total) teve lucro diário superior a R$ 300,00. Ainda no período analisado, o prejuízo dos investidores individuais passou de R$ 272 milhões. O lucro das pessoas jurídicas, por sua vez, ultrapassou os R$ 110 milhões.

No entanto, conforme explicam diversos autores que escreveram sobre investimentos, como o americano Benjamim Graham e os brasileiros Juliano Pinheiro e Gustavo Cerbasi, há uma diferença conceitual entre investidor e day trade. Cerbasi, por exemplo, explica no livro “Investimentos inteligentes” que enquanto os investidores compram ações e outros ativos para mantê-los por um longo prazo, com a ideia de que durante esse prazo seus investimentos aumentem de valor, o day trade busca ganhos diários com a compra e venda de ações. Daí a dificuldade de pessoas físicas conseguirem competir com as corretoras e grupos de investimento profissionais, que contam com pessoas qualificadas e equipes numerosas. O investimento em ações, explica Cerbasi, parte da ideia de que:

LUCRO = PREÇO DE VENDA + BENEFÍCIOS – PREÇO DE COMPRA

Ou seja, vale mais a pena, primeiro, estudar e se informar, do que se aventurar a operar como day trade e entrar para a estatística dos que perdem dinheiro no mercado de capitais. Para auxiliar o leitor, o Superávit Caseiro trará novos materiais sobre a temática ao longo dos próximos meses nas suas diversas editorias.