TEA em sala de aula: Como práticas pedagógicas podem transformar desafios em oportunidades de aprendizagem coletiva?

Por Beatriz Afonso Castro/Reportagem em Curso

Nos últimos anos, o aumento dos diagnósticos infantis trouxe a saúde mental para o centro das discussões. Entre os desafios dessa nova realidade, a inclusão de crianças no espectro autista no sistema educacional exige um diálogo contínuo entre especialistas, educadores e a comunidade. Apesar das garantias legais de matrícula, a prática ainda enfrenta obstáculos. Um relatório da OMS (2022) aponta que 1 em cada 100 crianças está dentro do espectro, reforçando a necessidade de estratégias pedagógicas mais inclusivas e adaptadas ao ambiente escolar.

Embora os avanços tenham sido significativos, a distância entre teoria e prática na inclusão ainda é evidente. Mas como garantir que a inclusão social e didática vá além dos discursos e se torne uma realidade na rotina escolar? Para entender melhor como as escolas lidam com esse desafio, conversamos com profissionais da educação que atuam diretamente no processo.

O desafio da inclusão na sala de aula

Patrícia da Silva Tavares, professora das séries iniciais na Escola Estadual Zilda Morrone, destaca a complexidade de identificar e acompanhar alunos no espectro autista.

“A criança com autismo requer uma atenção diferenciada. Ela precisa de rotina e de uma linguagem objetiva. É essencial criar um vínculo. Quando já há um laudo, conseguimos nos preparar melhor para acolhê-la. Mas, quando não há, observamos dificuldades de aprendizagem, interação e comportamento, buscando apoio da equipe diretiva para conversar com os pais sobre a necessidade de uma avaliação especializada.”

Além disso, a diretora Ariela Canielles ressalta a resistência de algumas famílias em relação ao diagnóstico.

“Muitos pais temem que seus filhos sejam rotulados. Alguns não têm acesso a profissionais qualificados ou condições financeiras para bancar o diagnóstico, o que torna o processo ainda mais demorado.”

Patrícia também aponta a falta de formação específica para professores e a escassez de orientações claras sobre como lidar com alunos autistas.

“Os professores não recebem instruções detalhadas e acabam lidando com esses alunos de forma empírica. A realidade das escolas inclui salas lotadas, múltiplas necessidades em uma mesma turma e poucos recursos, o que torna o dia a dia do docente ainda mais desafiador.”

Metodologias e a importância do investimento

Aline Mença Barreto, orientadora educacional da escola, defende a adoção de abordagens mais eficazes para integrar alunos autistas ao aprendizado.

“Na alfabetização, a metodologia fônica costuma ser mais eficiente, com planos individualizados que respeitam as capacidades da criança. Para uma inclusão de fato, precisamos de investimentos nas escolas públicas: profissionais qualificados, materiais adaptados, salas maiores e formação contínua para os docentes.”

Diante das dificuldades apontadas, fica claro que garantir a inclusão de estudantes autistas nas escolas vai muito além das leis. É preciso investimento, capacitação dos professores e, acima de tudo, um esforço conjunto entre escola, família e comunidade. Somente com mudanças estruturais e um compromisso real será possível transformar boas intenções em práticas efetivas, assegurando que cada criança, com suas singularidades, tenha um espaço de aprendizado pleno e respeitoso.