Por Carolina Mattos, Giulia Lemons, Fábio Ribeiro e Kailane Quevedo/Reportagem em Curso
No início deste ano, entrou em vigor a lei que restringe o uso de celulares nas escolas pelos estudantes, em resposta ao debate sobre os malefícios do uso excessivo desses aparelhos no ambiente escolar. Na Zona Sul do estado, sua aplicação tem sido considerada positiva e benéfica, contribuindo significativamente para a relação entre estudantes e educadores.
A nova legislação permite que cada rede de ensino e escola, sejam elas públicas ou privadas, estabeleça suas próprias estratégias de implementação até o início do ano letivo. O objetivo da medida é minimizar os impactos negativos do uso excessivo dos dispositivos no aprendizado, na concentração e na saúde mental dos estudantes.
A proibição surge em resposta a um intenso debate sobre o impacto dos celulares no ambiente escolar e no desenvolvimento social dos alunos. Diversos estudos indicam que o uso excessivo de telas pode prejudicar o desempenho acadêmico, reduzir a interação social e aumentar os índices de ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes. Uma pesquisa do Datafolha, realizada em outubro de 2024, apontou que 62% da população é favorável à proibição dos celulares nas escolas, percentual que sobe para 65% entre pais de crianças com até 12 anos. Além disso, 76% acreditam que o uso dos aparelhos prejudica mais do que ajuda no aprendizado.
Desde a implementação da Lei nº 15.100/2025, diversas mudanças positivas foram observadas. A medida tem impactado diretamente a concentração dos estudantes, fortalecido as relações interpessoais e aumentado a produtividade acadêmica.
Na EMEF Wanda Rocha Martins, a diretora Rita Contreira destaca os avanços percebidos nesses primeiros meses de aplicação da lei. Segundo ela, a restrição tem incentivado os alunos a interagirem mais entre si e a procurarem alternativas de entretenimento, como a leitura e atividades recreativas. “A restrição do uso do celular beneficiou a interação entre os estudantes, aumentou a procura por livros e melhorou o diálogo entre alunos, professores e funcionários”, afirmou. Além disso, destacou um impacto significativo na forma como os jovens se relacionam com o ambiente ao redor: “Eles passaram a se enxergar, a se observar”.
A adesão à nova regra ocorreu sem grandes dificuldades, segundo a diretora, que atribui esse sucesso ao apoio das famílias. “Desde a primeira reunião, explicamos às famílias sobre a proibição do uso dos celulares e contamos com esse apoio para que os estudantes não os trouxessem para a sala de aula. Eles entenderam que é uma lei, e a lei tem que ser obedecida”, enfatizou.
Outro ponto de destaque foi a transformação dos momentos de recreio. Sem os celulares, os estudantes passaram a se envolver mais em atividades físicas e interativas. “O recreio se tornou mais dinâmico, com jogos como vôlei e basquete. A biblioteca está sendo muito mais utilizada, e a equipe pedagógica tem acompanhado os alunos no pátio, o que fortaleceu nossa relação com eles”, relatou Rita.
A nova política também trouxe ganhos acadêmicos, com um aumento na concentração dos alunos durante as aulas. Guilherme Mattos, estudante do 1º ano do ensino médio, afirmou que percebeu uma melhora em seu desempenho escolar. “Sem meu celular, consigo me concentrar muito mais no que os professores falam e entender melhor o conteúdo”, disse.
Ainda assim, Guilherme admite sentir falta do aparelho em alguns momentos, especialmente nos intervalos, mas compreende a importância da medida. “Às vezes sinto falta de poder tirar fotos com meus amigos, receber mensagens ou entrar no TikTok, mas entendemos a razão e isso fez com que não fosse difícil obedecer”, explicou.
A professora de Língua Portuguesa, Camila Duarte, ressalta que os educadores possuem um papel fundamental no processo de adaptação dos estudantes ao novo modelo, mostrando aos jovens as possibilidades existentes fora das telas dos celulares. “Precisamos oferecer alternativas atrativas para que os estudantes não vejam a restrição como uma perda, mas como uma oportunidade de vivenciar experiências diferentes. Trabalhamos com rodas de conversa, incentivo à leitura e atividades lúdicas para ocupar esse espaço”, explica a professora.
A lei reflete uma preocupação crescente com o impacto da tecnologia na educação e no bem-estar dos estudantes. Os resultados iniciais indicam melhorias expressivas na concentração, no aprendizado e na interação social, mas especialistas ressaltam que a proibição do celular não deve ser encarada como uma solução isolada.
O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre a tecnologia e um ambiente educacional saudável. Algumas escolas já estudam maneiras de integrar o uso de dispositivos de forma controlada, permitindo que sejam utilizados em momentos específicos para fins pedagógicos. “O ideal não é eliminar completamente o celular da rotina escolar, mas ensinar seu uso responsável. Se soubermos aliar tecnologia e ensino, podemos potencializar ainda mais os benefícios para os alunos”, afirma a psicopedagoga Mariana Ferraz.
Enquanto o debate sobre a presença dos celulares na escola continua, os primeiros resultados da lei mostram que a iniciativa tem cumprido seu papel de resgatar a interação social e melhorar o desempenho dos alunos. Agora, cabe às instituições educacionais, às famílias e aos próprios estudantes trabalharem juntos para garantir que essa mudança seja sustentável a longo prazo, promovendo um ambiente escolar mais produtivo e equilibrado.