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ONG Alimentar: solidariedade que se renova a cada domingo em Pelotas

Fundada em 2021, a ONG Alimentar em Pelotas transforma a vida de centenas de pessoas com marmitas, assistência social e vínculos de carinho, ultrapassando 30 mil refeições distribuídas.


Por Alenka Wyse, Emily Alves e Jackson Moura

Fachada da sede da ONG Alimentar na Rua Dr. Miguel Barcellos, centro de Pelotas. / Foto: Alenka Wyse

Em uma cozinha na Rua Dr Miguel Barcellos, no centro de Pelotas, panelas fervem desde cedo aos domingos. O cheiro de comida fresca se mistura ao som de risadas e ao vai e vem dos voluntários. É ali, na sede da ONG Alimentar, que a solidariedade ganha forma e de onde parte a esperança que chega a centenas de pessoas todas as semanas.

Fundada em dezembro de 2021, em meio à pandemia, a ONG nasceu do desejo da diretora Carla Cristina Iriart de transformar a realidade de quem mais precisa. Desde então, o grupo atua sem pausas, realizando ações semanais e atendendo cerca de 250 pessoas todos os domingos no Parque Dom Antônio Zattera. 

Quando questionada sobre o que a inspirou, Carla se emociona ao lembrar das raízes da sua solidariedade: “Eu sempre tive uma visão dos meus pais. Eles sempre foram pessoas muito solidárias, mesmo enfrentando situações difíceis. Meu pai e minha mãe ajudavam os outros durante enchentes, no frio, na chuva. Cresci vendo aquilo, e acho que foi isso que me fez querer ajudar o próximo.”

Bandeira da ONG Alimentar em dia de distribuição de refeições no Parque Dom Antônio Zattera, em Pelotas. / Foto: Jackson Moura

A sede da ONG abriga uma cozinha comunitária totalmente equipada, onde são preparadas as marmitas que chegam às ruas. Ali, também são realizadas atividades fixas que vão muito além da alimentação. Às terças-feiras, a ONG oferece atendimento jurídico, psicológico e assistência social, realizados por profissionais voluntários. Já às quartas-feiras, ocorre a distribuição de roupas e o Projeto Sementes de Luz, voltado ao apoio pedagógico e recreativo de crianças da comunidade.

O bazar solidário, realizado periodicamente, é uma das principais fontes de arrecadação para manter os projetos em andamento. As peças são doadas pela comunidade e vendidas a preços simbólicos, garantindo que o dinheiro arrecadado retorne diretamente para a compra de alimentos e para a manutenção da cozinha.

Espaço do bazar solidário da ONG Alimentar, uma das principais fontes de arrecadação para a manutenção dos projetos. / Foto: Alenka Wyse

Quando o domingo chega, o trabalho se intensifica. É o momento em que os voluntários se reúnem para preparar as refeições e organizar as doações, recebendo dezenas de pessoas em situação de vulnerabilidade. Cerca de 250 marmitas são distribuídas. Em datas especiais, como Natal, Ano Novo ou Dia das Crianças, esse número pode ultrapassar 300 atendimentos.

As marmitas incluem arroz, feijão, massa, proteína, salada, sobremesa e pão, alimentos obtidos por meio de campanhas e doações da comunidade. Segundo Carla, o cuidado com a alimentação é essencial: “Aqui a gente entrega uma marmita, um suco, uma sobremesa e o pão. As pessoas geralmente conseguem pegar uma repetição, porque a gente se preocupa em garantir que elas tenham o que comer mais tarde, na hora da janta.”

A diretora Carla Cristina Iriart com as marmitas prontas para a distribuição dominical no Parque Dom Antônio Zattera. / Foto: Jackson Moura

Além da comida, há atividades de recreação para crianças, corte de cabelo, empréstimo de livros e apresentações artísticas, mostrando que o alimento vai muito além do prato.

A preparação é dividida em duas equipes: uma formada por voluntários fixos da ONG e outra composta por integrantes da CAEX (Comunidade Terapêutica), instituição parceira que também recebe apoio de Carla. Os jovens da CAEX, próximos de concluir o tratamento, ajudam na cozinha quinzenalmente,  uma troca de experiências e afeto que transforma a todos.

Entre os colaboradores está Augusto Renato Vieira, que se juntou à ONG há oito meses. Para ele, o voluntariado é uma experiência profundamente pessoal. “Na verdade, eu faço isso por mim. A reação das pessoas é apenas a consequência”, explica Augusto.

O voluntário Augusto Renato Vieira serve as refeições durante uma das ações semanais da ONG Alimentar. / Foto: Jackson Moura

Mais do que comida, a ONG oferece presença e escuta. Muitos dos atendidos não apenas se alimentam, mas permanecem no local conversando, compartilhando histórias e recebendo afeto. Para Carla, é esse vínculo humano que torna o trabalho tão significativo: “O amor que a gente dá para essas pessoas é perceptível. Elas almoçam e ficam com a gente. É o carinho, o amor, o respeito, o acolhimento. Muitas vezes recebo depoimentos de quem já está em uma vida melhor e volta para agradecer. Isso faz as pessoas mudarem de vida.”

Ao longo desses quatro anos de atuação, a Alimentar já distribuiu mais de 30 mil marmitas, cerca de 13 mil por ano, e segue crescendo. Todas as ações são organizadas via grupo de WhatsApp, que reúne mais de 50 voluntários. Cada um contribui como pode: doando alimentos, cozinhando, servindo ou simplesmente estando presente.

Em tempos de individualismo e pressa, a ONG Alimentar mostra que ainda há espaço para o amor e a partilha. É nas pequenas atitudes e no cuidado com o outro que Pelotas encontra motivos para acreditar em dias melhores.

Carla Cristina carrega as doações em dia de ação. A frase em sua camisa resume o espírito da ONG Alimentar: “De costas pro escuro, de frente pra luz”. / Foto: Jackson Moura

ONG Alimentar

Endereço: Rua Dr Miguel Barcellos, 392, Centro – Pelotas (RS)
Instagram: @ong.alimentar

 

Publicado em 06/11/2025, na categoria Notícias.