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A gente vai pra onde?

A gente vai pra onde?

Famílias atingidas pela enchente na Nesga enfrentam risco de despejo após 9 meses de espera

Por Gabrielle Peres, Pedro Vargas e Nátalli Bonow

Na Nesga, o tempo parece ter parado desde as enchentes que atingiram o estado no ano passado. Entre casas improvisadas e lembranças do que foi perdido, a comunidade vive à espera de uma promessa: uma nova moradia garantida pelo Programa Compra Assistida, do Governo Federal.

Segundo os moradores, em dezembro de 2024, foi informado que eles teriam 60 dias para indicar móveis de até R$ 200 mil dentro de Pelotas para que fossem comprados por meio do programa. Em fevereiro, as residências escolhidas foram vistoriadas, mas o processo travou – os registros não foram feitos e ninguém recebeu retorno.

Esperança de moradia abalada

Desde então, a esperança foi sendo substituída pela insegurança. Em julho deste ano, famílias da rua Nova Prata foram surpreendidas com um ofício de reintegração de posse, pedindo que deixassem o local.

Amilton, que vive há 11 anos na Nesga, nos contou a forma em que foi abordado pelo agente de justiça. “Nós estávamos em casa, aqui sentados, e chegou o senhor de justiça entregando esse papel, que nós tínhamos 15 dias para procurar um advogado, defensor, e se nós não arrumássemos algum advogado, 45 dias para levantar acampamento”.  

A aparente indiferença de quem representa o Estado e a falta de respostas sobre o andamento do programa resulta em um medo constante de se perder o pouco que resta. “A gente deita a cabeça num travesseiro, arriscando amanhã eles chegarem aqui e ter que sair”, completa Amilton. 

Além da incerteza sobre a entrega das casas para quem foi abarcado pelo Compra Assistida, também não se sabe para onde vão os moradores que não foram amparados pelo programa. 

Esse é o caso da Carol, moradora que relata residir e trabalhar no Laranjal há 20 anos, tendo também os seus filhos em escolas da praia, o que dificulta a realocação para outros bairros. “Não adianta eles tirarem a gente daqui e socar a gente em qualquer buraco, né?”

“Estão comentando que a gente queria arrumar a casa, mas não, a gente fica com medo de gastar, investir, e amanhã depois, do nada, eles chegarem e tirarem. E aí fica essa dificuldade, fica sem certeza. A gente vai pra onde?”, completa Carol. 

Rua da Nova Prata, na Nesga / Foto: Pedro Vargas

 

Histórias que se repetem

Entre as famílias que tentam se reerguer, estão Solange Costa e Edson Santos, que perderam tudo na Barra do Laranjal durante as enchentes de 2024. O casal alugou uma casa na rua Nova Prata, sem saber que o imóvel estava dentro da área de reintegração. “Eu estava lá na Barra e perdi tudo. Quando aluguei, o proprietário não me falou nada, só depois é que eu fiquei sabendo. É brabo porque eu já passei por tanta coisa, sabe? Ter que novamente procurar outro lugar”, desabafa Solange.

Solange relembra dificuldades vividas na enchente de 2024. / Foto: Pedro Vargas 

 

A insegurança não para por aí. “Já são cinco mudanças desde que aluguei aqui. Fora na Barra, que passei por três casas já. Todas perdi tudo também”, completa, mostrando o quanto a instabilidade mexe com a vida de quem já sofreu tanto.

Solange e seu marido, Edinho / Foto: Pedro Vargas

 

Processo de governos passados 

Em resposta a situação, a Prefeitura de Pelotas diz que o pedido de reintegração de posse ao Ministério Público foi feito em gestões anteriores.  

Ainda segundo a prefeitura, uma audiência pública foi feita com os moradores e o entendimento do governo atual é que o sistema de proteção do Laranjal, aprovado pelo FUNRIGS, não depende da desocupação das famílias que vivem na rua Nova Prata e em áreas verdes próximas.   

Publicado em 06/11/2025, na categoria Notícias.