Educação, território e juventude: experiências formativas em comunidades pesqueiras norteiam projeto
Theodora Nunes, Maria Eduarda Santos, Júlia Radmann e Mariana Pereira

Jovens aprendem mais sobre a atividade pesqueira em projeto na Z3 e no Pontal da Barra (Leon Gonçalves/Reprodução)
Às margens da Lagoa dos Patos, em Pelotas (RS), o projeto “Saberes Tradicionais da Pesca Artesanal” foi criado em 2025. O objetivo é preservar a tradição pesqueira local por meio de oficinas e debates sobre educação popular, aproximando os jovens de suas raízes e fortalecendo o vínculo com o próprio território.
O Rio Grande do Sul reúne cerca de 21 mil pescadores e pescadoras profissionais registrados. Pelotas se destaca como a terceira maior região pesqueira do estado, atrás apenas de São José do Norte e Rio Grande. Na Colônia Z3, mais de mil famílias vivem da pesca artesanal. Há mais de 100 anos, a comunidade atua na atividade, atravessando gerações e sustentando a identidade local. Junto com Liza Bilhalva, Ederson Silva, professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), é coordenador e idealizador do projeto. Filho de pescadores, ele nasceu e foi criado na região e, ao longo de toda a sua trajetória profissional, manteve uma relação próxima com a comunidade.
“É uma vontade muito antiga que a gente tem de desenvolver um trabalho de formação com os jovens. Eu, particularmente, já há mais de 10 anos vinha querendo desenvolver um projeto com essas características”, conta Ederson.

Ederson Silva, coordenador e idealizador do projeto
A proposta de capacitar jovens locais, unindo o saber tradicional às atividades formativas sobre pesca, território e meio ambiente, foi acolhida pelos estudantes. Desde o início do projeto, a combinação entre conhecimento científico e cultura tem se mostrado uma ferramenta importante para criar diálogos e estratégias de resistência. Para Marianne Gomes, uma das participantes, é uma forma de pertencimento. “A gente já sentia essa necessidade antes do projeto. Faltava um espaço pros jovens trocarem ideias, aprenderem e se expressarem do jeito deles. A educação popular sempre pareceu importante pra gente por causa disso”, destaca.

Participantes do projeto Saberes Tradicionais da Pesca Artesanal durante oficina de educação popular (Diego Freitas/Reprodução)
Reconhecer os jovens das comunidades tradicionais é parte do processo de educação, não apenas como herdeiros de práticas culturais, mas como protagonistas na produção e na transmissão de conhecimentos. Luizyane de Souza Fonseca, de 19 anos, reflete sobre o futuro e a formação cidadã da juventude: “(O projeto) ajuda a sabermos de onde viemos, quem somos, e também para sabermos nossos direitos”.
A iniciativa é um espaço de escuta e reconstrução coletiva. Como explica Ederson, o projeto busca “despertar neles o interesse de identificar a pesca como atividade profissional, como oportunidade de futuro, não necessariamente no ato de pescar, mas em funções que dão suporte, como assistência técnica, elaboração e execução de projetos”.
Ao unir conhecimentos comunitários e vozes locais, o “Saberes Tradicionais da Pesca Artesanal” reafirma que a educação popular é também um exercício de comunicação: contar suas próprias histórias, pelos olhos e pelas palavras de quem vive na região.