
A Axia Energia é a antiga Eletrobras, importante estatal que foi privatizada em junho de 2022. O novo nome da empresa e o novo ticker da ação foram definidos neste ano de 2025. Porém, mesmo privatizada, a companhia permanece na posição de ser a maior do setor elétrico da América Latina. Possui participação notável tanto na geração de energia (hidroelétrica, eólica, solar e termelétrica) como na transmissão, onde responde por um market share relevante na capacidade das linhas de transmissão do país. A empresa conta com um portfólio expressivo de ativos e experiência de mais de 60 anos de atuação no setor de energia.
Recentemente, houve alguns fatos relevantes que afetaram a atuação da companhia: aquisições de usinas/ativos aprovadas pelo CADE e decisões relativas à aumentos de capital/bonificações e também voltadas ao programa de crescimento e adaptação estratégica. Foram decisões que sinalizam uma situação de reestruturação e investimento.
Posicionamento estratégico
Em relação ao posicionamento estratégico, a empresa possui os seguintes pontos fortes:
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Escala e portfólio diversificado de geração e transmissão — isto lhe confere vantagem competitiva em leilões, contratos e capacidade de integração com projetos renováveis.
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Reestruturação e foco em eficiência após privatização: a empresa está focada em redução de custos, venda de ativos não-estratégicos e amplicação de investimentos em linhas de transmissão e diversificação do portfolio de ativos (incluindo estudos em baterias/armazenamento), conforme seus gestores declararam recentemente à veículos de informação, como a Reuters.
Em relação aos seus riscos, podemos citar os seguintes:
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Risco regulatório e político: na condição de ser uma empresa ex-estatal e estratégica, ela pode ser afetada por decisões políticas e regras setoriais que podem influenciar nas suas tarifas, contratações e estrutura de governança.
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Risco hidrológico e climático: que pode impactar no potencial de geração (hidro) e preços no mercado spot; eventuais secas podem inibir a geração hídrica.
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Risco de execução em projetos e aquisições (integração, custos) — a empresa enfrenta desafios relacionados aos seus movimentos recentes de fusões e aquisições (M&A).
Suas oportunidades mais visíveis:
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Posição favorável para participar de leilões de transmissão e geração, bem como expandir seus recursos renováveis, ampliar prestação de serviços para data centers e inovar em projetos de armazenamento e baterias. Estes pontos foram mencionados como estratégicos pela direção da empresa.
- Rentabilidade
A margem EBITDA de cerca de 31% (TTM a set/2025) mostra que a companhia permanece com uma capacidade operacional considerável de geração de caixa antes de juros, impostos, depreciações e amortizações.
- Endividamento e alavancagem
A relação Dívida Líquida / EBITDA em 2,1 vezes é um tanto conservadora para uma empresa de capital intensivo como a Axia. Conforme a própria empresa, este patamar está dentro do “limite gerencial” apontado como sendo próximo de 3,0 vezes.
Esse dado evidencia que, neste nível de EBITDA, a empresa poderia, em tese, amortizar sua dívida líquida em cerca de dois anos ou um pouco mais. Assim, não é um nível alto de endividamento, sobretudo levando-se em conta a estabilidade do fluxo de caixa registrada em demonstrativos anteriores.
A dívida líquida ajustada, que chegou a R$ 72 bilhões, é elevada, mesmo considerando o tamanho da companhia e o fato de ela ser uma grande player do setor elétrico. Porém, é um nível alto, mas que não deve assustar, dado que não mostra risco elevado de solvência, sobretudo tendo em vista a robustez da sua geração de caixa.
Nesse sentido, o ível de alavancagem é administrável e razoável para o porte e o setor em que a empresa atua. A dívida pode ser alta, porém a cobertura por EBITDA não é tão expressiva, o que ameniza a estrutura de capital da Axia.
- Liquidez
A liquidez corrente (em torno de 1.9–2.0) mostra que a companhia tem ativos circulantes suficientes para cobrir passivos circulantes, o que proporciona à Axis uma margem confortável para obrigações imediatas.
O fato de o caixa ser suficiente para multiplicar por 2,5 a dívida de curto prazo é um ponto que confirmar essa capacidade de pagamento no curto prazo.
Portanto, esse nível de liquidez é um aspecto favorável. Principalmente para empresas como a Axia: com altos volumes de investimento e de dívida . Ele sugere que, mesmo com obrigações, existe espaço para a companhia pagar pontualmente seus compromissos de curto prazo, sem depender exclusivamente da venda de ativos. Nesse sentido, a Axia demonstra uma posição de liquidez confortável no curto prazo, o que reduz o risco de problemas imediatos de solvência ou estresse de liquidez.
As estimativas de preços tetos (ou valores intrínsecos) da Axia3 foram calculadas com base nos cinco mais representativos modelos de valuation por fluxo de caixa descontado.
Três deles apresentaram valores bem próximos, considerando a margem de erro de R$1,37, para mais ou para menos: o de Miles e Ezzell (1980), o de Harris, Pringle e Ruback (1985 e 1994) e o de Fernández (2008).
Outros dois foram até mais conservadores, no sentido de que estimaram preços tetos menores: o de Damodaran (1994) e o modelo de valuation por machine learning de Passos (2025). O modelo de Myers (1974) apresentou um valor intermediário.
Com base nas estimativas anteriores, observamos que os modelos que apresentaram maiores potenciais de queda da ação (downsides) foram os de Damodaran (-63,84%) e Passos (-58,15%).
Os outros apresentaram valores que ficaram entre a queda mínima de -46,93% (conforme o modelo de Fernández) e uma baixa intermediária de 49,86% (de acordo com o modelo de Myers).
O método mais simples da fórmula de Décio Bazin, o qual é muito utilizado por analistas fundamentalistas, ainda que seja um método pouco consistente e com baixo rigor analítico, aponta para um preço teto de R$ 33,34, com um downside de -48,54%.
Em suma, todos os modelos apontaram que a ação Axia3 está cara. Nesse sentido – e considerando que nós não fazemos recomendações de compra ou venda de nenhuma ação e apenas divulgamos os resultados de nossas pesquisas – observamos que como regra geral raramente é favorável a compra de qualquer ação com um downside tão alto.
Este diagnóstico é válido, mesmo tendo em vista as considerações positivas que fizemos em relação à situação financeira e de posicionamento estratégico e mercadológico da empresa.