A ex-servidora técnico-administrativa da UFPEL, Maria Cristina Padilha Leitzke, enviou-nos em janeiro de 2020 um depoimento contando um pouco da história do início dos cursos de línguas ofertados a alunos da UFPEL e à comunidade, pela Universidade, desde a década de 1970. Maria Cristina foi, por anos, secretária a frente do projeto, junto à professora coordenadora Maria Laura Maciel Alves, no então Núcleo de Estudos Linguísticos (NEL) do Instituto de Letras e Artes (ILA).
A década de 1980 ficou registrada para mim como um período muito especial. Logo no início do ano de 1981, completei dezoito anos, passei no vestibular, ingressei na UFPel como estudante da primeira turma noturna do Curso de História e, também, como servidora técnico-administrativa, atuando junto ao Núcleo de Estudos Linguísticos. Durante os primeiros quatro anos consecutivos dessa década, meus percursos pelas ruas de Pelotas eram, basicamente, entre o Instituto de Letras e Artes, o Instituto de Ciências Humanas e a Faculdade de Educação. Durante os turnos da manhã e da tarde, atuava no NEL (Núcleo de Estudos Linguísticos) e, no turno da noite, frequentava o Curso de Licenciatura em História.
Escrever sobre quase uma década, em tão poucas linhas, e, dispondo apenas do que ficou registrado na minha memória, uma vez que não tenho, no momento, acesso às fontes, tais como arquivos e demais registros, provavelmente fará com que não sejam abordadas todas as ações desenvolvidas. Portanto, irei me deter nas sensações e recordações, por mim vivenciadas, num período em que atuei como técnico-administrativa junto ao ILA, sob a coordenação da professora Maria Laura Maciel Alves.
Sob a coordenação da Laurinha (assim nos referíamos à professora Maria Laura), responsável pelo Núcleo de Estudos Linguísticos, tive a oportunidade de crescer como pessoa e cidadã. O crescimento profissional foi parte desse processo, me possibilitando contribuir para atender as expectativas da comunidade em geral, fazendo jus ao caráter extensionista da Universidade. A cada semestre, eram planejados e registrados, em formulários específicos, os cursos de idiomas de extensão universitária: francês, inglês, inglês instrumental, conversação, alemão, espanhol, português, francês através do cinema, teatro em francês. Os processos de cada curso recebiam um número da Pró-Reitoria de Extensão. Ficávamos na expectativa da sua aprovação, para posteriormente divulgarmos as ações e realizarmos as inscrições dos interessados nos referidos cursos. No dia de abertura das inscrições, formavam-se filas na porta do prédio, principalmente para os níveis I. E, também, eram abertas vagas para aqueles que quisessem ingressar nos níveis mais adiantados, mediante um teste de nivelamento. Os materiais didáticos para os cursos eram preparados com zelo e distribuídos aos inscritos no primeiro dia de aula. No final de cada semestre, eram realizados os procedimentos de avaliação e preenchimento de relatórios e listagem dos aprovados para o posterior recebimento dos certificados.
A procura por esses cursos era grande por parte da comunidade, uma vez que para muitas pessoas era a única oportunidade de acesso a cursos de línguas na cidade de Pelotas, bem como a atividades culturais. A UFPel cumpria, desse modo, um dos seus propósitos como universidade pública e de qualidade.
Lembro-me que o NEL, durante a década de 1980, funcionou em quatro salas do antigo prédio da Escola de Belas Artes (localizado na esquina das ruas Marechal Floriano e Barão de Santa Tecla). Inicialmente, ficou localizado em um corredor, com duas portas de acesso, sem nenhuma janela. Mesmo assim, eu me sentia como se estivesse trabalhando numa agradável sala, dispondo, inclusive, de música ambiente. Lembro muito bem do dia em que a Laurinha disse: “Se esse é o espaço que oferecido para nós, faremos com que se torne agradável”. Ela trouxe os livros, as revistas em diferentes idiomas, os tapetes, as almofadas para colocar nas cadeiras de madeira, um pequeno aparelho de som e aquecedores para tornar o ambiente de trabalho mais quentinho nos dias frios. O empenho e a dedicação da professora Maria Laura sempre possibilitaram um ambiente digno e confortável para o trabalho, mesmo com todas as carências que a Universidade pública apresentava.
O segundo espaço ocupado foi uma sala, com grandes janelas envidraçadas para a parte externa da Rua Marechal Floriano. Nessa época, com a criação do NED (Núcleo de Extensão e Divulgação), o NEL passou a dividir o espaço físico. Esses dois núcleos foram muito importantes na promoção de cursos e atividades culturais diversas, dinamizando ainda mais a extensão universitária, possibilitando um maior entrosamento da comunidade acadêmica com a sociedade em geral, por meio da educação e da cultura. Esse período foi extremamente gratificante.
Entretanto, foi necessário restaurar o prédio da antiga Escola de Belas Artes. Os dois núcleos, NEL e NED, foram instalados no anexo desse prédio histórico. A entrada dos dois núcleos passou a ser por uma única porta da Rua Barão de Santa Tecla. A sala era pequena, com espaço reduzido. Lembro-me da Maria Laura organizando a estante com os livros, e, na tentativa de criar um espaço digno para que pudéssemos trabalhar, dinamizava as atividades com ideias inovadoras. Lembro-me, também, de que quando menos esperava, havia uma fruta ao lado da máquina de escrever. Hoje avalio que era uma forma de me dizer: “Não esmorece, continuaremos andando”.
E assim, por muitos dias e alguns anos, ficamos ali instalados dando continuidade aos projetos e às ações de extensão universitária. O prédio foi restaurado, entregue e fomos instalados num quarto espaço físico. Dessa vez, foi em uma sala térrea, com janelas para Rua Barão de Santa Tecla. Lembro que nesse período a administração geral entendeu que seria oportuno unir os dois núcleos.
As recordações que guardo comigo da convivência com a Maria Laura extrapolam o ambiente profissional. Foi ela quem subsidiou a minha inscrição no vestibular da UFPel. Eu tinha 18 anos e senti uma responsabilidade enorme quando ela me disse: “Faça o vestibular, eu confio que serás aprovada”. E quando precisei frequentar as aulas noturnas, me presenteou com um casaco para o frio e blusões de lã. Foi minha madrinha de casamento. Ganhei lençóis e um conjunto de louças amarelas. Quando engravidei da minha filha Juliana, me presentou com o carrinho de bebê. Optei por mencionar esses presentes, pois sinto que foram demonstrações materiais de afeto. A Laurinha sempre foi uma pessoa muito especial em minha vida. Gratidão!”