Ética: inter-relação indivíduo, família, trabalho e sociedade (2ª parte)
O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade (François-Marie Arouet, dit Voltaire, 1694 – 1778, Figura 01).
O aforismo de Voltaire, embora escrito há mais de 200 anos, pode estar ainda mais adequado aos dias atuais, porquanto a presente sociedade manifeste, de forma mais acentuada, os três grandes males em decorrência da maior população e, portanto de maiores dificuldades e disputas no acesso ao trabalho.
O indivíduo que trabalha – que exerce qualquer atividade que lhe ocupe física e/ou intelectualmente – recebe recursos financeiros para a própria subsistência e de sua família. Some-se a isto a abstração mental que lhe provê a agradável sensação do dever cumprido, o saudável e prazeroso estado de espírito resultante da consciência de segurança para a subsistência, relaxamento, descanso e alívio das tensões físicas e emocionais.
Outra consequência do preceito de Voltaire diretamente relacionada com a causa e efeito das atitudes humanas refere-se à individual necessidade de um salutar equilíbrio no dualismo físico/mental imanente às necessidades básicas do ser humano: sono/vigília, trabalho/lazer, cansaço/descanso, fome/saciedade…
Assim, a inatividade com sua tendência inercial não se mantém por muito tempo como um estado agradável e prazeroso ao indivíduo. A continuidade resultará em tédio: fastio, aborrecimento, enfado, nojo, desgosto (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). De forma inconsciente – e pelo instinto da autopreservação – o indivíduo buscará algo que lhe promova uma situação de conforto e prazer. É a saudável relação de troca de situações por outras que lhe sejam agradáveis e resultem em benefícios pessoais e equilíbrio social.
Se a inatividade persistir, o estado emocional do indivíduo avançará para um processo de desconforto e desajuste psicossocial, com desvios e distorções nos pensamentos com origem a vícios – inveterada frequência em atitudes imperfeitas, contrárias à moral estabelecida -, condutas que se classificam desde pequenos delitos até situações mais graves, com desastrosas conseqüências nos processos de inteiração social do indivíduo, como a dependência de drogas, incapacidade para o trabalho, total necessidade de outrem para a subsistência, até a marginalização no seu grupo.
Sob o aspecto biológico e psicossocial, a falta de trabalho leva o indivíduo a um estado de insatisfação, desmotivação e frustração. Este estado emocional não é gerador do processo de reciprocidade referente aos estados de gratificação física e emocional conforme Maslow (primeira parte deste trabalho), resultantes da satisfação das necessidades do ser humano.
Voltaire disponibilizou uma alternativa – possivelmente a única – para a prevenção e tratamento do tédio, do vício e da necessidade: o trabalho.
Esta simples, porém tão sábia proposta deve ser objeto de reflexões por parte dos pais (na família), dos educadores (nas escolas e universidades) e dos políticos, como uma resposta para uma sociedade onde se deseja que prevaleçam os valores morais e éticos.
Quem trabalha e, por meio da criatividade e construtivismo, elabora e desenvolve projetos edificantes que fazem parte dos seus ideais de vida, não só para si, mas para a toda a sociedade, naturalmente recebe em contrapartida a realização profissional e pessoal que equilibra a psique humana (Maslow).
Quem trabalha com honestidade não apresenta o tipo de tédio que pode desviar e deturpar pensamentos e atitudes. Quem trabalha não tem motivação para a má conduta ou vícios. Quem trabalha não passa necessidade. Quem trabalha é, acima de tudo, um cidadão digno, respeitado pela família, pelos seus pares, pela sociedade e pelo Estado.
O trabalho com ética, em todas as suas modalidades – remunerado ou não (atividade da dona de casa, da mãe, do educando, do religioso, do filantropo e etc.) -, deve ser objetivo maior do ser humano capaz de executá-lo, até mesmo para incluir, na sociedade, aqueles impossibilitados ou necessitados de cuidados especiais.
Referências Bibliográficas
Ética: inter-relação indivíduo, família, trabalho e sociedade (1ª parte). PECOS, 2010.
Hierarquia das necessidades de Maslow. Wikipédia: a enciclopédia livre.
Ligações Externas
Abraham Maslow. Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Voltaire. Wikipédia, a enciclopédia livre.
Wikipédia: a enciclopédia livre.
Dos Editores.
*Figura 01. François-Marie Arouet (Paris, 21 de novembro de 1694 — Paris, 30 de maio de 1778), mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio (Wikipédia: a enciclopédia livre).