Kilombo Urbano e o domingo contra a fome

Por Caio Nogueira, Carolina Farias Tapia e Pedro Bittencourt

A ocupação Kilombo Urbano Canto de Conexão é a casa de diversas pessoas sem moradia na cidade de Pelotas e realiza aos domingos uma cozinha solidária que visa alimentar as pessoas em situação de rua. Entre às 12h e 14h ocorre a distribuição de marmitas, a cozinha é organizada em um modelo de produção em que cada pessoa envolvida faz um pouco e é comandada por Claudete Lessa.

Claudete Lessa além de dirigir e coordenar a cozinha da ação, luta pelos direitos das pessoas, “o importante pra mim é fazer comida, que é o que eu gosto, minha profissão é fazer comida, isso aqui pra mim caiu de mão aberta, fazer comida pro povo”, ela comenta. Sua maior motivação é alimentar quem precisa e estar perto de seu filho, Giovani, que faz parte da organização do quilombo e também é morador.

O assessor jurídico do quilombo é Glauco Manjourany, ele complementa que a cozinha solidária organizada pelo Kilombo Urbano teve início após um projeto que existia estar com problemas devido a falta de um lugar físico para a produção dos alimentos. Após o quilombo se envolver nessa iniciativa, a cozinha solidária que antes distribuía 100 marmitas por domingo, hoje distribui mais de 200 refeições. Em seu início elas eram distribuídas pela cidade por voluntários, que buscavam as marmitas na ocupação e as levavam para diversos bairros de Pelotas, isso ainda acontece, mas atualmente todas as pessoas que precisarem do almoço podem retirar por conta própria na sede do quilombo.

O Kilombo Urbano Canto de Conexão é movido pela solidariedade e vontade de fazer o bem, tanto de seus moradores e apoiadores, quanto de pessoas que doam suprimentos ao espaço. A ocupação não recebe nenhuma verba municipal ou do estado para seu mantimento, “O coletivo é movido por três pressupostos básicos, ação direta, autodeterminação e autogestão”, comenta Glauco.

O prédio é localizado na rua Benjamin Constant 1327, e quando perguntado sobre a cozinha solidária, Glauco enfatizou a importância da ocupação desse prédio que antes era motivo de medo e hoje se tornou um ponto de resistência e combate à fome. Glauco é morador da atual “Rua Benjamin Constant” a mais de 40 anos, contou que antigamente a rua se chamava “Rua da Indigena” e acredita no enorme significado que esse lugar tem para o Porto e para a cidade. Ele acrescenta que sem as ações vindas dos próprios moradores em ocupar e revitalizar o lugar, não haveria movimentação nenhuma do poder público para ressignificar o atual quilombo, “se não fosse a autodeterminação de entrarmos aqui, a ação direta de nós catar telha, catar porta e janela, e nós mesmos resolvermos o problema desse imóvel que estava abandonado, isso nunca ia acontecer, o Estado nunca ia fazer isso, o Estado inclusive foi quem deixou o imóvel em situação de abandono”.

O Kilombo Urbano se denomina um coletivo ou movimento anarquista, ou seja, tudo que é produzido pelo quilombo é gerido pelas pessoas que fazem parte e convivem ali. Para colaborar basta entrar em contato pelo Instagram: @ocupacantodeconexaoo; ou ir até a sede, toda ajuda é bem-vinda.