Projeto

O Projeto PlaceAge, que se desenvolveu de 2016 a 2019 no Brasil, mostra que a concentração da população nas áreas urbanas é alta no país. Um terço da população brasileira vivia em cidades em 1945, mas em 2019 essa proporção passou para 87%. Portanto, é necessário mudar a realidade do idoso no contexto urbano, oferecendo oportunidades para que ele se sinta integrado à sociedade durante toda a sua velhice.

De acordo com estudos da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), a América Latina é uma das regiões mais envelhecidas do mundo. Enquanto alguns países europeus demoraram 150 anos para se adaptar ao aumento de 10 a 20% da população idosa, países como o Brasil terão que se adaptar em menos tempo. Uma das principais constatações da Divisão Populacional da ONU é de que os países desenvolvidos primeiro enriqueceram para depois envelhecerem, entretanto os países em desenvolvimento vão envelhecer na pobreza. Portanto, não é possível aplicar as políticas públicas de envelhecimento dos países desenvolvidos nos países mais empobrecidos, que já enfrentam grande desigualdade social entre parcelas da população. É importante reconhecer que as necessidades de 90% da população brasileira se concentram na base da pirâmide de necessidades de Maslow: as necessidades fisiológicas, que representam aquelas relacionadas ao organismo, como alimentação, sono, abrigo, água e excreção, e as de segurança que aparecem após o suprimento das necessidades fisiológicas e são representadas por necessidades de segurança e estabilidade, como proteção contra a violência, proteção para saúde e recursos financeiros. Dentro desse contexto, os resultados do Projeto PlaceAge indicaram que no Brasil as políticas públicas para a terceira idade devem atender as seguintes temáticas na seguinte ordem de prioridade, para o desenvolvimento de comunidades amigas do envelhecimento: (i) Saúde e Qualidade de Vida; (ii) Segurança Urbana; (iii) Memória, Identidade e Senso de Lugar; (iv) Caminhabilidade, Mobilidade e Acessibilidade; e (v) Espaços Públicos, Lazer e Turismo. Em todas as temáticas, a principal ação se relaciona a promoção de atividades de cunho coletivo no bairro, de forma a agregar as pessoas e evitar a depressão e o isolamento. Nessa perspectiva, o que fazer para acolher e dar suporte aos idosos durante a pandemia do COVID-19, no momento em que a orientação geral é `fiquem em casa?`.

Apesar do que sabemos sobre o que é necessário para garantir o bem-estar físico, mental e social da população na terceira idade, não há evidências explorando os impactos de eventos repentinos, como a pandemia do COVID-19,  na vida das pessoas idosas. Embora se saiba que os idosos são mais vulneráveis a eventos de crise, como por exemplo, mudanças climáticas, crises sanitárias e humanitárias (Almazan et al, 2019), faltam pesquisas para explorar os impactos das pandemias no bem-estar dos idosos. A pandemia do COVID-19 levantou questões específicas em termos de acesso à recursos para apoiar o bem-estar físico, mental e social das pessoas idosas, com algumas evidências demonstrando que as comunidades adotaram capacidades adaptativas e estratégias de proteção, por exemplo: voluntários e grupos de ajuda mútua para apoiar as pessoas idosas. No entanto, aqueles que vivem sozinhos ou sem acesso a esses apoios geralmente permanecem desconectados e isolados, particularmente aqueles sem tecnologia ou habilidades digitais (Center for Aging Better, abril de 2020). Em resposta ao COVID-19, várias intervenções foram propostas para impedir que os idosos contraíssem o vírus, incluindo ordens de “ficar em casa”, distanciamento e isolamento social, mas sem explorar como isso impactaria nas rotinas diárias, na capacidade de permanecer socialmente conectado e de receber os cuidados de saúde de que necessitam (Public Health England, 2020). No mundo, medidas de distanciamento social foram implementadas com níveis variados de apoio, onde fatores econômicos, urbanos, sociais e culturais impactam na adesão. Por exemplo, o distanciamento social é particularmente complexo em áreas de alta densidade e baixa renda como nas favelas no Brasil. Além disso, não se pode tentar simplesmente adotar as medidas de combate a pandemia, aplicadas em países ricos, em países como o Brasil, onde não existe políticas nacionais de renda mínima e um `lockdown` prolongado pode levar várias parcelas da população à miséria. Também, medidas de higiene indicadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como `lavar as mãos com frequência` se torna utópica em comunidades que não possuem banheiro nas residências. É importante entender o contexto social de cada comunidade e propor políticas públicas para atender suas necessidades durante e pós-pandemia.

É urgente entender melhor as experiências de idosos que vivem em diferentes contextos sociais para produzir uma base de evidências que possa criar intervenções destinadas a apoiar o bem-estar físico, mental e social durante e após eventos de pandemia. É importante compreender como o bem-estar físico, mental e social dos adultos mais velhos é afetado pela pandemia do COVID-19 para projetarmos intervenções urbanas socialmente apropriadas e não utópicas. Ao abordar essa lacuna, este projeto busca entender melhor como a pandemia é vivenciada, compreendida e negociada pelos idosos no Brasil, um país que faz parte do grupo LMICs (Low and Middle Income Countries) e em 2021 se caracteriza como epicentro mundial da pandemia do COVID-19. Busca-se propor intervenções urbanas destinadas aos desenvolvimento de cidades e comunidades amigáveis do envelhecimento e resilientes à futuras crises sanitárias e humanitárias.

A exploração das experiências do COVID-19 entre idosos residentes no Brasil permitirá uma análise comparativa dentro e através de diferentes contextos nacionais e comunitários em termos de como as respostas institucionais à pandemia afetam as pessoas mais velhas. Ao fazer isso, a pesquisa oferece uma oportunidade única para explorar como as comunidades podem ser apoiadas para abordar diversos contextos sociais e estruturas de políticas e práticas em tempos de pandemia.

Esta proposta baseia-se em parcerias de longa data que os líderes do projeto desenvolveram com organizações acadêmicas e não acadêmicas no Reino Unido e Brasil, explorando a relação entre envelhecimento, urbanização e comunidades, criando, assim, os vínculos institucionais para garantir o sucesso da pesquisa e estabelecer caminhos de impacto.