Metodologia

Para gerar um senso de envolvimento da comunidade e fundamentar a pesquisa a partir da percepção dos idosos, é adotada uma abordagem de pesquisa participativa baseada na comunidade. A psicologia ambiental e os conceitos de percepção e cognição, bem como de avaliação do ambiente pelo usuário são aplicados nesta investigação com o objetivo de compreender as consequências a curto e longo prazo da pandemia do Covid-19 sobre o processo de envelhecimento no Brasil. Até 2019, o Brasil promovia através de diferentes ações institucionais e privadas o envelhecimento saudável e ativo. Os resultados do Projeto PlaceAge no Brasil identificaram a importância de diversos grupos de apoio à terceira idade liderados por igrejas, grupos comunitários e instituições públicas como os CRAS (Centro de Referência da Assistência Social). Esses grupos organizavam atividades em centros comunitários e espaços públicos, tais como ginástica para a terceira idade, aulas de artesanato, culinária e atividades de emprego voluntário. Porém, com a chegada da pandemia em 11 de março de 2020 no mundo e no Brasil, todas essas atividades coletivas foram suspensas e os idosos, principalmente os mais vulneráveis, ficaram sem o apoio da comunidade. As medidas de isolamento social, extremamente importantes para controlar a disseminação do vírus, promoveram situações de isolamento, que precisam ser estudadas a partir das falas dos grupos afetados. Portanto, o desenvolvimento da metodologia do Projeto parte da premissa que métodos participativos quantitativos e qualitativos são fundamentais para alcançar os objetivos desta investigação.

O projeto inclui três Pacotes de Trabalho vinculados. Durante a execução da pesquisa estaremos acompanhando as medidas adotadas pelos governos locais e nacionais de distanciamento social. A princípio os métodos foram planejados para serem aplicados totalmente de foram remota devido a pandemia. Os protocolos de saúde são respeitados durante todo o processo para garantir a segurança dos pesquisadores e participantes.

Pacote de trabalho 1 – Conhecendo o Bem-estar Social (2021): O projeto aplica de forma online, no seu primeiro ano, os seguintes métodos quantitativos e qualitativos para atender aos objetivos do estudo – questionários, diários fotográficos e entrevistas semiestruturadas. Busca-se identificar as oportunidades e as barreiras que a cidade, a comunidade e a habitação oferecem aos idosos na execução de suas atividades diárias durante a pandemia, incluindo os desafios para o alcance do bem-estar físico e mental. Esses métodos exploram como os idosos negociam o acesso a espaços urbanos, serviços de saúde e bem-estar, redes sociais de vizinhança, conectividade social, experiências de moradia e casa, negociam mobilidade e transporte e acessam formas de participação social e engajamento cívico durante a pandemia.

A amostra para os questionários e diários fotográficos é constituída por residentes de cidades de qualquer região do Brasil, sendo composta por diferentes várias faixas etárias (50 a 60; 61 a 70; 71 a 80; 81 anos ou mais), estratificadas por sexo, tipologias domésticas (por exemplo, morando sozinhas, famílias, casais) e mobilidade (dificuldades de baixa à severa na realização das atividades diárias). Ao final de cada diário fotográfico uma entrevista é realizada, a fim de que se compreenda a importância das fotos feitas pelos idosos e se conheça a narrativa da imagem, revelando aspectos do bem-estar social dentro do contexto do local.

Para as entrevistas semiestruturadas, selecionamos aqueles que são responsáveis por administrar apoios à idosos durante a COVID-19, incluindo governo local e nacional, ONGs, organizações comunitárias e organizações locais, e órgãos responsáveis pela coordenação das respostas ao COVID-19. O objetivo das entrevistas é identificar as ações que existem, ou precisariam existir, no Brasil para apoiar o bem-estar social dos idosos durante o COVID-19, de forma a garantir o bem-estar físico, mental e social desse grupo.

Pacote de Trabalho 2  – Geo-referenciando o Bem-Estar Social  (2022): No segundo ano do Projeto, todos os dados obtidos no Pacote de Trabalho 1 são mapeados na plataforma ArcGis Online, para que as informações sejam espacializadas e conectadas às características urbanas e sociais de cada região do Brasil.

Pacote de Trabalho 3 – Projetando para Comunidades Amigas do Envelhecimento (2023): No último ano do Projeto é desenvolvido, em forma de `Policy Brief`, um conjunto conciso de informações que podem ajudar os gestores públicos a compreender e tomar decisões sobre  políticas governamentais voltadas à comunidades resilientes na situação de pandemias e outras crises humanitárias. O Pacote de Trabalho 3 foi desenvolvido para traduzir as descobertas do PT1 e do PT2 em diretrizes e políticas locais e nacionais, práticas urbanas e ferramentas para apoiar o bem-estar físico, mental e social dos idosos durante e depois de uma pandemia. Essa etapa envolverá um Fórum Nacional de Políticas e Práticas (10 a 15 participantes) com (i) formuladores de políticas públicas urbanas e profissionais responsáveis por fornecer apoio aos idosos; (ii) agências ou órgãos de caridade envolvidos com idosos; (iii) organizações voluntárias e comunitárias; e (iv) idosos e grupos de defesa ao idoso. A ênfase aqui é discutir respostas comunitárias e institucionais específicas ao COVID-19, especificamente em termos de como comunidades resilientes podem ser planejadas para garantir o bem-estar físico, mental e social dos idosos nessa e em futuras pandemias. Os resultados produzirão uma série de recomendações e diretrizes sobre como os formuladores de políticas públicas podem oferecer apoio aos idosos. Os resultados constituem um conjunto de ferramentas, que inclui diretrizes e recomendações para gestores públicos sobre como implementar intervenções para apoiar o bem-estar dos idosos em vários contextos urbanos durante uma pandemia.