Kaique Cangirana/Superávit Caseiro
O estado do Rio Grande do Sul se destaca em diversas de suas regiões na geração de riquezas e atratividade na oferta de produtos e serviços. Analisar a complexidade da economia gaúcha é reconhecer os determinantes únicos do turismo, agronegócio, construção civil, da indústria, dos pólos acadêmicos e empresariais, além de relacionar o seu impacto na empregabilidade e oportunidades com fluxos de pessoas atuando entre centros urbanos e rurais.
O Arranjo Populacional de Porto Alegre é o mais influente do estado, registrando o maior número de fluxos internos (entre cidades) e externo (entre territórios de outros estados). Essa influência destaca Porto Alegre com a maior média de população dos centros de gestão empresarial segundo o nível de centralidade de gestão empresarial das cidades, por amplitude do índice de centralidade das instituições financeiras e segundo as classes de centralidade em 2019. A liderança da capital gaúcha é exemplificada pelo estudo de Regiões de Influência das Cidades (REGIC) no gráfico a seguir:
Os fluxos de mão de obra qualificada e investimentos que vão em direção a capital e região metropolitana, acontecem a partir das chamadas “cidades universitárias” que possuem polos acadêmicos como parte de sua atratividade e oportunidade de desenvolvimento econômico a partir da capacitação. O Superávit Caseiro listou cidades do interior com a presença de universidades públicas e suas características no REGIC. São elas: Pelotas, Rio Grande, Bagé e Santa Maria.
Segundo dados da última publicação das Regiões de Influência das Cidades (REGIC) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Santa Maria lidera no Índice de Atração Geral e Índice de atração temática para ensino superior, seguida por Pelotas, Rio Grande e Bagé.
No índice de Classe de centralidade de atividades financeiras, Santa Maria se junta a Rio Grande na liderança com 6 pontos; Pelotas e Bagé empatam em 5 pontos entre as cidades universitárias do interior (REGIC 2018). Marcelo de Oliveira Passos, economista e professor de Ciências Econômicas na Universidade Federal de Pelotas, explica a relação dos setores da economia na atração de mão de obra nas regiões gaúchas:
“As cidades com maior atratividade têm uma estrutura produtiva mais complexa, mais diversificada e com os três setores atuando de forma mais homogênea: o setor primário (agropecuário), setor secundário (industrial) e o setor terciário (comércio e serviços). Cidades como Porto Alegre, Caxias, da região metropolitana e da Serra, têm maior potencial de atração, tanto de investimentos quanto na geração de empregos, e geração de melhores empregos. Porque os empregos do setor primário possuem remuneração mais baixa, enquanto o setor também está cada vez mais intensivo com o uso de tecnologia. Logo, está desempregando mão de obra. Essa mão de obra desempregada pelo setor primário, vai buscar empregos de melhor remuneração e que não exigem tanta qualificação, justamente no setor secundário e também no setor de serviços e comércio, o terciário. Logo, isso explica a atratividade de cidades como Porto Alegre e regiões com grandes registros de fluxos financeiros e empresariais que também se espalham pelo estado”, explica o professor.
Além da influência do Arranjo Populacional de Porto Alegre, as populares “cidades universitárias” marcam presença no Interior do Rio Grande do Sul e qualificam grande parte da população que migra para grandes centros de gestão empresarial e centralidade das instituições financeiras. O Superávit Caseiro levantou dados das principais universidades das cidades listadas no interior do estado para avaliar a sua influência independente. A lista de instituições, por cidades, é:
Santa Maria (Universidade Federal de Santa Maria – UFSM)
Pelotas (Universidade Federal de Pelotas – UFPel)
Bagé (Universidade Federal do Pampa – Unipampa Campus Bagé)
Rio Grande (Universidade Federal de Rio Grande – FURG)
Para tal levantamento, foram incluídas apenas as cidades onde ficam as sedes de cada universidade, pois algumas possuem extensões em outros campi, como a Unipampa de São Borja ou a UFSM de Frederico Westphalen e Palmeira das Missões, por exemplo. O Repasse orçamentário para Instituições de Ensino Superior do Estado realizado pelo Ministério da Educação (MEC) em março de 2023 também reflete a diferença no desenvolvimento e atratividade das regiões. Confira a lista decrescente de repasses por instituição superior:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 54,5 milhões
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – 32,4 milhões
Universidade Federal de Rio Grande (FURG) – 20,6 milhões
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – 11,7 milhões
Universidade Federal do Pampa (Unipampa) – 11 milhões
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) – 7,4 milhões
Marcelo de Oliveira Passos também destacou as unidades de ensino superior no estabelecimento dos pólos regionais no interior do estado:
“Normalmente, as pessoas procuram um emprego numa cidade maior, que absorva mais mão de obra e que esteja perto de suas famílias. Então, isso explica também a criação de diversos pólos regionais. Cidades como Santa Maria, Caxias e na região da Serra, por exemplo. Aqui no caso de Pelotas, também há destaque em relação às cidades vizinhas. Algumas cidades como Santa Maria, Rio Grande e Pelotas, que têm pólos universitários públicos e privados, também se destacam por esse motivo, as cidades universitárias são atrativas. Então, isso tudo gera demanda para comércio e serviços nessas cidades, o que acaba atraindo empregos e oportunidades”, avalia.
O Produto Interno Bruto (PIB), riqueza proveniente da arrecadação da união, unidades federativas e municípios registra convergência correlacional em relação ao número de negócios no estado do Rio Grande do Sul segundo dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no gráfico a seguir:
Ou seja, temos: Porto Alegre (R$ 81.562.848,00); Rio Grande (R$ 13.282.154,00); Pelotas (R$ 10.778.119,00); Santa Maria (R$ 9.562.027,00) e Bagé (R$ 3.748.409,00).
Avaliando a geolocalização das cidades analisadas, percebe-se no mapa abaixo, além da capital, a aproximação do desempenho econômico destacado de cidades universitárias no sul do estado:
Dados do Empresa Aqui demonstram uma correlação proporcional do número de empresas ativas registradas e a geração de riqueza das cidades analisadas.
Porto Alegre – 258.340
Pelotas – 43.736
Santa Maria – 37.366
Rio Grande – 21.875
Bagé – 12.034
O montante faz parte das mais de 1,7 milhão de empresas registradas na Junta Comercial do Estado e diferente do ranking de riquezas por PIB, demonstra que Rio Grande gera mais riquezas que Pelotas, mesmo com um menor número de negócios inferior a metade do registrado na Capital Nacional do Doce. Vale ressaltar, além dos recursos advindos das empresas, as diversas outras formas de arrecadação e geração de riquezas como tributos e exportações.
Danillo Rocha, Cientista da Computação e CEO do Empresa Aqui, explica a concentração na distribuição de empresas no interior do estado e principalmente na região metropolitana, responsável pelo maior registro de negócios.
“Hoje tem um pouco mais de um milhão e meio de empresas ativas no estado do Rio Grande do Sul, dessas, mais de 250 mil estão em Porto Alegre e mais de meio milhão estão na grande Porto Alegre (região metropolitana). Praticamente 30% do montante da concentração empresarial do estado está na pequena região metropolitana, que não abrange tantos municípios assim na grande Porto Alegre, isso capta muita mão de obra de pequenos locais afastados no estado, o que ocasiona uma visualização de um cenário onde a concentração econômica está mais próximo de uma região específica. Essas demais regiões com fluxos emigratórios, de onde saem as pessoas para poder ir para região metropolitana, tendem a não ter uma concentração econômica fixa” explica.
“Se analisarmos, por exemplo, o cenário de faturamento empresarial que fica mais ou menos em torno de 100 a 200 mil reais por empresa média, isso num cenário bem baixo, teríamos uma concentração de 250 mil empresas apenas em Porto Alegre. Estamos falando de 25 milhões de reais de geração empresarial mensal só na capital, isso gera mais emprego com a captação de mão de obra e traz mais assertividade na busca por novos negócios para essa região metropolitana”, finaliza.
Por mais que a urbanização e industrialização sejam condicionantes históricos para o fluxo de pessoas em busca de oportunidades em capitais e grandes cidades metropolitanas, os dados são capazes de identificar as especificidades que cada cidade pode oferecer em atratividade para trabalhadores e empresários que desejam aproveitar os espaços oportunos na economia gaúcha. A capacitação e acesso ao ensino superior é apenas uma parte do processo e de todo o potencial que o estado prova que pode ter com grandes atividades aquecidas em todos os setores.