Na noite desta sexta-feira foi realizada pelo Jornal Nacional (JN) da Rede Globo a última da série de entrevistas com os quatro candidatos à presidência da República mais bem classificados na pesquisa Datafolha de 28 de julho. Após Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) serem entrevistados por William Bonner e Renata Vasconcellos, essa foi a vez de Simone Tebet (MDB) participar do telejornal ao vivo. Assim como foi feito com as demais entrevistas, o Superávit Caseiro separou para você o que a candidata falou sobre o tema Economia.

[…]

William Bonner – Vamos falar de economia? A senhora, no seu programa, a senhora promete criar um programa permanente de renda, erradicar a miséria, zerar a fila do SUS, construir um milhão de casas. Mas o que se sabe: o ambiente econômico do próximo governo, do próximo presidente, quem ocupar o Palácio no ano que vem, seja quem for, vai ter um ambiente econômico hostil, de desequilíbrio das contas. Como é que essa conta vai fechar com esses gastos que a senhora está planejando?

Simone Tebet – Muito simples: nós temos o melhor time, a melhor equipe dos economistas liberais do Brasil. Então nós temos um compromisso fiscal, mas como meio para se alcançar a responsabilidade social. A agenda prioritária, o eixo do meu governo são as pessoas, a agenda social: erradicar a miséria, diminuir a pobreza e acabar com a fome no Brasil. É inadmissível um Brasil que alimenta o mundo, nós alimentamos o planeta Terra, e nós temos a incapacidade de alimentar os nossos filhos. Hoje, quando nós sairmos daqui, cinco milhões de crianças vão dormir com fome no Brasil. Nós não podemos admitir isso. Pode faltar dinheiro para qualquer coisa, mas não pode faltar dinheiro para acabar com a miséria. A pobreza nós vamos diminuir, a miséria nós vamos acabar. De que forma, Bonner? De trás para frente na sua colocação: um milhão de casas são 250 mil casas para famílias de até um salário mínimo e meio. Quanto isso custa, lembrando que o município dá o terreno, a estrutura, e a União entra, com a Caixa Econômica, com esse valor subsidiado? Exatamente o valor do orçamento secreto por ano. Nós chegamos a essa conta só acabando com o orçamento secreto. Em relação à transferência de renda permanente, isso já está aí, está precificado, o mercado já sabe que nós vamos ter que, o ano que vem, extrapolar o teto nesse valor de algo em torno de 60 bi para cobrir essa transferência de renda, porque, de novo, não é admissível nós não garantirmos pelo menos 600 reais para quem tem fome; 600 reais ele come, mas não paga o aluguel, e quem está nos ouvindo, as nossas mães sabem disso. E você falou de zerar as filas. Aí outra coisa que eu acho muito importante. O governo abriu calamidade pública, estabeleceu que tudo era calamidade pública para gastar dinheiro que não tem, para emitir títulos, para furar teto em cima de… para fazer orçamento secreto, para cobrir gastos que não são gastos da pandemia. Eu te pergunto: quais são as duas sequelas da pandemia? O que mais nos chocou, além das mortes prematuras dos nossos entes queridos? O nosso déficit na grade curricular das nossas crianças. Dois anos das crianças pobres, nas escolas públicas, sem estudar, sem saber ler e escrever, e as filas intermináveis, hoje, de consultas, e exames, e cirurgias. Pessoas estão morrendo com câncer avançado de próstata e de mama porque não puderam fazer exames. Então, por que eu estou dizendo isso? Eu estou dizendo que isso sim nós podemos decretar, dar continuidade, estado de calamidade, ou estado de emergência, para fim de… porque dinheiro tem; às vezes não tem o teto… para fim de dizer para o prefeito: cumpra a sua parte, faça os exames, mande a nota e nós vamos pagar. Então, em dois anos, não em um, nós zerarmos essa fila do passivo; não são as filas permanentes das sequelas da COVID.

William Bonner – Nós estamos falando de medidas, de iniciativas que consomem, exigem dinheiro, exigem investimento. A senhora mencionou aí, por exemplo, o orçamento secreto, mas o orçamento secreto não está nas mãos do presidente, ou da presidente, está nas mãos do Congresso, é uma questão a se resolver. O eleito terá que convencer o Congresso a abrir mão do poder que tem hoje com o orçamento secreto, cerca de 20 bilhões de reais, mas independentemente disso, chama atenção no seu plano de governo que a senhora manifesta diversas intenções, com termos como: “Vamos ampliar certa coisa”, “Vamos acelerar isso”, “Vamos reforçar aquilo”, “Promover isso e aquilo”. Faltam 37 dias para as eleições, hoje. Não tem como a senhora ser mais específica, detalhar mais esses planos para que o eleitor possa avaliar, não apenas a pertinência, mas a capacidade de executar esses planos que a senhora está falando?

Simone Tebet – Sem dúvidas, a campanha começa agora, e começa hoje. Eu sei da responsabilidade que tenho de estar aqui, e nós vamos estar no horário eleitoral falando disso, mas nós estamos colocando números. Um milhão de casas, zerar a fila das cirurgias atrasadas em dois anos, nós vamos e vamos estender mais, eu vou governar olhando para o futuro: criança e adolescente é o centro do nosso governo.

William Bonner – Mas como fazer isso, candidata?

Simone Tebet – Vamos lá. Orçamento secreto. Não é com diálogo só, é com transparência, com um único ato, uma portaria, exigindo que todos os ministros abram as contas de seus ministérios. Na hora em que a população ver o Ministério Público, o Tribunal de Contas, ver, por exemplo, que a maioria desses recursos estão indo para os municípios mais pequenininhos. Por que está indo no município mais pequenininho, onde não tem imprensa? Por que não está chegando serviço lá? Quem é que foi que mandou? Chegou o dinheiro? Dou um exemplo que parece uma anedota, mas fique, quem sabe, registrado hoje como, pode até ser que vá virar meme depois disso: uma cidade para poder receber muito dinheiro do orçamento secreto, disse, para aumentar o teto, que extraiu 14 dentes de cada boca de cada habitante do seu município. É a cidade mais banguela do planeta. Quatorze dentes, do bebê ao idoso de 90 anos. É a cidade mais banguela do Brasil. Para quê? Para receber dinheiro e emitir nota fria. Não é volta de 10%, é 100% embolsado, dinheiro que vai para o bolso e que está tirando dinheiro de vocês. Dinheiro do remédio que não tem no posto, na creche. A partir do momento que a gente abre essas contas, a gente basicamente coloca os órgãos de fiscalização e controle, e o orçamento secreto acaba rapidinho.

William Bonner – Vamos lá: erradicar a miséria no Brasil. Não é um tema de que alguém possa vir a discordar. Não se imagina ainda um cidadão no Brasil que discorde de uma medida como essa, mas para executar isso, de quanto a senhora precisa? Qual é o valor, o tamanho da conta para executar isso? Lembrando mais uma vez da pergunta que lhe fiz sobre as dificuldades de equilíbrio orçamentário para o ano que vem. Essa gestão comprometida.

Simone Tebet – Eu sou relatora de um projeto chamado “Lei de Responsabilidade Social”, feito pelos maiores economistas liberais do Brasil, que já foram ministros, presidentes de Banco Central, do senador Tarso Jereissati. Nós temos uma meta de, em quatro anos, erradicar a miséria. Foi desse projeto. Se hoje está uma média de 4%, ele vem? quando a gente fala erradicar, é chegar a 1%, 0,5%. Ninguém erradica absolutamente. Mas 1% é menos do que a média dos países desenvolvidos no mundo. De 4 para 3,5; para 3; 2,5; 2, mas a gente começa depois a crescer. Esse projeto, que está organizado, ele depende de duas coisas que estão acontecendo: reforma tributária e o Brasil voltar a crescer. Quando o Brasil voltar a crescer e gerar emprego, você também diminui. Então, não erradicar a pobreza é só com dinheiro público. Erradicar a pobreza não é dando só transferência de renda, é dando peixe e ensinando a pescar. Inclusive, a nossa transferência de renda vem com condicionantes. Nós temos, se vocês me permitirem, nós temos, Renata e Bonner, meio milhão de anjos da guarda no Brasil. Sabe o que é isso? Meio milhão de anjos da guarda no Brasil? São os assistentes sociais e agentes comunitários de saúde que fazem por amor aquilo que eles fazem. Eles entram nas casas e vão ver se a criança está sendo vítima de pedofilia, se a mãe está sendo espancada, se ele está na escola, se a vacina está em dia, e nos ajuda a incluir no mercado de trabalho. Quando nós falamos em erradicar a miséria é: de um lado, garantir a transferência de renda para quem está precisando, isso vai cair, à medida em que ele vai entrando no mercado de trabalho; do outro lado, é a garantia de escola de qualidade. O filho do pobre que está na escola pública tem que ter, e vai ter, a mesma qualidade de ensino da escola privada; e, nesse aspecto, a união tem que parar de jogar essa conta para os estados e municípios. Educação é nossa responsabilidade. Eu, como professora, não tenho como pensar diferente. Então, de que forma nós vamos erradicar a miséria nesse aspecto, além da transferência de renda? É preparar o Brasil para o futuro. Daqui dez anos, Deus nos livre, mas se vier uma pandemia, uma guerra, se houver uma crise, essa geração está preparada. Ela não vai ser mandada embora. Ela vai estar preparada porque ela está com uma educação de qualidade. Nesse aspecto, nós vamos cuidar da primeira infância, garantido pelo Fundeb. Aí tem dinheiro do Fundeb. Nós já dobramos, já está aprovado no Congresso. Educação tem dinheiro. Não falta dinheiro para a Educação, falta vontade. Ninguém quer educar o povo porque quer o povo no cabresto para, na hora do voto, poder, através de uma transferência de renda, comprar voto. Eu quero povo cidadão, eu quero povo que escolha os seus eleitores independentemente de partido, mas de acordo com a sua consciência. Ele não faz isso sem educação. Então, nós vamos garantir 100% das vagas, que é isso que diz a lei, e o dinheiro já está lá, para crianças na creche, de quatro a cinco; e, no ensino médio, nossos jovens não podem mais ficar sequestrados pelo crime organizado, pelas drogas. O ensino médio vai ter aluno dentro, com conexão da Internet, aprendendo, já um ofício com ensino técnico. E nisso, você não falou, foi generoso, mas ainda tem uma outra conta para eu pagar, chamada “poupança jovem”, mas se quiserem, que é depositar um dinheirinho na conta do aluno todo ano até o término do ensino médio.

William Bonner – A senhora mencionou a reforma tributária.

Renata Vasconcellos – A gente vai voltar a falar também de educação, mas a senhora falou da necessidade de se fazer uma reforma tributária. E o imposto de renda, qual é o seu plano?

[Simone Tebet]: Nós temos três reformas tributárias importantes no Brasil, mas a mais importante hoje é do consumo, Renata. Porque quem mais paga imposto no Brasil é o pobre, é o que mais consome. Proporcionalmente a renda, quanto você deixa no supermercado? Quanto eu deixo no supermercado? Quanto o pobre deixa no supermercado? Ele deixa metade, um pouco mais da metade do salário dele no mercado. Então, a reforma tributária mais emergente, que está pronta para votar no Congresso Nacional, só não votou porque o presidente não quis, que nós tentamos votar na Comissão de Constituição e Justiça, por isso que eu digo que dá para votar seis meses no ano que vem, porque a gente vota esse ano ainda, se eu for eleita, no Senado, e o ano que vem na Câmara, ela mexe exatamente com isso. Nós estamos desburocratizando, simplificando, as empresas vão ter um por conta disso, vão ter uma economia de 60 bilhões de reais por ano, porque hoje usam para entender a máquina, a legislação com contador, com advogado, com administrador, isso vai ser circular na economia para abrir mais porta de emprego, gerar emprego e renda. Mas indo para o lado do mais pobre, ele vai contar e vai ter devolvido no sistema, isso não é um projeto nosso, já está lá há dois anos e todos os governadores concordaram, todos os governadores pela primeira vez na história, e esse projeto vai depois devolver o imposto que a dona de casa mais humilde paga, no próprio CadÚnico, no próprio cartão dele.

Renata Vasconcellos – Só para entender com relação ao imposto de renda que eu lhe perguntei. Quais são seus planos, a gente tem cinco faixas, né, os isentos e mais quatro. O que que muda?

Simone Tebet – Nós temos que garantir mais espaço para a classe média. Ou seja, nós temos que fazer com que classe média possa não pagar o imposto de renda, para isso só tem um caminho: tirar dos mais pobres e pedir para os mais ricos. Eu sou a favor da taxação do lucro e dividendos, e essa é uma discussão madura que nós temos com todo o equilíbrio, mas com toda a verdade, colocar para a população. Eles já sabem disso, isso está no nosso programa, e a gente mexe na tabela de imposto de renda à medida em que cobra essa taxa de lucros e dividendos dos ricos, é a lei “Robin Hood”, mas nós não vamos roubar de ninguém, nós só vamos pedir a eles que contribuam minimamente para o país, que é o país mais rico do mundo com o povo mais pobre.

Renata Vasconcellos – Mas a senhora corrigiria também a tabela, por exemplo, para aumentar a isenção dos isentos, por exemplo? Aumentar o número de isentos, por exemplo?

Simone Tebet – Sim, sim. Alcançar o máximo possível a classe média, isentar o máximo possível essas tabelas, essas faixas. E a partir daí, a dosagem vai depender, porque eu não vou cometer estelionato eleitoral, ninguém vai aqui não colocando números, os nossos economistas estão colocando tudo no papel, porque a única coisa que eu tenho é meu nome e minha história, não venho para mentir em rede nacional, nós vamos mexer na tabela.

Renata Vasconcellos – Só queria saber quanto cada faixa vai pagar.

Simone Tebet – Não, aí nós vamos ter que ver dados, porque essa é uma pergunta importante. Por que o orçamento brasileiro está na mão do Congresso? Porque nós temos um governo que não planeja nada, ele não sabe aonde quer chegar, ele não sabe para onde quer ir, não tem projeto de país. E com isso, o dinheiro fica solto, todo mundo vai lá e pega um pouquinho, é um puxadinho, daqui a pouco essa casa cai, porque o alicerce, que é a base, não foi feito o dever de casa, não sabe o orçamento. A dona de casa sabe. Pergunta o que ela faz com o pouquinho de dinheiro que ela ganha. Primeiro ela compra comida, depois ela paga o aluguel, se der, ela paga as contas, só aí ela vai fazer o lazer. É assim também quando se administra um país, você elege prioridades e vai dentro do possível adequando.

[…]