Ao contrário do prometido em campanha, governo Bolsonaro apresenta maior defasagem no IR. Com isso, brasileiros pagam mais impostos

O governo Jair Bolsonaro bateu mais um recorde negativo no campo econômico. Mesmo tendo como uma das principais bandeiras a redução de impostos durante a campanha de 2018, a defasagem da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física (IR) atingiu o pior patamar desde o início da série histórica, que começou em 1996. Até agora, em três anos e três meses, a defasagem chegou aos 24%. Nenhum outro governo havia chegado aos 20% em um único mandato desde a implementação do Plano Real e da mudança do cálculo da tabela.

Os dados são do Sindifisco Nacional e, conforme o jornal Folha de S.Paulo, mede a defasagem por mandato presidencial tendo como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial da inflação medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A tabela é utilizada para o cálculo do desconto do Imposto de Renda de aposentados, trabalhadores e contribuintes em geral. Há faixas de rendimentos utilizadas para esse cálculo com certa alíquota e parcela a deduzir. Se esses índices não são reajustados e a inflação avança, os brasileiros pagam mais impostos e o número de isentos reduz, empobrecendo ainda mais a população.

Exemplo citado pela reportagem da Folha de S.Paulo aponta que hoje, quem tem renda de R$ 2.000, é tributado na fonte na faixa de 7,5%. Caso a tabela fosse reajustada conforme a proposta de reforma do Imposto de Renda, essa pessoa estaria isenta. O mesmo ocorre com quem ganha mais. Uma pessoa com renda de R$ 3.000, ainda conforme a reportagem, passaria a ser tributado em 7,5%, em vez dos 15% que incidem atualmente. Ou seja, o imposto a pagar cairia de R$ 95,20 para R$ 37,50, de acordo com os cálculos do Sindifisco.

Já uma projeção para esse ano feita pela entidade aponta que se a reformulação da tabela não ocorrer, a defasagem nos quatro anos de mandato de Bolsonaro atingirá a incrível marca de 28%. Antes disso, a maior defasagem havia ocorrido no primeiro e segundo mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Porém, ainda no segundo mandato, a equipe econômica trabalhou para evitar a indexação de preços, que colocaria em risco a estabilidade do Plano Real. Já no primeiro mandato, a defasagem foi de 17,19% e chegou aos 18,99% no segundo mandato de FHC.

Defasagem da tabela do IR por governo

1996 a 1998 (FHC 1): 17,2%

1999 a 2002 (FHC 2): 19,0%

2003 a 2006 (Lula 1): 7,9%

2007 a 2010 (Lula 2): 2,5%

2011 a 2014 (Dilma 1): 6,5%

2015 (Dilma até início do processo de impeachment): 4,8%

2016 a 2018 (Temer): 13,5%

2019 a 2021 (Bolsonaro)*: 24,0%

*Considera IPCA de janeiro de 2019 a março de 2022. Fonte: Sindifisco Nacional