[II SAIF] Resumos dos Minicursos: datas e horários

MINICURSOS – II SAIF/UFPel

07 DE NOVEMBRO (QUINTA) – MANHÃ (9h às 12h)

1. Princípio da ação e voluntariedade nas duas éticas de Aristóteles
Marcos Vinicius Rodrigues Brizola (Mestrando em Filosofia – UFPel)

A atividade será realizada principalmente a partir da análise das obras Ética a Nicômaco e Ética a Eudemo. Tradicionalmente os estudos aristotélicos tem se voltado mais a primeira obra citada, neste sentido pretendo trazer algumas noções desta segunda obra, apontando as semelhanças e diferenças principalmente no que tange a definição de voluntariedade e involuntariedade. Há em Aristóteles uma primeira tentativa em sistematizar a questão da moralidade de forma mais autônoma. Obviamente os escritos de seu mestre Platão foram primordiais para alguns insights do Estagirita, todavia, as reflexões acerca da moralidade do filósofo ateniense, encontradas substancialmente na República ainda estavam estritamente vinculadas à política.
O filósofo desenvolve o seu tratado baseado numa concepção teleológica de ética, postulando uma natureza humana que tem na busca pela felicidade (o sumo bem) o caminho de realização enquanto ser moral, e a felicidade é identificada pelo autor como um estado da alma em conformidade com a virtude. O indivíduo virtuoso, por conseguinte, é aquele que após a prática reiterada de ações virtuosas, “afastou-se” dos dois extremos dos vícios e adquiriu uma disposição de caráter exemplar. Para que tais ações nobres sejam possíveis de serem realizadas, é imprescindível que tais indivíduos vivam sob uma constituição justa, em uma Pólis também virtuosa. Elencadas estas condições para a aquisição de um caráter virtuoso, faz-se necessário ressaltar que nem todas as ações cumprem o pré-requisito para serem analisadas e assinaladas como virtuosas ou viciosas, mas apenas aquelas ações que são voluntárias, e é por esta razão que, após discorrer em EE II-5 que: “a virtude é aquele tipo de hábito daqueles homens que tem uma tendência para fazer as melhores ações”. Aristóteles desenvolve nos capítulos subsequentes (6-9) sua teoria da ação, pois a nossa especificidade é justamente o fato de não apenas contarmos com os nossos instintos como a capacidade de auto preservação e de reprodução de outro ser humano, mas somado a isso somos também fontes de ações.
“Nós não louvamos ou censuramos o que é devido à necessidade, ou ao destino ou à natureza, mas apenas para i que nós mesmos somos causas.” (1223ª10). É justamente devido a esta capacidade de sermos o princípio de ações, e por operarmos no âmbito da contingência que nossas ações devem ser qualificadas como virtuosas ou viciosas, o que engendrará a respectiva disposição de caráter, implicando na possibilidade de sermos moralmente responsabilizados pelas ações que fizemos, pelo caráter que dispomos, e em que nos tornamos. O ser humano aqui precisa reconhecer sua posição “intermediária” na hierarquia dos seres: Da mesma forma que somos superiores aos animais por participarmos da ação (nos termos aqui desenvolvidos) e não apenas sermos movidos pelos instintos, somos ao mesmo tempo inferiores aos deuses, pois, apesar de em certos momentos alguns de nós participarmos da atividade contemplativa, não somos autossuficientes, temos as mais diversas carências e limitações que não poucas vezes nos conduzem ao vício, seja por falta ou por excesso.

2. Consequência Lógica: interpretações influenciando a leitura de Abelardo
Luana Talita da Cruz (Doutorada em Filosofia – UFPel)

O objetivo geral será apresentar algumas das principais interpretações acerca de condicionais e consequências na lógica no período Antigo, principalmente as das escolas da Antiguidade Tardia. Partindo disso, pretende-se falar sobre a interpretação de Boécio e Abelardo acerca de consequências, resaltando a influência de Boécio assim como o contraste entre os autores. Utilizaremos esses dois autores medievais para apontar como consequências são compreendidas ao longo do medievo. Com isso, buscamos incentivar e aprofundar o estudo na área de Lógica e da Filosofia Medieval, focando, especialmente, no mapeamento histórico de um conceito que evoluiu desde Aristóteles e que é parte fundamental da lógica até hoje.

3. Sigmund Freud e Totem e Tabu: uma introdução
André Luís Fernandes Dutra (Mestrando em Filosofia – UFPel)

Uma questão que (pelo menos no Ocidente) tem sido norteadora do pensar e do agir político (incluso no político também os âmbitos da filosofia, da sociologia e do direito) é a possibilidade de serem reguladas as escolhas éticas e políticas hábeis a assegurar a paz social. No entanto, a especialização do olhar humano e a consequente fragmentação do conhecimento em áreas, campos e disciplinas distintos e, não raro, antagônicos, tem propiciado a proliferação de teorias, não, porém, de soluções. Disso decorrendo nossa atual perplexidade.
A presente proposta tem como substrato a convicção de que tal perplexidade só será dissipada por meio de um olhar que seja, ao mesmo tempo, multi e transdisciplinar e que, além disso, não se limite a ser o tradutor das inferências obtidas por um cérebro pensante que, ao pensar, o faz como se estivesse desconectado do corpo que lhe dá suporte.
Torna-se relevante, então, incorporar à reflexão filosófica, dentre outros olhares (campos do saber), também os construtos psicanalíticos, uma vez que a Psicanálise integra e contempla, a partir de seu paradigma, as dinâmicas e os componentes psíquicos que estão presentes nas organizações sociais, tanto no que se refere à formação dessas organizações (origem), quanto aos modos possíveis de convivência (mais ou menos estáveis) entre as pessoas. Isso porque, na clínica, desvela-se o humano, em todas as suas dores, angústias, alegrias, sintomas, inibições, desejos; e os pacientes são justamente os membros integrantes e constituintes da sociedade.
Sigmund Freud (1856-1939), em seus textos “culturais”, elaborou referenciais teóricos distintos daqueles da Tradição Filosófica Ocidental: nesta, proeminentes pensadores gestaram e desenvolveram a hipótese de um contrato (ou pacto) como fundamento da organização social. Para a psicanálise freudiana, entretanto, tais estruturas são fontes geradoras de angústias. Assim, se para os primeiros, a sociedade é resultante de um ato de vontade, livre e consciente, de indivíduos que abdicam reciprocamente de parte de suas liberdades em busca de segurança e proteção, para Freud, o desenvolvimento da Cultura necessariamente produz sofrimento, pois abrir mão de liberdades equivale a reprimir pulsões. E estas, embora reprimidas, raramente são canceladas; e, por conseguinte, permanecem latentes, pulsionando desejos.
O presente minicurso apresenta-se como introdução filosófica à psicanálise freudiana, visando a mostrar a potência desse olhar para o filósofo. Para tanto, será examinado o texto “Totem e tabu”, no qual Freud empreende um estudo analítico-comparativo entre os hábitos de povos vivendo (ainda) em estado selvagem e o quadro sintomático da neurose obsessiva, identificando e aproximando traços, como a correspondência do totemismo com a primeira infância e o horror ao incesto e a proibição de matar o animal totêmico (vigente entre os selvagens) com os dois desejos primordiais da criança, matar o pai e casar com a mãe, os quais constituem o ponto nodal do desejar infantil e que Freud identifica como sendo o complexo nuclear da neurose.
O minicurso consistirá na apresentação do autor, exposição dos principais aspectos e conceitos propostos na obra, leitura de excertos selecionados e reflexão sobre a questão do tabu na sociabilidade contemporânea.

4. O Último Foucault: a estética da existência, o cuidado filosófico e o conceito de desejo
Tulipa Martins Meireles (Doutoranda em Filosofia – UFPel)
Dirceu Arno Krüger Junior (Doutorando em Filosofia – UFPel)

A seguinte proposta visa trabalhar com alguns temas do pensamento filosófico de Michel Foucault, no que tange aos seus escritos da década de 1980. Em nossa atualidade, o cuidado filosófico de si e o trabalho de si sobre si (áskesis) carregam pouco ou nenhum sentido – ainda que sejam necessários e urgentes pelo caráter, neles implícitos, de uma ética de si mesmo que se apresente tanto como resistência ao exercício exacerbado do poder político, quanto como forma a dar vida. Para Foucault, apesar da aparente impossibilidade de constituir hoje uma ética do eu, ela é uma tarefa urgente e fundamental. Em um primeiro momento, abordaremos essa temática no pensamento de Michel Foucault a partir de dois cursos por ele ministrados no Collège de France: o primeiro do ano de 1982, intitulado A hermenêutica do sujeito, e o segundo do ano de 1984, intitulado A coragem da verdade. Buscaremos apresentar como Foucault constrói a noção de “Estética da existência” em seu pensamento a partir de duas abordagens – e sobretudo pensando nas relações “mais gerais” entre o sujeito e a verdade, fora do âmbito preciso da sexualidade e dos aphrodisia.Como desdobramento da respectiva questão abordara-ser-á a problemática do conceito de desejo em Foucault: o qual permanece ainda hoje como uma lacuna no arcabouço teórico de sua obra. Deste modo, como uma tentativa de localizar o referido conceito em perspectiva nos estudos foucaultianos, foram-se estipulados marcos históricos no ensejo de compreender como o desejo é um conceito que, mesmo não fundamentado teoricamente por Foucault, corresponde como uma conjectura instigadora, assim como interpeladora, em sua vasta bibliografia. Partindo dos pressupostos teóricos que materializariam os “marcos temporais” referentes ao conceito de desejo em Foucault, definem-se: A) os aphrodísia (correspondente à Antiguidade Clássica); B) a carne (relacionada à formação do Período Medieval); e, C) a sexualidade (no que concerne às esferas da Modernidade e da Contemporaneidade). Estes três pretensos marcos históricos permitiriam uma reflexão acerca de um possível conceito de desejo no pensamento de Foucault: os aphrodísia, a carne, da mesma maneira que a sexualidade, equivaleriam ao “acervo” onde a ideia de desejo foucaultiana seria propostamente acomodada. O desejo também encabeçaria a constituição do indivíduo a partir do embasamento cristalizado no cuidado de si, como um dos artefatos disponíveis ao sujeito no que se conceberia como a “autoelaboração de si”, da mesma forma que o emolduramento de sua subjetividade: o que possibilitaria a formulação de uma verdade no que tange aos processos de subjetivação individual.

07 DE NOVEMBRO (QUINTA) – TARDE (14h às 17h)

5. Manuscritos e incunábulos medievais: as fontes primárias na pesquisa filosófica
William Saraiva Borges (Doutorando em Filosofia – UFPel)

Este minicurso é destinado, especialmente, aos discentes de graduação em Filosofia, mas também aos graduandos e pós-graduandos que, embora oriundos de outras áreas do conhecimento, tenham interesse pelo tema que será enfocado. O objetivo é apresentar, de modo simples e introdutório, os elementos fundamentais para a compreensão do que sejam fontes primárias medievais, a saber, manuscritos e incunábulos. É célebre a distinção entre bibliografia primária e secundária, isto é, entre obras de filósofos e obras sobre filósofos. Em relação às primárias, contudo, estamos acostumados a lê-las em língua portuguesa ou noutro idioma moderno (em traduções excelentes, boas, ruins ou péssimas). No entanto, tais obras foram escritas em grego antigo, em latim clássico ou medieval e/ou num alemão, inglês ou francês já bastante diferentes daqueles que são falados atualmente nesses países. Os textos medievais, por exemplo, foram redigidos em latim, copiados e recopiados por monges que se dedicavam a essa tarefa, editados no início da modernidade e só a partir do século XX, em sua maioria, que alguns foram traduzidos para as línguas modernas. A pesquisa filosófica feita na academia pode e deve se servir do trabalho dos filólogos, dos editores e dos tradutores, quando bem realizado. Todavia, ainda que não se pesquise diretamente os manuscritos, é importantíssimo conhecê-los instrumentalmente, ao menos para compreender o porquê de tantas notas de rodapé inseridas nas edições críticas e nas traduções vernáculas. Assim como a competência leitora em línguas modernas é indispensável, também o conhecimento básico dos idiomas clássicos e das fontes primárias, tal como podemos consultar em tantos manuscritos e incunábulos ainda remanescentes, qualificará em muito a pesquisa filosófica. Neste minicurso, num primeiro momento, faremos uma exposição teórica elucidando os principais conceitos pertinentes ao assunto. Em seguida, para melhor ilustrar o conteúdo, alguns manuscritos e incunábulos digitalizados serão reproduzidos em datashow e comentados pelo ministrante.

6. Introdução à leitura d’O Capital de Karl Marx
Diego Echevenguá Quadro (Doutorando em Filosofia – UFPel)

O objetivo do presente curso será o de ser uma introdução à leitura dialética do Capital de Karl Marx. É sabido que durante o processo de escrita do Capital Marx retornou ao estudo da Ciência da Lógica de Hegel. Dessa forma, o esqueleto teórico, a armação conceitual do Capital é a lógica de Hegel. Inúmeros comentadores da tradição dialética apontaram para o fato de que uma compreensão competente da crítica à economia política feita por Marx seria incompleta sem um retorno à dialética especulativa apresentada por Hegel na Ciência da Lógica. Dessa forma, poderíamos lembrar de Adorno que afirmava ser a dialética de Hegel o sistema de representação que no campo do pensamento especulativo coincidia com o movimento das mercadorias no sistema capitalista. Sendo assim, Adorno mais uma vez apontava para o isomorfismo entre a estrutura econômica e o movimento das categorias do pensamento no espaço lógico apresentado por Hegel. Portanto, teremos como objetivo central do curso que aqui apresentamos oferecer uma introdução ao núcleo do pensamento dialético de Hegel presente na Ciência da Lógica e a apreensão dos principais conceitos hegelianos que Marx mobiliza no Capital para sua crítica da economia política capitalista.
Devemos aqui apresentar também em que consistirá o método de exposição do nosso curso. Buscaremos expor de forma clara e sistemática em que consiste a dialética de Hegel, privilegiando os conceitos de Ser, Nada e Devir tais como aparecem na primeira seção do primeiro volume da Lógica – A Doutrina do Ser. Tais conceitos representam a base de todo movimento dialético para Hegel, ocupando assim um espaço central na compreensão da dialética hegeliana e nos comprometendo de forma pedagógica com uma apresentação e clarificação de tais conceitos para que o objetivo de nosso curso seja efetivado. No segundo momento de nosso curso – uma vez exposto o núcleo da dialética de Hegel – poderemos passar para o Capital de Marx; onde iremos privilegiar o capítulo sobre a mercadoria e a forma que ela ocupa dentro da economia capitalista. Aqui justificaremos a nossa escolha de dar atenção central ao capítulo sobre a mercadoria lembrando Louis Althusser que apontava ser a reflexão de Marx sobre a forma da mercadoria o núcleo de sua crítica ao Capital. E nos parece que é justamente nesse capítulo onde poderemos de forma mais eficaz apresentar a relação de imbricação entre dialética especulativa e crítica à economia política. Esperamos assim clarificar e possibilitar uma apreensão clara das ideias de Hegel e Marx desfazendo caricaturas e imagens equivocadas do que é a tradição do materialismo dialético.
Para o objetivo da exposição do conteúdo prepararemos um pequeno texto introdutório a ser distribuído aos participantes e apresentaremos as principais passagens da bibliografia primária utilizada. Aliaremos a exposição sistemática do conteúdo a leitura direta dos textos de Hegel e Marx; e quando necessário trazendo o comentário de competentes intérpretes como os acima citados Adorno e Althusser para citarmos dois exemplos.

7. Seria o utilitarismo uma teoria injusta?
Émerson Franco de Almeida (Mestrando em Filosofia – UFPel)

O foco principal da ética utilitária é promover a felicidade para o maior número de pessoas. Se você é partidário deste princípio muitas vezes será acusado de defender uma teoria contraintuitiva. A questão é: Até onde está correto está crítica? Este minicurso oferece uma introdução ao utilitarismo. Começamos por uma breve exposição da teoria ética defendida por Jeremy Bentham no livro “uma introdução aos princípios da moral e da legislação”, contrastando com aquele utilitarismo defendido por John Stuart Mill, em seu ensaio “utilitarismo”. No entanto, pretendo mostrar que nossa teoria ética é uma tradição viva. Por isso, em um segundo momento, exponho o utilitarismo depois de Mill, problematizando e respondendo críticas a referida teoria.

8. A Elaboração de Oficinas de Ensino de Filosofia: relacionando a cultura POP com os problemas filosóficos
Ana Paula de Souza (Licenciada em Filosofia – UFPel)
Jaíne Isabel Jorge da Rosa (Mestranda em Filosofia – UFPel)

Aspis & Gallo (2009) desenvolvem uma metodologia de Ensino que divide-se em quatro momentos: (I) sensibilização, (II) problematização, (III) investigação e (IV) conceituação. Essa Oficina restringe-se à primeira fase, sensibilização, a qual integra e inicia a metodologia porque permite que estes se familiarizem com o tema que será abordado, e isso a partir de elementos de seu saber habitual.
A cultura popular (POP), estando presente principalmente no cinema, na televisão, na música e na literatura, exerce uma forte influência nas mais diversas camadas da população. No período da adolescência, especialmente, podemos notar isso, por exemplo, no modo de vestir, falar e de interpretar (ver) o mundo. Com base nisso, pensamos que abordar problemas filosóficos a partir de elementos da cultura POP no momento da sensibilização é fundamental para um maior aprofundamento no aprendizado dos estudantes, na medida em que se identificam mais facilmente com os problemas abordados, podendo ver-se representados neles e compreendendo melhor os temas e conceitos discutidos pela filosofia.
No minicurso, pretendemos demostrar, passo-à-passo, (i) como elaborar oficinas de Ensino e (ii) enfatizar como a sensibilização realizada por meio de elementos da cultura POP pode contribuir, por facilitar, o desenvolvimento das dinâmicas. Para isso, utilizaremos (iii) como exemplo os filmes Spiderman (2002 e 2004), e Batman e o Capuz Vermelho (2010), bem como a série The Simpsons, em tela desde 1989. Ao final do minicurso, pretendemos realizar (iv) uma atividade, na qual os participantes deverão esboçar uma oficina própria, aplicando, a partir do passo-á-passo de planejamento de oficinas, uma relação e/ou ideia entre um tema ou conteúdo filosófico e algum elemento da cultura POP.
O presente Minicurso, então, objetiva proporcionar, especialmente aos Licenciandos em Filosofia (incluindo os pibidianos), algumas “”ferramentas teóricas”” para refletir sobre as diferentes metodologias, relacionando os temas filosóficos com a cultura POP na elaboração de aulas e de oficinas de ensino destinadas ao Ensino Fundamental e Médio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco; Poética. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
_____________. Ética Eudemia. Madrid: Alianza Editorial, 2005.
ASPIS, R. P. L.; GALLO, S. Ensinar Filosofia – um livro para professores. São Paulo: Atta Mídia e Educação, 2009.
CONARD, M. T.; IRWIN, W.; SKOBLE, A. J. Os Simpsons e a Filosofia. São Paulo: Madras, 2004.
COLUMBIA PICTURES. Homem-Aranha. Direção: Sam Raimi. Produção: Ian Bryce e Laura Ziskin. EUA: Sony Pictures Entertainment, 2002.
COLUMBIA PICTURES. Homem-Aranha 2. Direção: Sam Raimi. Produção: Laura Ziskin. EUA: Sony Pictures Entertainment & Marvel Entertainment, 2004.
IRWIN, W.; MORRIS, T.; MORRIS, M. Super-heróis e a filosofia: verdade, justiça e o caminho socrático. Tradução: Marcos Malvezzi Leal. São Paulo: Madras, 2005.
KANT, I. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Ed.70, 2007.
MILL, J. S. Utilitarismo. 1. ed. São Paulo: Hunter Books, 2014.
NICOLA, U. Antologia Ilustrada da História da Filosofia: das origens à idade moderna. 1. ed. São Paulo: Globo S.A, 2005.

08 DE NOVEMBRO (SEXTA) – MANHÃ (das 9h às 12h)

9. Introdução à Lógica de Frege
Valquíria Machado (Doutoranda em Filosofia – UFRGS)

O objetivo inicial deste minicurso é apresentar noções instrumentais essenciais à compreensão do legado lógico de Frege e tem como objetivo geral questionar e fornecer algumas respostas preliminares para o problema de estabelecer um modo de compreender essas noções instrumentais que seja coerente com algumas teses centrais da filosofia da lógica fregeana. Assim, em conjunto com a apresentação instrumental serão debatidos alguns tópicos de filosofia da lógica. Para introduzir a notação fregeana, será debatida a substituição do paradigma “sujeito e predicado” por ”função e argumento” na análise da forma lógica da proposição atômica. Para mostrar como Frege unifica quantificação e lógica proposicional no mesmo sistema será traçada uma breve comparação da lógica fregeana com a lógica aristotélica. Certas opções técnicas executadas por Frege têm um fundamento no que ele considerava como a natureza da lógica no que diz respeito, por exemplo, a características tais como a generalidade da lógica e a indefinibilidade da verdade. Tais opções técnicas contrapõem-se a abordagens que são correntes na lógica contemporânea. O tratamento da quantificação que deriva da compreensão da lógica como ciência de máxima generalidade está em tensão com a concepção esquemática e modelo-teorética contemporânea. Parte do problema encontra-se na tensão entre a concepção fregeana de verdade e o uso de uma ferramenta contemporânea, um predicado-verdade, para definição de verdade. Abordaremos este problema investigando o papel das metavariáveis na notação de Frege.

10. Introdução à Filosofia Experimental
Luca Nogueira Igansi (Doutorando em Filosofia – UFPel)

O objetivo deste minicurso é realizar uma apresentação geral da filosofia experimental, veia do naturalismo filosófico, através de sua história e principais discussões e autores. Apesar de ser um movimento recente (anos 2000), sua origem pode ser rastreada até os pré-socráticos uma vez que toda teoria filosófica parte do diálogo com a compreensão científica da época em questão ou de intuições acerca da natureza humana. Em um primeiro momento, será realizada então uma análise histórica da relação entre ciência (método experimental) e filosofia, passando por Aristóteles, Kant, Hume e alguns outros. Aristóteles e Hume serão o foco: o primeiro criou as bases não apenas para diversas ciências contemporâneas como também para o método científico, aplicando tal conhecimento em suas formulações filosóficas (partindo do ergon da humanidade como zoon politikón, perspectiva central em sua ética e política); e o segundo propõe uma anatomia da moralidade em um empreendimento descritivo (em oposição à prescritivo) do fenômeno moral em diálogo com a metodologia experimental, estabelecendo o paradigma central para o naturalismo filosófico, e por conseguinte, para a filosofia experimental. Em um segundo momento, investigaremos a proposta da filosofia experimental mais a fundo correlacionando-a com estas perspectivas anteriores. A partir da definição de naturalismo filosófico como descendente do descritivismo humeano, trabalhando Quine, Putnam e comentadores, exploraremos o foco quanto à profundidade explanativa em oposição à força prescritiva o qual a filosofia experimental compromete-se ao analizar o problema da falácia naturalista proposta por G. E. Moore e atualizada por Darlei Dall’Agnol, quase onipresentemente referenciado em obras destes cunhos e central para nosso entendimento. Por fim, no terceiro momento, iremos tratar de algumas das discussões relevantes na área, desde diálogos contemporâneos com teorias tradicionais como no caso dos situacionistas e os eticistas da virtude, os intuicionistas sociais e os kantianos, até novos debates advindos da experimentação prática na psicologia social/experimental/cognitiva e neurociências como sobre a definição e papel das crenças e intuições com o modelo de processo duplo, das evidências de neuroimageamento sobre o cognitivismo moral e da corporificação de estados emocionais em diálogos com etologia e filosofia moral. O encerramento tratará de demonstrar o estado-da-arte da filosofia experimental no Brasil através da breve exposição de autores, trabalhos e iniciativas nacionais a fim de divulgação desta jovem área.

11. A teoria das esferas na composição da subjetividade em Sloterdijk: uma introdução
Wagner França (Doutorando em Filosofia – UFPel)

Pretende-se realizar uma introdução ao conceito de subjetividade em Peter Sloterdijk, o qual é concebido através de uma crítica ao humanismo, bem como da renúncia dos pressupostos de uma natureza humana nos moldes modernos. Sloterdijk repudia as definições fundacionais da subjetividade tradicional como, as noções de indivíduo e de autonomia. A subjetividade, para o filósofo, reside na inter-relação entre indivíduos, operada primeiramente por vetor vertical de tensão, (estruturas abrangentes de domesticação) e por uma dimensão horizontal da relação mútua de subjetividades. Sua composição carece de atuação independente do indivíduo e carece de uma autonomia partícipe de qualquer pretensão de universalidade transcendental. A filosofia kantiana ao inserir o tempo como operador fundamental de subjetivação, infere o espaço como elemento passivo e mecânico. Assim, tempo e espaço são as formas responsáveis por encerrar toda a experiência humana, sendo estruturas fundamentais da subjetividade. O tempo passa a tornar-se uma linha reta definida pela sucessão de instantes; a simultaneidade e a permanência seriam modos do tempo. O que é inserido nele muda, mas o tempo mesmo não muda após a modernidade. Esse paradigma é a base teórica fundacional do humanismo e todos os seus desdobramentos conceituais subsequentes. Podemos resumir que o modo de subjetivação após o período iluminista, atribui ao tempo o elemento subjetivo e ao espaço o objeto. Os sujeitos são constituídos de um modo ou de outro no tempo e pelo tempo.
A separação entre tempo e espaço consolidou a dicotomia sujeito e objeto na história do pensar. Inserir o corpo na constituição subjetiva exige outra forma conceber a relação entre sujeito e mundo, pois desloca, ou mesmo restitui seus pretensos limites. Sloterdijk pensa uma subjetividade composta por uma dimensão exterior-espacial, material, ativa, dinâmica e temporalmente não-linear sob a ideia de uma dimensão surrealista metafórica da espacialidade humana, revogando a relação sujeito-objeto. Tal espacialidade é nomeada por Sloterdijk de Esfera, na medida em que “cérebros são meios para o que os outros cérebros fazem e fizeram. A inteligência apenas recebe estímulos chave por sua própria atividade com outras inteligências. Como linguagem e emoção, a inteligência não é um sujeito, mas meio ou círculo de ressonância” (SLOTERDIJK, 2011, p. 265). A teoria das esferas em sua forma basilar aborda a microesferologia que diz respeito a esse “círculo de ressonância”. Assim, as subjetividades de uma microesfera apenas constituem-se como sujeitos na medida em que mutuamente inter-relacionam-se enquanto cossubjetividade. É nessa condição relacional mútua que o espaço esferológico microesférico se estabelece constituindo subjetividades para além das definições humanistas e modernas. O sujeito compreendido nesses moldes, além de ser composto por seu corpo engloba espaços “não-humanos” em sua subjetividade, cuja formação Sloterdijk compreende por uma amálgama de condições, compondo uma nova forma da relação entre sujeito e mundo. Consolidando assim, um paradigma radicalmente distinto da tradição, englobando a filosofia, antropologia e psicanálise, ao passo que estabelece uma ressignificação dessas instâncias.

08 DE NOVEMBRO (SEXTA) – TARDE (das 14h às 17h)

12. A ética do sujeito interior: a noção de culpa na teoria agostiniana da responsabilidade moral
Matheus Jeske Vahl (Doutorando em Filosofia – UFPel)

A obra De Continentia de Santo Agostinho é um opúsculo classificado como um “tratado de moral” em que o autor elabora seu conceito de interioridade. Nele Agostinho demonstra que é no foro íntimo da consciência que se formam os princípios de todo ato moral realizado pelo sujeito. É o assentimento dado pelo livre arbítrio a estes princípios e a intenção que deles se forma que determina a qualidade do ato moral praticado. Nos termos da teodiceia agostiniana, Deus habita o interior da alma humana, e ainda que o sujeito possa mascarar a intenção de seus atos em sua realização, não pode escondê-los de Deus e de si próprio, frente a quem gera-se em sua visão nossa consciência de culpabilidade. Segundo Agostinho os homens são moralmente responsáveis pelo conteúdo intencional que produzem em seu interior, por sua qualidade. Mesmo que eles não gerem um crime no plano jurídico da ação, geram uma mácula na memória que compromete a formação do caráter humano e, por conseguinte, a estrutura de sua consciência. Na referida obra Agostinho claramente defende que todo ato moral tem como princípio um ato de consciência, este pode se realizar materialmente ou interiormente, porém, por suas consequências, o sujeito humano é sempre o único responsável.

13. De cruz, pena e espada: a religião, a filosofia medieval e a guerra justa na formação da América Latina
Renata Floriano de Sousa (Doutoranda em Filosofia – PUCRS)

A proposta desse minicurso tem como objetivo apresentar a história da formação da América Latina através das perspectivas filosóficas e teológicas que orientaram e/ou combateram seus colonizadores. Para fins de delimitação do tema, apresentarei a colonização espanhola na América no século XVI sob a perspectiva dos colonizadores e em contraste com o posicionamento dos filósofos e teólogos oriundos e derivados da Escola de Salamanca. A meta desse curso é apresentar a filosofia e a teologia como a reflexão e o contraponto teórico das ações engendradas pelos espanhóis na conquista/invasão da América.
Os temas abordados serão: Por que na América Latina estava sendo implanta a filosofia medieval se na Europa estava surgindo a filosofia renascentista? Quem eram os representantes dessa filosofia medieval na América e qual a contribuição deles? Qual a influência de Aristóteles na filosofia política da Escolástica Barroca? A partir desses teóricos, responderemos: Os ameríndios são homens? Os ameríndios têm dignidade? Os Ameríndios são senhores de suas terras? Podem os espanhóis estabelecer residência e delimitar propriedade no Novo Mundo? É lícito aos espanhóis explorarem a mão-de-obra ameríndia sem qualquer freio moral ou ético? Por que a religião católica deveria ser levada aos ameríndios? Qual deveria ser o modo correto de trazer esses povos à verdadeira religião? A idolatria dos ameríndios é motivo para uma guerra justa? Quais são os motivos para a guerra justa? E, por fim, quais motivos justificam uma guerra justa contra os ameríndios.
Para responder essas e outras questões, usarei como referencial a filosofia da escolástica barroca (e, consequentemente, a teologia também), tendo como principal marco teórico a Escola de Salamanca inaugurada Francisco de Vitoria além de outros pensadores como Frei Antonio de Montesino, Bartolomé de Las Casas, Juan Guines de Sepulveda e Jose de Acosta. A intenção é mostrar como esses espanhóis pensaram os problemas mencionados acima e até como influenciaram, mesmo que de forma sutil, na formação da América Latina.

14. A Filosofia após Darwin: as implicações da teoria evolucionista em ética e epistemologia
Mariana Marques Burkle (Mestranda em Filosofia – UFPel)

As relações entre Filosofia e ciência estreitaram-se no século XX, com a virada naturalista em Filosofia protagonizada por Quine. Assim, o presente minicurso visa abordar, de maneira introdutória, os principais desenvolvimentos das implicações da teoria evolucionista em Filosofia no século XX e XXI. A perspectiva adotada será a do naturalismo evolucionista, que utiliza da biologia para fornecer respostas a problemas genuinamente filosóficos (como a explicação da moralidade nos seres humanos, e a explicação da justificação das crenças). Em um primeiro momento, a legitimidade da relação entre Filosofia e ciência será abordada, mostrando como o naturalismo rejeita a noção de “”Filosofia primeira”” e a tese implicada desta visão, a saber, a tese de que a Filosofia deveria fundamentar a ciência, e não estar em continuidade com a mesma. Após esclarecido este pressuposto teórico, abordaremos as duas correntes mais fortes da teoria evolucionista em Filosofia: a ética evolucionista, e o confiabilismo em epistemologia.
Abordaremos a ética evolucionista, uma nova forma de ética naturalizada, sob as perspectivas de Michael Ruse (1986), Richard Joyce (2006) e Sharon Street (2006). Neste ponto, o objetivo do minicurso é esclarecer primeiramente como a ética evolucionista supera os desafios lançados às teorias naturalistas em ética, a saber, o problema de Hume e a falácia naturalista de Moore, sendo uma teoria válida. A ética evolucionista visa explicar as origens das crenças morais e do comportamento moral que possuímos a partir da teoria da evolução, considerando a faculdade moral como uma adaptação. Assim, em um segundo momento, evidenciaremos as explicações genealógicas da faculdade moral oferecidas pelos autores. Em linhas gerais, a genealogia das faculdades morais apresentada por Joyce (2006) e Street (2006) possui como ponto central a necessidade de cooperação da espécie humana para aumentar a probabilidade de sobrevivência. De maneira similar a Joyce, Ruse (1986) aponta que a moralidade é desenvolvida pelos seres humanos como uma forma artificial de atingir o altruísmo biológico.
O ponto epistemológico da teoria confiabilista, por sua vez, será abordado sob a perspectiva de Alvin Goldman (1986), Richard Joyce (2001) e Benjamin Fraser (2013), evidenciando como a teoria evolucionista pode exercer influência sob o status de justificação de nossas crenças, com a genealogia das faculdades cognitivas. Neste ponto, o objetivo central do minicurso é evidenciar como o confiabilismo rompe com as teorias da justificação anteriores, mostrando como o propósito evolutivo a que serve a faculdade epistêmica influencia diretamente no status de justificação das crenças produzidas por tal faculdade.

15. A Teoria Interacionista de George Mead: contribuições para o (re)pensar pedagógico voltado ao afro-brasileiro
Maribel da Rosa Andrade (Doutoranda em Educação – UFPel)

Na tentativa de apresentar uma nova proposta pedagógica que possibilite ao afro-brasileiro a construção da individuação na socialização, de modo justo, sem discriminação ou pré-conceitos, tendo para isso, a escola enquanto um Other Generalized, buscar-se-á abordar possíveis contribuições da teoria de George Mead para o desenvolvimento da proposta, considerando analisar, quais interesses de classe, profissionais e institucionais, estão inseridos nas diferentes formas de estruturação e organização curricular das escolas e, seu impacto na construção do self do afro-brasileiro no ambiente escolar. Na concepção de Mead, pode-se dizer que é necessário levar em consideração todos os interesses envolvidos, tanto na resolução de um conflito como na (re) construção de valores, normas e saberes e, isso é imprescindível para a construção de uma prática pedagógica que pretenda ser crítica e emancipatória. A partir desse ângulo, propor-se-á uma roda de conversa sobre como pode o afro-brasileiro construir seu Self, na relação com o outro, ou, com os outros, numa sociedade pensada por brancos e para brancos. Qual o papel da escola nesse contexto? Vivemos numa sociedade com mais da metade de sua população afro. Um afro-brasileiro que, em grande parte, desconhece sua cultura originária, pois, são inseridos em Instituições Educativas com currículos fundamentados em uma educação eurocêntricamente branca e, culturas afro e indígenas são abordadas em ações isoladas. Qual o papel do professor, enquanto educador nesse processo?

CLIQUE AQUI PARA SE INSCREVER.