Minha terra tem águas da cor de chumbo.
Em margens santas já foi início.
As vezes calmas, sob a luz da lua, espelham estrelas.
Noutras tantas, imprimem nuvens.
Quando dançam os ventos fortes, modelam aços no espaço aberto.
Não são divisas, são interfaces.
No mais puro aroma da vida que guardam, na cidade, em futuro quietas, permanecem.
Águas de um fluxo histórico que corre cego,
são as águas de um São Gonçalo que fazem seu leito…
de dentro para fora ou de fora para dentro…
escrito em rastro,
no meio do peito.
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João Fernando Igansi Nunes
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O canal faz parte da vida urbana! E a gente nem sabia……… Agora que sabemos, o que faremos?
Limite, fronteira, interface……… Convergem ali questões ecológicas, paisagísticas, urbanísticas, sociais e culturais, características de um sistema ambiental urbano. Transitam moradores, estudantes, trabalhadores, visitantes…..
Com tantos atributos, o canal é uma oportunidade de local de encontro, lugar para pessoas. Canal vivo, cidade viva!………
.Josiane da Silva Almeida
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Reflete os tons cinzentos e rosados do pôr do sol…
Como se ainda misturado tivesse o sangue da carne de sal.
Vem para as margens minha princesa!
Vem para o teu canal!
Não jogues mais teus prantos em meu caudal!
Compartilha meu leito que não tem rival!
Vira-te de frente, te aprochega, não daí-me as costas!
Me chama de novo, que eu não te faço mal!.
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João Pedro Azevedo Drummond de Mello
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São quilômetros de águas calmas, fluindo ora de norte a sul, ora de sul a norte.
São águas ora doces, ora salobras, que escoam de Mirim a Patos, de Patos a Mirim.
Por aqui navegam pescadores em seus barcos a motor, veleiros, navios (poucos, é verdade)…
Aqui deságua o Pelotas, aqui deságua o Piratini – e outros menores, mas não menos importantes.
Em sua margem se estende o Porto de Pelotas e mais adiante, no seu leito, cortando seu fluxo, a Barragem Eclusa.
Daqui se tira água para saciar a fome e a sede: daqui se planta, daqui se bebe.
Somos nós, somos a UFPel, vivendo e convivendo com o São Gonçalo, com sua rica e abundante fauna e flora.
Uma preciosidade ambiental a olhos vistos.
Mauricio Dai Prá |
Do conjunto fabril às margens do São Gonçalo, era possível, há um tempo, enxergar da ponte sobre o canal que une os municípios de Rio Grande e Pelotas, na margem direita vista por quem chegava da primeira cidade, o contorno do grande frigorífico que marcou a vida social do lugar e no frontão mais visível, lia-se o seu nome: ANGLO. Faz alguns anos que a Universidade Federal de Pelotas passou a ocupar esta fábrica extinta e não demorou muito para que sua sigla fosse pintada no frontão, substituindo a anterior. Também não demorou para que o edifício que ostentava estas bandeiras de tinta fosse derrubado. Assim, é a ausência e o silêncio do esquecimento que se reflete hoje, na plana grandeza do espelho d’água do canal. Ainda se vê o que sobrou da emblemática planta industrial deste frigorífico e não fosse o movimento das águas incessantes, pareceria ser uma fotografia do passado, colorizada, repaginada e maquiada com os ares do novo sobre as águas ancestrais.
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Francisca F. Michelon
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O desenvolvimento da indústria da salga resultou da existência das fartas manadas crioulas que alimentariam o nordeste onde as grandes secas dizimaram a criação. Relevante é indicar o porque da sua localização em Pelotas. Pois houve, com efeito, um elemento que pesou decisivamente na multiplicação dos saladeiros nesta área e que foi a presença da barreira natural que o curso do São Gonçalo oferecia à passagem das tropas. Não existisse o impedimento, Rio Grande, porto de mar, melhor se prestaria. Pelotas foi, portanto, uma dádiva do São Gonçalo.
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Francisca Luiza Peró Osorio
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Por este canal a história se refaz. Por aqui se viu a economia da cidade surgir, crescer e se transformar; brancos, negros e indígenas se misturaram e criaram a cultura da cidade de Pelotas, com toda a sua riqueza e diversidade; o processo produtivo da economia se completou com um movimento criativo da produção científica e tecnológica. Ao resgatar o São Gonçalo, a cidade se regozija por não encontrar em suas margens fronteiras, mas continuidades sem fim, que nos incitam a construir sonhos e realidades.
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Mauro Del Pino
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