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Pampa Singular

Pampa Singular: ciência, arte e comunidade para revelar e conservar um bioma único

O Pampa Singular é uma iniciativa de pesquisa, divulgação científica, educação e extensão universitária que une ciência, arte e participação comunitária para valorizar a biodiversidade, a cultura e as paisagens do bioma Pampa, promovendo sua conservação aliada ao desenvolvimento sustentável. Coordenado pela Universidade Federal de Pelotas, o projeto vem sendo desenvolvido de forma contínua desde 2021, ampliando suas ações e abordagens ao longo dos anos.

Um bioma ameaçado e pouco reconhecido

Historicamente, as paisagens singulares do Pampa foram moldadas por uma relação relativamente equilibrada entre seres humanos e natureza. Nas últimas décadas, porém, esse equilíbrio vem sendo rompido pela expansão da agricultura intensiva, da silvicultura, da expansão urbana e por mudanças no uso da terra, resultando em perda acelerada de habitats, redução da biodiversidade e fragmentação das paisagens naturais.

Paradoxalmente, o Pampa também está inserido em uma das regiões socioeconomicamente mais vulneráveis do Rio Grande do Sul. A concentração fundiária, a dependência histórica de commodities e a pouca diversificação econômica fazem com que grande parte da metade sul do estado apresente baixos índices de desenvolvimento. O Pampa Singular parte do entendimento de que conservar a biodiversidade e valorizar o território pode ser também uma estratégia de geração de renda, identidade e autonomia local.

Ciência que dialoga com a comunidade

Um dos pilares do Pampa Singular é a interiorização da ciência. Em vez de permanecer restrito à universidade ou aos centros urbanos, o conhecimento científico é levado diretamente às escolas, comunidades rurais e municípios do interior do bioma. Oficinas itinerantes, exposições, mostras científicas e atividades práticas colocam estudantes e professores como protagonistas do processo de aprendizagem, estimulando o sentimento de pertencimento ao território.

Nessas ações, a biodiversidade local deixa de ser um conceito abstrato e passa a ser reconhecida no cotidiano: nas plantas dos campos, das savanas, nos banhados, nos afloramentos rochosos, nas matas, nos arroios, na fauna associada às paisagens e nas histórias culturais que atravessam gerações. Ao compreender o valor ecológico e cultural do Pampa, a comunidade se fortalece como agente ativa na sua conservação.

Educação, conservação e futuro

Ao longo de suas diferentes fases, o Pampa Singular consolidou-se como um projeto transdisciplinar que vai além da divulgação científica tradicional. Ele promove educação crítica, valorização cultural, formação de recursos humanos e estímulo a economias sustentáveis, como o turismo de natureza e o turismo rural responsável.

Mais do que apresentar informações, o projeto convida à reflexão: que Pampa queremos para o futuro? Ao integrar ciência, arte e comunidade, o Pampa Singular mostra que conservar o bioma não é apenas proteger espécies e paisagens, mas também fortalecer identidades, histórias e modos de vida que tornam esse território verdadeiramente singular.

Pesquisa científica como base para conhecer, conservar e promover o uso sustentável de espécies nativas do bioma Pampa

Além das ações de divulgação científica e educação, o Pampa Singular está alicerçado em um conjunto consistente de pesquisas científicas que buscam ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade do bioma Pampa e oferecer subsídios técnicos para sua conservação e uso sustentável. Essas pesquisas dialogam diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente aqueles relacionados à conservação da vida terrestre, educação de qualidade, ação climática e desenvolvimento sustentável de territórios vulneráveis.

Um dos eixos centrais do projeto é o estudo da diversidade de espécies da flora do Pampa, um dos biomas menos conhecidos do Brasil do ponto de vista botânico. Embora o Pampa abrigue uma riqueza expressiva de espécies vegetais, muitas delas permanecem pouco documentadas, subamostradas em coleções científicas e ausentes de políticas efetivas de conservação. O Pampa Singular atua no levantamento, organização e interpretação desses dados, fortalecendo o papel das coleções botânicas como arquivos vivos da biodiversidade e como base para pesquisas ecológicas, evolutivas e conservacionistas.

Outro eixo fundamental envolve os recursos genéticos vegetais, entendidos não apenas como patrimônio biológico, mas também como ativos estratégicos para o desenvolvimento sustentável. O projeto reconhece que a flora nativa do Pampa possui potencial ecológico, cultural e econômico ainda pouco explorado, seja para sistemas produtivos de baixo impacto, restauração ecológica, turismo de natureza ou valorização de saberes locais. Conhecer essa diversidade genética é essencial para garantir resiliência frente às mudanças climáticas e para orientar estratégias de manejo compatíveis com a conservação dos ecossistemas naturais.

Com especial atenção às espécies endêmicas e ameaçadas, o Pampa Singular desenvolve e integra avaliações de risco de extinção como ferramenta-chave para a tomada de decisão em conservação. Considerando que apenas uma fração da flora do Pampa foi formalmente avaliada quanto ao seu estado de conservação, o projeto incorpora abordagens inovadoras, incluindo análises automatizadas e probabilísticas, para acelerar a identificação de espécies sob maior risco e de áreas críticas para a conservação. Essas avaliações são fundamentais para orientar políticas públicas, ações de manejo e estratégias de proteção da biodiversidade regional.

As pesquisas também avançam na compreensão do nicho ecológico das espécies e das características originais do bioma Pampa, por meio de estudos ecológicos e evolutivos. Ao investigar padrões de distribuição, adaptações ambientais, respostas a mudanças no uso da terra e relações históricas entre espécies e paisagens, o projeto busca reconstruir como o Pampa se estruturou ao longo do tempo e como suas peculiaridades ecológicas foram moldadas por processos naturais e antrópicos. Essa abordagem é essencial para reconhecer paisagens naturais remanescentes, orientar ações de restauração e compreender os limites ecológicos da intensificação produtiva no bioma.

Ao integrar essas frentes de pesquisa, o Pampa Singular reforça a ideia de que conhecer é condição para conservar e que a conservação, por sua vez, é inseparável do uso sustentável dos recursos naturais. A produção científica do projeto não se encerra nos artigos acadêmicos, mas se desdobra em ações educativas, materiais de divulgação, exposições e diálogo com comunidades locais, gestores e educadores. Dessa forma, a ciência produzida contribui diretamente para os compromissos globais assumidos pelo Brasil no âmbito da Agenda 2030 da ONU, ao mesmo tempo em que fortalece soluções enraizadas no território e na realidade do bioma Pampa.

Saiba mais:

https://www.instagram.com/pampasingular/

https://www.youtube.com/@pampasingular5353