Na literatura, transição tecnológica, é um processo coevolucionário que se estende por décadas e envolve distintos atores e grupos sociais. A análise de uma transição tecnológica, sob uma perspectiva especial, pode ser aplicada como transição sociotécnica e sob essa concepção específica, a tecnologia só tem efeito em conjunto com a ação humana, com as estruturas sociais e as organizações. A partir disso, quando ocorre uma transição, essa não envolve apenas a mudança de uma tecnologia para outra, mas também mudanças em outros elementos como regulamentações, infraestruturas, padrões culturais etc. (GEELS, 2002). A transição sociotécnica envolve mudanças de longo alcance através de diferentes dimensões: tecnológica, material, organizacional, institucional, política, econômica e sociocultural (MARKARD et al., 2012).
Compreende-se por nicho o local de onde surgem inovações radicais com atores heterogêneos (usuários, produtores, autoridades públicas e outros), que trabalham em diferentes direções, com redes enxutas, regras difusas e pouca estabilidade. Podem ser laboratórios de P&D, projetos de demonstração subsidiados por recursos públicos ou privados, pequenos nichos de mercado ou ter a forma de nichos tecnológicos. Possuem relevância por permitirem espaço para processos de aprendizagem em várias dimensões como tecnologia, preferências de usuário, regulamentos, infraestrutura e significado simbólico.
A região da Campanha Gaúcha se caracteriza historicamente pela produção da pecuária. Tal produção se destaca desde os primórdios da ocupação destas terras até os dias de hoje, caracterizando-se como atividade econômica importante para o setor primário e para a região. No século XX teve nessas terras o início da produção orizícola que registra expansão de área produtiva no decorrer do tempo, mesmo diante de adversidades como crises no setor, intempéries e outros. Mais recentemente a soja foi inserida e vem ocupando destaque, assim como ocorreram projetos na área da silvicultura e surge gradativamente a potencialidade da olivicultura. Paralelamente e somente posteriormente à cultura da pecuária e do arroz, é que houve incentivo à produção de uvas e vinhos fazendo surgir e ampliar a vitivinicultura com estabelecimento de diversas vinícolas e produtores de variadas proporções.
O presente trabalho parte da premissa que a abordagem teórica das “Transições Sociotécnicas” pode contribuir para a compreensão sobre “trajetória inovadora dos regimes sociotécnicos” presentes na campanha gaúcha, que aponte os fatores envolvidos e como eles se combinam nesse processo. Não obstante, em termos teóricos, atualmente há uma lacuna nos estudos de transição que se concentram no fato de compreender quais são os fatores ou elementos, ou a combinação desses, que favorecem a adoção de uma tecnologia, ou conduzem à inovação tecnológica (GENUS, 2015).
Desta forma, como contribuição teórica o trabalho pretende: 1) somar esforços à aplicação da teoria já existente em estudos de transição; 2) sistematizar os fatores contribuintes à adoção do regime sociotécnico: 3) avaliar estes fatores na adoção dos regimes sociotécnicos presentes na Campanha Gaúcha com vistas a formulação de futuras estratégias que contribuam com os decisores políticos.