O presidente da França, Emmanuel Macron, reuniu-se com o argentino Javier Milei em Nice na última segunda-feira, 09 de junho, para discutir a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia. O encontro ocorre logo após Macron tratar do mesmo tema com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que havia solicitado ao líder francês que “abrisse seu coração” para viabilizar a assinatura do pacto até o final deste ano, desde que sejam incluídas salvaguardas ao setor agrícola francês (G1, 2025).

Durante a reunião, Milei chegou a ameaçar retirar a Argentina do Mercosul, enquanto Macron reafirmou a expectativa de concretizar o acordo até o fim de 2025, condicionando-o à proteção de interesses do setor agropecuário francês. O texto aponta ainda que, além do comércio, foram discutidas possíveis colaborações na exploração de minerais estratégicos como lítio e cobre, bem como a participação da França no “Plano Nuclear Argentino”, que visa à construção de pequenos reatores para apoiar o desenvolvimento de um polo de inteligência artificial 

Destaca-se que este movimento ocorreu dentro de uma extensa agenda internacional de Milei — iniciada em Roma, passando por Espanha e Itália, e com previsão de visita a Israel — realçando seu perfil ultraliberal. Ao mesmo tempo, destaca que Lula tem feito parcerias diplomáticas e ambientais com Macron, buscando, também por meio da França, apoio à COP30, que será realizada em Belém e para a qual cobra inclusive a participação do ex-presidente norte-americano Donald Trump .Apesar da empolgação com o avanço do comércio, subsistem resistências por parte da França e de outros países europeus — especialmente ligadas à proteção do setor agrícola e à sustentabilidade —, que exigem garantias nesse sentido equilibrar as demandas ambientais, comerciais e de acesso a recursos naturais figura como desafio central para as negociações em curso.

Além disso, é importante evidenciar as diferenças das personalidades entre Lula e Milei. Enquanto o primeiro possui um histórico de liderança global e discurso multilateralista, reforça sua imagem como interlocutor confiável e defensor de uma ordem mundial mais equitativa, pedindo que a Macron que “abra o coração”, enfatiza os compromissos ambientais brasileiros e busca equilibrar interesses comerciais com metas de sustentabilidade e protagonismo na governança global (como na COP30 e na ONU) (BBC, 2025).

Milei, ao contrário, adota um discurso antiglobalista, ultraliberal e confrontacional, tendo inclusive criticado duramente o Mercosul em várias ocasiões. Sua ameaça de retirada do bloco torna-se uma carta política, usada para barganhar ou moldar o espaço diplomático com atores externos, como Macron. Apesar disso, o presidente argentino aceita dialogar sobre o acordo, sugerindo uma tensão entre sua retórica anti-bloco e a necessidade de atrair investimentos e cooperação tecnológica.

Em síntese, o texto ilustra a complexidade do acordo Mercosul‑UE: além da necessidade de superar barreiras políticas — internas nos países europeus e no Mercosul —, ele inclui uma nova dimensão estratégica envolvendo mineração e desenvolvimento nuclear‑científico. A articulação diplomática entre Brasil, França e Argentina será determinante para que o tratado avance até o fim de 2025, especialmente considerando prazos institucionais (como o Conselho e o Parlamento Europeus) e a volatilidade política em países-chave do bloco Sul e do outro lado do Atlântico.

‌Referências

G1. O que está por trás dos interesses de Macron em Lula e no Brasil. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/05/o-que-esta-por-tras-dos-interesses-de-macron-em-lula-e-no-brasil.ghtml>. Acesso em: 13 jun. 2025.

BBC News. Lula na França: o que está por trás dos interesses de Macron no presidente e no Brasil – BBC News Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy5e16gz42lo>. Acesso em: 13 jun. 2025.

* Eduardo Grecco é pesquisador do GeoMercosul