A decisão de Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% a países com os quais a relação “não tem sido boa”, no dia 09 de julho, aponta para uma política externa marcada por unilateralismo e retaliação (G1, 2025).
Essa medida de Trump se refira a uma insatisfação generalizada com a dinâmica das relações bilaterais onde a amplitude da tarifa, não é apenas um sinal de desaprovação, mas uma ferramenta de pressão econômica de grande envergadura, capaz de reconfigurar mercados e relações comerciais estabelecidas, de forma a pressionar o Brasil a adotar medidas alinhadas à perspectiva estadunidense.
Destaca-se que essa ação ocasionou consequências domesticamente e internacionalmente. No âmbito nacional, o impacto do “tarifaço” pode ser considerável e multifacetado. A imposição dessas tarifas pode desequilibrar o mercado interno brasileiro de maneira significativa, como menciona o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias (Agência Brasil, 2025). Esse desequilíbrio potencializa-se por diversas vias: primeiramente, o aumento substancial dos custos de importação para produtos brasileiros que dependem de insumos norte-americanos, ou vice-versa, resultará em uma elevação dos custos de produção. Consequentemente, haverá um repasse desses custos para os consumidores finais na forma de preços mais altos, o que, por sua vez, pode levar à redução da demanda interna e à perda de competitividade para a indústria nacional.
Ainda nessa perspectiva, as exportações brasileiras para os Estados Unidos, ao serem sobretaxadas, tornam-se drasticamente mais caras e, portanto, menos atrativas para os compradores americanos, especialmente nos setores do agronegócio, a siderurgia ou determinados produtos manufaturados sentirão o peso da medida de forma mais aguda. Essa decisão pode ser interpretada como uma faca de dois gumes, de modo que setores estadunidenses dependentes das commodites brasileiras como a laranja, o café ou a cana de açúcar também sofrerão com essas medidas. Por fim, a imprevisibilidade de tais medidas tarifárias unilaterais, que surgem sem um aviso prévio substancial ou base em acordos comerciais pré-existentes, cria um ambiente de incerteza profunda para investidores e empresários. Essa volatilidade pode levar à postergação de decisões de investimento, à realocação de capital para mercados percebidos como mais estáveis ou à busca por diversificação de parcerias comerciais (BBC, 2025).
Internacionalmente, a medida de Trump sinaliza uma deterioração acentuada nas relações bilaterais com o Brasil e reforça a percepção de uma abordagem transacional e protecionista da política externa norte-americana, que prioriza interesses domésticos imediatos sobre os princípios do livre comércio e da cooperação multilateral. A imposição de tarifas em tal magnitude não é meramente um desacordo comercial; é um ato de hostilidade econômica que tensiona profundamente as relações diplomáticas e comerciais entre dois países historicamente importantes. Isso pode inviabilizar a cooperação em outras áreas estratégicas de interesse comum, como segurança, ciência e tecnologia, ou questões ambientais (Agência Brasil, 2025).
Além disso, a prática de tarifas unilaterais, que se desvia das normas e regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), tem um efeito corrosivo sobre o sistema multilateral de comércio. Ao contornar os mecanismos de solução de controvérsias e as negociações baseadas em consenso, os Estados Unidos, sob essa administração, minam a credibilidade da OMC e incentivam outros países a adotar medidas retaliatórias semelhantes, o que pode culminar em uma perigosa escalada de protecionismo global e uma fragmentação do comércio internacional. Do ponto de vista geopolítico, a medida pode ser interpretada por outros atores globais como um sinal da volubilidade e da falta de confiabilidade da política externa dos EUA. Essa percepção pode levar a uma reavaliação de alianças e estratégias comerciais por parte de nações que buscam maior previsibilidade e segurança em suas relações econômicas e reforçar a contestação do país americano (Poder360, 2025).
Para o Brasil, especificamente, isso pode impulsionar uma busca mais ativa por novos parceiros comerciais ou o aprofundamento dos laços com blocos econômicos já existentes, como o Mercosul, e com potências asiáticas e europeias, como forma de reduzir sua dependência econômica de um único parceiro imprevisível. Em síntese, o “tarifaço” de Donald Trump ao Brasil, embora justificado por uma suposta “má relação”, reflete uma estratégia protecionista que gera significativas disrupções.
Referências
AGÊNCIA BRASIL. Tarifaço pode desequilibrar mercado interno no Brasil, alerta ministro. [S. l.], 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-07/tarifaco-pode-desequilibrar-mercado-interno-no-brasil-alerta-ministro. Acesso em: 24 jul. 2025.
BBC NEWS. “Bullying de Trump contra o Brasil está saindo pela culatra”, diz jornal americano Washington Post – BBC News Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3enlvn0e9xo>. Acesso em: 24 jul. 2025.
CNN BRASIL. Por que Trump taxou o Brasil em 50%? Analistas explicam crise. [S. l.], 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/por-que-trump-taxou-o-brasil-em-50-analistas-explicam-crise/. Acesso em: 24 jul. 2025.
G1. Trump afirma ter aplicado tarifa de 50% a países com os quais relação não tem sido boa. [S. l.], 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/07/23/trump-afirma-ter-aplicado-tarifa-de-50percent-a-paises-com-os-quais-relacao-nao-tem-sido-boa.ghtml. Acesso em: 24 jul. 2025.
PODER360. Brasil critica tarifas dos EUA na OMC com apoio do Brics e da UE. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/poder-internacional/brasil-critica-tarifas-dos-eua-na-omc-com-apoio-de-brics-e-da-ue/>. Acesso em: 24 jul. 2025.
Eduardo Grecco é pesquisador do GeoMercosul
