No dia 25 de junho de 2025, dois eventos econômicos significativos marcaram negativamente o cenário argentino e expuseram as contradições da política econômica implementada pelo governo de Javier Milei.
De um lado, o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) divulgou os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, revelando um crescimento abaixo do esperado, de apenas 0,5% em comparação com o último trimestre de 2024 (FOLHA DE S. Paulo, 2025).
O resultado foi frustrante diante das promessas de recuperação econômica acelerada formuladas pelo governo, especialmente considerando que o avanço observado foi impulsionado quase exclusivamente pelo aumento das importações — um fenômeno que, longe de sinalizar vigor produtivo interno, indica desequilíbrios na balança comercial e dependência externa. Internamente, a retração do consumo e a estagnação da produção industrial refletem os custos sociais do ajuste fiscal agressivo em curso, que inclui cortes severos em gastos públicos e subsídios, com impacto direto na renda das famílias e nos níveis de emprego.
Simultaneamente, conforme noticiado pela Record News, o governo argentino sinalizou que poderá solicitar novamente ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a concessão de novos waivers (perdões temporários) por descumprimento das metas fiscais estabelecidas no acordo de facilitação estendida firmado em 2022 (RECORD NEWS, 2025). A solicitação, caso confirmada, representaria a segunda flexibilização concedida em menos de um ano e expõe a incapacidade do governo de cumprir com os compromissos internacionais assumidos, mesmo após a implementação de medidas draconianas de austeridade. O pedido evidencia que, apesar do discurso oficial de “ordem e responsabilidade fiscal”, a gestão Milei falha em apresentar resultados concretos, tanto em termos de estabilização macroeconômica quanto de sustentabilidade da dívida pública. A insistência em manter um modelo ultraliberal, descolado da realidade socioeconômica do país, tem produzido efeitos recessivos, corroendo a base de apoio social e fragilizando a confiança de investidores estrangeiros.
Esses dois episódios, ilustram de forma contundente os limites do modelo econômico argentino atual. A narrativa de sucesso propagada pelo governo Milei contrasta com os indicadores econômicos desfavoráveis e a crescente pressão por renegociações com organismos multilaterais. A estratégia de desregulação radical e redução do Estado não se traduz, até o momento, em crescimento sustentável ou melhora das condições de vida da população. Pelo contrário, o aumento da desigualdade, o encolhimento do mercado interno e a instabilidade institucional agravam a crise de legitimidade do Executivo, cuja capacidade de governar por decretos e confrontar o Congresso encontra obstáculos crescentes.
No plano regional, essas fragilidades repercutem diretamente na condução da presidência pro tempore da Argentina no Mercosul. Ao assumir o comando rotativo do bloco em um momento de intensa turbulência interna, o governo Milei enfrenta dificuldades em apresentar propostas coerentes e consensuais, como já demonstrado na recente tensão diplomática com o Brasil em torno da condução das reuniões sobre direitos humanos. A instabilidade econômica compromete a credibilidade da liderança argentina e dificulta sua capacidade de articulação com os demais membros, especialmente em temas como integração produtiva, tarifas comuns e resposta conjunta a pressões externas — como as imposições ambientais da União Europeia. A soma de desempenho econômico frustrante e descoordenação diplomática interna compromete não apenas a imagem de Milei, mas também a funcionalidade do próprio Mercosul como mecanismo de integração regional. Como presidente, a Argentina deveria exercer um papel articulador e confiável, especialmente em um momento crítico das negociações com a UE, no entanto, a fragilidade interna e o perfil ideológico confrontacional de Milei dificultam a construção de consensos regionais e fragilizam a posição do Mercosul como interlocutor coeso.
Referências:
FOLHA DE S.PAULO. Economia da Argentina cresce abaixo do esperado no 1º tri, com aumento das importações. São Paulo, 25 jun. 2025. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/06/economia-da-argentina-cresce-abaixo-do-esperado-no-1o-tri-com-aumento-das-importacoes.shtml. Acesso em: 26 jun. 2025.
RECORD NEWS. Argentina pode precisar pedir perdão ao FMI mais uma vez. News das 19h. 25 jun. 2025. Disponível em: https://noticias.r7.com/record-news/news-das-19h/video/argentina-pode-precisar-pedir-perdao-ao-fmi-mais-uma-vez-25062025/. Acesso em: 26 jun. 2025.
Eduardo Grecco é pesquisador do Geomercosul
