Coalizão Indústria considera que o País já sofre prejuízos com “tsunami” de produtos chineses
A indústria brasileira suspenderá investimentos caso o Mercosul e a China fechem um acordo de livre comércio. Dos R$ 826 bilhões programados para 2023-2027, por setores da Coalizão Indústria, composta por 14 entidades que representam 13 áreas da indústria de transformação, da construção civil e do comércio exterior, R$ 500 bilhões serão suspensos de imediato.
É o que afirma o coordenador da Coalizão, Marco Polo de Mello Lopes. Na avaliação dele, o acordo – ainda sem prazo ou garantia de conclusão, embora esteja em debate, sobretudo pelo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou – não pode prosperar, porque as empresas nacionais já estão sofrendo prejuízos com um “tsunami” de produtos chineses inundando o Brasil.
Os investimentos previstos até o momento estão divididos em:
- Construção: R$ 200 bilhões
- Alimentos: R$ 150 bilhões
- Máquinas e Equipamentos: R$ 87,3 bilhões
- Transformados em Plástico: R$ 83 bilhões
- Aço: R$ 81,7 bilhões
- Automotivo: R$ 81 bilhões
- Têxtil: R$ 41 bilhões
- Eletroeletrônico: R$ 35 bilhões
- Cimento: R$ 27,6 bilhões
- Farmacêutico: R$ 21 bilhões
- Calçados: R$ 10,2 bilhões
- Brinquedos: R$ 8 bilhões
Siderurgia sofre com as importações chinesas
Um dos grandes afetados pelas exportações da China, que poderiam ser facilitadas com parceria de livre comércio entre o país e o Mercosul, é a siderurgia, que tem amargado queda na demanda interna em razão da entrada de aço chinês.
Após um longo tempo de negociação, o setor conseguiu que o governo implementasse um mecanismo de defesa comercial em junho, porém, a medida ainda não surtiu efeito, já que as importações bateram recorde nos meses seguintes.
Também presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo diz que, nos primeiros três meses da portaria em vigor, as importações de nove produtos listados na regra temporária (válida por 12 meses), somaram 625 mil toneladas, das quais 46% entraram pelo regime de cota e 54% pagando 25% de imposto de importação ou por outros regimes. Analisando os números, segundo ele, a foi identificado um crescimento de mais de 100% na entrada de itens pelo Porto de Manaus.
O dirigente diz que é cedo para fazer uma análise da eficiência do sistema de cota-tarifa, entretanto, esse aumento incomum registrado na infraestrutura portuária sinaliza que algo não está funcionando de modo adequado.
Conforme ele, o próprio Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) acionou o Ministério Público, Receita Federal, Polícia Federal e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para verificar o ocorrido.
“É um momento extremamente delicado, que precisamos ter uma atenção redobrada junto com o governo para que consigamos ver de que maneira paramos esse ‘tsunami’”, disse o presidente do Aço Brasil em coletiva de imprensa da Coalizão Indústria nesta quarta-feira (25).
“Existem mecanismos que podem ser analisados em conjunto desde que o governo tenha disposição política para preservar e defender, a exemplo do que outros países estão fazendo, a indústria, empregos, mercado e investimentos”, enfatizou Marco Polo sobre o que poderia ser implementado para solucionar os problemas da siderurgia decorrentes das importações chinesas.
Setores têxtil e automotivo também são impactados
As demais lideranças da Coalizão Indústria que participaram da coletiva também expuseram suas preocupações com as importações de aço, entre elas, o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, e o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite.
Pimentel afirmou que as importações de têxteis cresceram 13% entre janeiro e julho, dez vezes mais do que a produção, que expandiu 3,6%. Conforme ele, se os produtos chineses continuarem entrando no País como estão e, se porventura, prosperar um acordo de livre comércio do Mercosul com a China, será um desastre para as indústrias e, em particular, a de confecção.
Por sua vez, Leite destacou que os emplacamentos subiram exponencialmente e de forma surpreendente de janeiro a agosto, porém, a produção não está crescendo tanto quanto o desejado. Um dos motivos para isso, segundo ele, são as importações, que subiram 35% entre os veículos já emplacados e 70% considerando os que estão em estoque nas montadoras e concessionárias.
“O volume importado pela indústria automobilística proveniente de produtos da China cresceu 800%. Se analisarmos apenas os emplacamentos, tivemos um crescimento de 339%”, pontuou.
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