Por Natália Flores
As demandas por serviços de saúde de homens e mulheres podem ser diferentes quando o assunto é multimorbidade. Uma pesquisa feita pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) mostra que o uso de serviços de saúde aumenta em 43% entre homens com multimorbidade, enquanto permanece estável entre as mulheres com e sem essa condição. Outro achado interessante é que, de forma geral, pessoas com duas ou mais condições de saúde, como diabetes, hipertensão, depressão, têm 18% mais chance de utilizar os serviços de saúde quando comparadas a pessoas que não apresentam essas condições.
Interessados em entender a associação entre o uso de serviços de saúde e diferentes graus de multimorbidade, os pesquisadores analisaram dados sobre condições de saúde e frequência de uso de serviços de saúde de 733 funcionários técnico-administrativos do município do Rio de Janeiro. O grau de multimorbidade foi avaliado por meio do número de morbidades relatadas pelos indivíduos. Na hora de analisar o material, os pesquisadores tomaram o cuidado de estratificar os dados por sexo – para verificar se haviam diferenças entre homens e mulheres.
As mulheres apresentaram graus mais elevados de multimorbidade, sendo que mais da metade delas (51%) sofrem com essa condição. Ainda assim, a multimorbidade não influencia no uso de serviços de saúde delas, mesmo quando se leva em consideração a sua idade e escolaridade. No universo masculino, a probabilidade de usar serviço de saúde aumenta em 14% a cada morbidade adicional.
A pesquisa lança luz sobre um tema ainda pouco estudado no Brasil: os padrões de uso de serviços de saúde por brasileiros com multimorbidade. “Até a publicação do nosso estudo, somente outros dois estudos haviam avaliado a relação da multimorbidade com algum componente do serviço”, comenta a pesquisadora Ana Semeão de Souza, autora principal do estudo. O grande destaque está para a avaliação do uso dos serviços por pessoas em idade laboral – os outros estudos haviam se focado na população idosa.
Um olhar sobre as diferenças de gênero e o modo como elas influenciam o uso de serviços de saúde em indivíduos com multimorbidade também é inovador. Essas peculiaridades podem ajudar gestores e profissionais de saúde a entenderem melhor as demandas por serviços de saúde dessa população. Os próximos passos da pesquisa, segundo Ana, será ampliar a avaliação de uso de serviços de saúde pela população com multimorbidade, englobando a população brasileira como um todo. “Assim, poderemos investigar possíveis desigualdades geográficas no acesso e utilização dos serviços de saúde entre esses indivíduos”, comenta.
Acesse o estudo aqui!