Entrevista com Fábio Figuera

O cuidado do paciente é uma utopia. Ainda assim, temos que lutar por essa utopia”. Fábio Alberto Camargo Figuera escolheu essas palavras para motivar a sua plateia na palestra que ministrou para um grupo de estudantes e pesquisadores da enfermagem, em Pelotas, no auditório da UFPel, na tarde da última sexta-feira. As palavras tinham sido ouvidas pelo pesquisador alguns dias antes, em palestra proferida no II Congresso Sul Brasileiro de Sistematização da Assistência de Enfermagem e a I Mostra Internacional de Cuidado de Enfermagem no Ciclo da Vida, no qual foi convidado. Usando-as como fio condutor, Fábio incitou sua audiência a refletir sobre a qualidade das práticas dos profissionais de saúde.

Colaborador Internacional do GBEM, Fábio é atualmente diretor da Escola de Enfermagem da Universidade Industrial de Santander, em Bucaramanga, Colômbia, onde também atua como professor de Enfermagem e pesquisador. Depois da sua palestra, o pesquisador falou com os membros do GBEM sobre suas impressões sobre a multimorbidade e o ensino em enfermagem no Brasil e na Colômbia. Confira a entrevista:

Por Natália Flores
GBEM – O que significa dizer que o processo de cuidado do paciente é uma utopia?
Significa pensarmos no tipo de cuidado ideal que queremos que a enfermeira ou o enfermeiro desenvolva. Pode ser que, na prática, elementos como o sistema de saúde e a estrutura hospitalar dificultem a realização desse processo, mas é preciso manter a utopia do tratamento e do cuidado ideais.
GBEM – Quais os desafios da pesquisa sobre multimorbidade?
Para a Colômbia são colocar na agenda a temática principal, para começar a falar nas instituições de saúde, nas universidades e, no final, nas decisões de política pública em saúde. Isso é muito importante na medida em que a população está ficando mais velha, na medida em que aumentam as doenças crônicas em países como os nossos.

GBEM – Qual a importância de articulações entre universidades de diferentes países?
Toda a importância, porque, acho que compartilhar objetivos, metodologias, conhecimentos de diferentes cenários e contextos facilita que esses desafios em multimorbidade sejam mais fáceis de serem resolvidos, para que se comece a falar em multimorbidade, para que se tomem decisões sobre saúde.


GBEM – Como é a atuação dos profissionais de saúde em casos de multimorbidade?
Sob o ponto de vista da universidade, há muito pouca informação específica sobre multimorbidade oferecida para a formação dos estudantes. No entanto, acho que é uma temática importante que precisa ser trabalhada em sala de aula para prepararmos, no nosso caso, os enfermeiros a lidar com esse cenário.

GBEM – Quais as diferenças e semelhanças do cenário da multimorbidade na Colômbia e no Brasil?
Somos países similares de certa maneira. Compartilhamos uma cultura latino-americana, assim como países africanos, europeus compartilham determinadas identidades. Compartilhamos determinados costumes. Acho que em saúde também somos similares. Os principais problemas do Brasil em saúde são similares aos nossos, na Colômbia. Mas também somos diferentes dentro dessa similaridade. Por exemplo, o território brasileiro e seu desenvolvimento é bem diferente do nosso, pois está ligado mais ao litoral. O nosso país tem uma população concentrada no interior e não tanto no litoral, embora a Colômbia tenha uma extensão litorânea ampla. Acho que o Brasil está mais à frente da Colômbia em termos de desenvolvimento social, econômico, por exemplo, no seu sistema de saúde.

A Colômbia está saindo de um período de 50 anos de conflito armado com as guerrilhas. Agora o país está num momento histórico bem importante, com a implementação da paz. O foco já não é mais a guerra, o conflito. A maioria dos recursos econômicos do país estava lá. Agora, digamos que o foco vai mudar para o que deve importar: a educação, a saúde, a infraestrutura. Vai ser um momento bem importante para o país. Nesse sentido, vamos ter mais investimentos no sistema de saúde e em políticas de saúde, que vão impactar na área da multimorbidade.

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