Jogo Inesquecível

Ao acordar, uma mistura de sentimentos invade meu corpo—algo que somente quem ama de verdade pode sentir: nervosismo, mãos suadas, ansiedade e os barulhos do lado de fora, comuns em dias de guerra. Logo cedo, a preparação para assistir à batalha começa. Mas como explicar para alguém que, mesmo sem saber o resultado da luta, seus seguidores podem estar rindo, cantando e confiantes de que, no final, tudo vai dar certo?

A resposta talvez esteja na história: todas as guerras já vencidas, todos os guerreiros que ficaram marcados por seus feitos e a noção de que nada poderia ter sido concluído sem esses seguidores ao lado— incentivando, comemorando e cantando a cada segundo.

O que não passa naquele dia é o tempo. O relógio insiste em caminhar devagar. O dia parece oprimir a noite, não deixando-a chegar. A mente tenta não pensar no que pode acontecer, mas aquelas perguntas ecoam: E se formos derrotados? E se não der mais uma vez?

Afinal, o feito tão desejado jamais foi concretizado. A desconfiança pairava no céu. Muitos fiéis davam como certa a vitória—e talvez fossem vistos como loucos. Os inimigos, por outro lado, davam como certa a derrota, mas jamais seriam escutados.

Então, ela finalmente chegou. A noite se fez presente, o clima era agradável, a festa estava formada e tudo parecia pronto para o começo da batalha.

A chegada dos guerreiros foi impressionante—inesquecível, eu diria. O céu, que antes se mostrava escuro como o mar profundo, se fez vermelho como o sangue que corre em nossas veias. O barulho ensurdecedor dos cânticos do povo arrepiava qualquer um, até mesmo quem não entendia o que era aquilo. Ao olhar para cima, fogos de artifício estouravam logo acima de nós. Nunca tinham sido vistos tão de perto—uma beleza inimaginável, um momento que ficaria para sempre na memória dos mais novos seguidores e também daqueles mais antigos, que já passaram pelas batalhas mais difíceis.

Ali estava ele: o momento tão aguardado. Nossos guerreiros estavam prontos, vestidos para a guerra, com todo o seu povo ao lado. Os guerreiros adversários também estavam prontos, mas, ao olhar para seus rostos, era possível perceber a realidade em que se encontravam. Naquele dia, naquele momento, nada que eles fizessem poderia tirar a vitória do nosso lado.

A batalha começa do jeito que muitos imaginavam: uma “trocação” franca entre nós e eles, ambos buscando um abate logo cedo. Eles atacavam com chutes agressivos e de longa distância. Porém, nossos guerreiros, sentindo o incentivo que vinha do entorno, com seus seguidores entoando seus mais conhecidos cânticos de guerra, sabiam que não poderiam desperdiçar aquele início eletrizante.

Então, logo de início… Um nocaute! Uma cabeçada linda, de surpresa, um golpe inimaginável que abalou o adversário. A festa foi instaurada: gritos de felicidade, cânticos ainda mais altos e sorrisos estampados nos rostos de todos. Estava se concretizando ali algo que jamais havia sido feito.

Porém, a batalha segue. Eles se levantam e vêm para cima. Querem se vingar do dano sofrido.

Hora da pausa. Um descanso para os dois lados e um alívio nos ânimos de todos os presentes. Nos rostos, um lindo reflexo de esperança e confiança.

Ao retornar para a batalha, eles vêm com tudo—afinal, o confronto se encaminhava para o fim. Eles atacam, atacam e não param. Nossos guerreiros se seguram e pedem logo pelo final. Porém, quando menos se espera… Segundo nocaute! Um chute maravilhoso! Eles não estavam prontos para isso, mas o nosso povo sempre esteve pronto para esse momento.

Depois daquilo, a festa só aumentou. Todos sabiam que a felicidade nos aguardava no fim.

Acabou!

Aquilo que jamais havia sido conseguido foi conquistado. A história foi escrita. O povo, que tanto apoiou, teve sua recompensa no final.

Sete de março de 2023. Ao puxar na lembrança, talvez você não se recorde de algo específico que ocorreu nesse dia. Porém, para mim, jamais sairá da memória. Foi tão marcante quanto o dia em que entrei em um estádio de futebol pela primeira vez, tão marcante quanto o dia em que chorei por esporte.

Nesse dia, minha alma se lembrou da razão pela qual sou apaixonado por um desporto que, numa visão rasa e simples, consiste apenas em chutar uma bola dentro de um retângulo feito de aço galvanizado.

E esse foi o meu Jogo Inesquecível: Brasil de Pelotas 2 x 0 Ponte Preta.

O Índio Xavante, pela primeira vez, passou para a terceira fase da Copa do Brasil.

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