BARENTENA

Barentena é um lugar de troca. Abrimos as janelas virtuais de nossas casas, para a nossa sala de conversar. Compartilhamos presença e troca de ideias. Pensamentos e estratégias num grande encontro, onde bebemoramos com chás, cafés, águas, vinho, cerveja e o que tiver em casa para celebrar a vida.
Tanto de ações artísticas quanto de experiências. Neste momento tão singular, é uma pausa para compreender o que passamos, onde comentamos sobre processos e atravessamentos deste com nossas existências.
Um bar onde, juntos, tomamos chá, cerveja, vinho e água, comemos, festejamos e falamos sobre as estratégias. Socializar sem se colocar em risco. Fazemos uma conexão com “nosoutros”, oriundos de diversos lugares do Brasil: um coletivo virtual de trocas entre corpos virtuais em metamorfose.
Estamos mergulhados e imersos em casa, tentando lidar com o “novo normal” como podemos. O vírus nos obriga a decantar a vida. Nossos processos investigativos, atravessados pela deriva do espaço doméstico, assumimos alguns devires. Devir arquipélago, devir casulo, devir arranha, devir formiga, devir gato, devir pássaro: todas estas forças geo-biológicas que, neste momento de experiência interna, nos ajudam a encontrar potência dentro casa.
Este encontro pela internet, abrange como forma de expressão as mais diversas linguagens artísticas: caminho inventivo sobre as sensações de vida e as tristezas da mortes: a presença e o perigo que vem de fora. Assim, a Barentena anuncia um núcleo onde nós deixamos fluir as percepções e forças, dando contorno as impressões que surgem. Nestes instantes, reverberamos os lugares – escoamento dos espaços habitados – com o corpo. Colocar a prática compartilhada do artista em sintonia com o acontecimento singular da pandemia.
No que toca a temporalidade e efemeridade que circunda este período, os efeitos que causam o distanciamento social trazem à tona expressões: uma paisagem se faz necessária para compreender esta ocasião. Criamos novas janelas para nossas casas e estas são habitas e preenchidas com relatos e carinhos aos que estão distantes. Aproximamo-nos do outros e nos tornamos um: “nosoutros”. Esta mesma janela também nos mostra que estamos permeados com um novo vizinho: o vírus. Este, força-nos a novos encontros e outras formas de existência que escapam do adoecimento. Uma pausa para novas formas de existência.
Nós, animais, nos modificamos e o vírus também. Com isso, questionamo-nos: O quanto somos livres? Porque superestimamos a liberdade? Porque a mobilidade do outro é perigosa para mim? Quais foram as condições que permitiram a existência deste vírus? Como romper as estruturas e modos de vida hegemônicos para ter potência de existência?
Nosso processo toca e afecta diretamente nossas existências e, nesta circunstância, pensar sobre o contexto nos faz dar consistência aos saberes produzidos. Sentir, projetar novas ideias, desacelerar o consumo e estar saudável são formas de não cair no abismo da banalização da importância deste momento. Um novo pensador surge: o oikospatético. Se na Grécia antiga os peripatéticos eram os pensadores que passeavam ao ar livre com o seu grupo, o oikospatético (oikos, no grego antigo, era a denominação de casa) anda pela casa, conectado pela internet com os outros para pensar.
Barentena é organizado por Tatiana Duarte e Thiago Rodeghiero