O Conselho Universitário da Universidade Federal de Pelotas aprovou, em reunião nesta quarta-feira (6), a criação de três novos cursos de graduação. A partir do ano letivo de 2023, estudantes terão como opção de ingresso tecnologia em Comércio Exterior, bacharelado em Design de Jogos e licenciatura em Letras – Libras e Literatura Surda.
A aprovação dos cursos veio após uma extensa discussão dentro do órgão colegiado supremo da Universidade, que totalizou mais de cinco horas de debates: a reunião iniciou na manhã de terça-feira (5) e precisou ser interrompida por ter chegado ao teto proposto de duração, prosseguindo no dia seguinte.
Entre os conselheiros, foram levantadas questões contrárias à criação, como a necessidade de investimento e estruturação de outros cursos já existentes e a crise orçamentária que atinge as universidades públicas, mas também favoráveis, como o argumento de possibilitar o acesso a estudantes trabalhadores, a sintonia com propostas de formação inovadoras e o atendimento inclusivo dos novos cursos, além de o fato de dois deles não precisarem de investimentos em infraestrutura.
O debate também incluiu a participação da sociedade pelotense, especialmente daquela ligada comunidade surda; o grupo se fez presente nas duas sessões que compuseram a reunião durante a qual seria apreciada a pauta.
Prevaleceu a opinião que os novos cursos agregarão à formação proporcionada pela UFPel à sociedade e permitirão um acesso mais democrático à população, devido ao fato de que as três propostas contemplam cursos noturnos. Comércio Exterior foi aprovado com 33 votos favoráveis, 4 contrários e 14 abstenções; Design de Jogos teve 31 posicionamentos pela criação, 4 contra e 14 abstenções; e Libras teve uma votação de 37 pessoas para a criação e 13 abstenções, sem nenhum voto pela não implantação.
A reitora da UFPel, Isabela Andrade, diz perceber a criação das novas formações como um olhar para o futuro da Universidade e da sociedade: “Queremos pensar em novos tempos e em um futuro promissor”. Segundo a gestora, a atenção da instituição deve estar voltada para o desenvolvimento social, pensando uma formação que leve em consideração o mundo do trabalho.
Compartilhar novas possibilidades
A criação dos novos cursos é fruto de uma provocação iniciada pela gestão da Universidade Federal de Pelotas aos diretores de unidades acadêmicas, de pensarem novas possibilidades de formação levando em consideração os recursos físicos e humanos já existentes. Alguns critérios foram colocados para as propostas: a principal delas é que os cursos fossem noturnos, visto que a UFPel é a universidade federal brasileira com menor índice de oferta de vagas nesse turno. Também deveria ser considerado um estudo de viabilidade do mundo de trabalho para o recebimento dos profissionais formados, além de deverem ser priorizados projetos que fossem voltados para a acessibilidade e inclusão e para a formação de trabalhadores.
Das discussões fomentadas, foram encaminhadas essas três propostas. Os méritos acadêmicos dos projetos pedagógicos foram aprovados pelo Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão (COCEPE) na última quinta-feira (30), faltando apenas o aval do Conselho Universitário. Com a aprovação, os cursos já poderão ser ofertados no ano letivo de 2023.
Comércio Exterior
A localização da Universidade Federal de Pelotas a poucos quilômetros da fronteira com o Uruguai e nas adjacências de portos, aeroportos e rodovias foi o motivador para a proposta do Centro de Ciências Sócio-Organizacionais, o curso de Tecnologia em Comércio Exterior. É uma região que pode se aproveitar muito de mão-de-obra qualificada para as transações comerciais internacionais, de acordo com a proposta.
Será o primeiro tecnólogo na área em universidades federais brasileiras. A formação tecnológica também é uma forma de proporcionar uma formação de nível superior rápida, trazendo uma capacitação aos trabalhadores, mais uma vez democratizando o acesso ao ensino superior. O curso também será uma oportunidade para uma segunda graduação para profissionais da Administração ou das Relações Internacionais, por exemplo.
O curso terá a duração mínima de quatro semestres. Serão oferecidas 40 vagas, que terão como métodos de seleção o Programa de Avaliação da Vida Escolar (PAVE) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Design de Jogos
Unir arte e tecnologia: com essa premissa, a proposta de novo curso trazida pelo Centro de Artes mira nos jogos a partir de um projeto instigante e inovador. O bacharelado em Design de Jogos optará não apenas pela programação dos jogos, mas sim em todo o desenvolvimento e processo de criação, unindo áreas como roteiro, narrativa, regras, estética, animação e trilha sonora.
Focando em uma área com grande potencial de expansão, o curso aposta em multidisciplinariedade para oportunizar muitas trocas com outros cursos da área das artes e da tecnologia: o curso também contará com docentes do Centro de Desenvolvimento Tecnológico. A ideia é que não apenas jogos digitais sejam desenvolvidos. O curso também contemplará jogos analógicos e também “jogos sérios”, voltados para atividades pedagógicas e terapêuticas.
Com uma duração mínima de oito semestres, terá oferta de 25 vagas. Os estudantes serão selecionados por meio do Programa de Avaliação da Vida Escolar (PAVE) e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Letras – Libras e Literatura Surda
Se o grande conceito nos novos cursos é acessibilidade e inclusão, um dos que mais o traduzem é a nova licenciatura em Letras com habilitação em Libras e Literatura Surda. De relevância social evidente e proposto a partir de um projeto altamente inclusivo, será a primeira licenciatura em Libras do Rio Grande do Sul e o primeiro curso que inclui a formação em Literatura Surda no Brasil.
A criação desse curso é uma demanda histórica na UFPel, remontado ao início da década de 2010, e foi uma meta proposta no programa de gestão escolhido pela comunidade na última consulta informal, em 2020. O curso de graduação em Libras é o único dos propostos que precisará de nova infraestrutura, além de ter mais vagas docentes reservadas. No entanto, é considerado estratégico pela administração da Universidade.
O curso terá a duração mínima de nove semestres. Serão ofertadas 30 vagas anuais. Além do ingresso pelo Programa de Avaliação da Vida Escolar (PAVE), com nove vagas, e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com cinco, o projeto pedagógico prevê que 16 estudantes sejam selecionados por meio de processo seletivo específico.