Espaço: trajeto da estação Tor Sapienza até o Centro de Imigração .
Tempo: diversos momentos entre março e junho de 2019.
Bando: individual, realizada pelo arquiteto Eduardo Rocha.
Registro: fotografias e caderno de campo.
Caminhografia:
Um lugar sinistro. Hoje encontrei uma outra Roma. Dos imigrantes e refugiados. Depois de pegar ônibus, metrô, trem e caminhar. Caminhar por ruas sem calçadas, vazias e abandonadas. Encontrei a caravana que me levou para um edifício “moderno”.
Todos caminhando em fila indiana. chegando lá uma fila enorme me espera. Brancos de um lado, Pretos no outro. Imigrantes e Refugiados. Línguas e vestimentas diversas. Travessia. Silêncios. Poucas vozes. Nenhuma conversa. Espera. Uma mulher chora, porque não pode entrar com o marido na entrevista. Os policiais são “amáveis”. Bebês imigram em carrinhos, crianças brincam. Outros lagarteiam no sol… Eu escrevo e fotografo, não sei o porquê. Uma chinesa de grife Chanel, uma árabe de burca, um africano com suas roupas coloridas. E eu com uma meia dos Beatles. Todos com celulares. Máquinas de café, de água, foto tessera. Ninguém percebe que escrevo é fotógrafo. Meu horário é às 11h30m, mas agora chamam os de 10h. Muitos fumam na espera, os policiais italianos fumam. Não acreditava no não-lugar. Algumas “pessoas” são revistadas na porta, “eu fui poupado”. Faz frio nesse descampado, o termômetro marca 11graus, parece o pampa, estamos de novo perdidos no Uruguay. Estou na corda. Aeroporto de Roma. Sou chamado. Nova fila, detector de metais. Policial pede para ver meu chaveiro, que está dentro da mochila. O chaveiro é um abridor de garrafas e diz Roma. Mais um brete, subir 3 lances de escada, no escuro. Mais um check-in. Sala de espera com tela digital, com sobrenomes. Não sei porque, as primeiras fotos que publiquei se apagaram do Facebook, não aparecem mais para mim. Na espera só pelo meu sobrenome. Penso em fotografar meu sobrenome, o policial diz: não pode fotografar aqui! Todas as pessoas sentadas com o seu celular em punho, me olham. Todos guardam os aparelhos. Sou chamado no box 2, vou até lá, o policial me manda voltar e aguardar. Em seguida outro vem gritando meu nome, Rocha box 11. Vou atrás. Todos os policiais conversam sobre futebol, todos os imigrantes em silêncio. Línguas que não se falam, olhares que divergem e pensamentos que se tocam. Me lembraram as conversas entre médicos e enfermeiros, durante uma cirurgia. Sou atendido de forma seca e rápida, impressão digital, foto. O policial pergunta meu telefone e o bairro onde moro? Respondo: Trastevere. Ele faz cara de espanto. Do tipo oooooh. Carimbos ele fala várias coisas que não entendo. Vou embora, meio sem saber sobre tudo que aconteceu. Chego na estação de trem vazia, quase abandonada. Espero o trem que me leva de volta a Roma. Mi guardo indietro e dico addio.