A relação com a comunidade e os desdobramentos políticos

Segundo a professora Beatriz Loner, o processo de criação da UFPel, iniciado em 1968 por políticos e professores da região, foi resultado de uma intensa campanha de mobilização da opinião pública, de pressões e gestões junto a políticos e órgãos federais, no sentido de unificar-se os vários institutos de ensino superior existentes na cidade num único conjunto, ampliando o número de cursos e unidades e potencializando os recursos disponíveis, até então dipersos ou divididos entre vários órgãos.

Essa campanha surgiu de lideranças políticas da cidade, juntamente com setores dos vários cursos envolvidos. Apenas setores, pois havia, por parte de um grande número de professores, o temor da perda de prestígio, posição ou direitos conquistados, especialmente para aqueles cursos já vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, principal instituição universitária do Estado.

Para os cursos integrados à Universidade Federal Rural do Rio Grande do Sul, o problema adquiria outra dimensão. Eles estavam em processo de estruturação de uma nova universidade, esta com o caráter de verdadeira instituição de ensino, pois administrada pelo Ministério da Educação e não mais pelo Ministério da Agricultura, como a antiga URS. Nessa nova universidade, o principal estabelecimento seria a Escola Eliseu Maciel, e essa posição poderia vir a ser perdida diante de uma composição com as outras unidades que formariam a UFPel. Nessas unidades, entretanto, havia elementos que consideravam que a formação de uma nova universidade, nos mesmos moldes que as demais, seria mais interessante do que permanecerem atrelados a uma entidade da qual não passavam de meros apêndices ou a uma Universidade Rural, cujo próprio nome parecia limitar, em parte, seus objetivos.

Para as lideranças políticas da região e para os cursos que viam na criação da UFPel a conquista de sua própria federalização, a fundação da universidade era um objetivo essencial, inclusive para auxiliar no desenvolvimento econômico e cultural do município. Dessa forma, puseram-se em campo. Os vários lances dessa campanha passaram pela busca de apoio entre a população e autoridades, destacando-se o deputado e depois ministro da Educação, Tarso Dutra, e o próprio general Costa e Silva, presidente da República, o qual havia residido em Pelotas anteriormente e manifestado o desejo de “dar um presente” à cidade que o acolhera amistosamente, segundo depoimentos de contemporâneos.

Como havia a necessidade de um mínimo de cinco unidades de ensino para que pudesse ser formada a universidade, aceitou-se a agregação da Faculdade de Medicina do Ipesse, além do Conservatório de Música e da Escola de Belas Artes.

A UFPel foi criada sob a forma de fundação de direito público, fato que também provocou muita polêmica entre os membros do corpo universitário, preocupados com as possíveis consequências que isso traria, pois preferiam que fosse fundada como autarquia.

Contudo, em que pesem esses fatores, a UFPel surgiu principalmente como resultado do processo de interiorização do ensino superior, aliado à nova orientação de procurar aglutinar os estabelecimentos isolados, transformando-os em instituições universitárias. Criada em 1969, no período de maior agudização do regime militar no país, ela já vai ser estruturada dentro dos princípios da Reforma Universitária.

Promovendo-se nesse período a expansão e massificação do ensino superior, ao mesmo tempo que lançando-se mão de medidas repressivas e autoritárias, inibindo a contestação, quer dentro do recinto acadêmico, quer fora dele, a política educacional do regime militar deu nova dimensão ao ensino superior no estado e no país.

Nas universidades federais, a Reforma provocou várias mudanças, entre elas a transformação das estruturas organizacionais, eliminando a figura do professor catedrático e criando os departamentos. Promoveu-se a matrícula por disciplinas e incentivou-se a criação de cursos de curta duração, voltados para as necessidades mais imediatas do mercado de trabalho.

Paralelamente a estas transformações, leis desarticuladoras dos movimentos organizados passaram a ser postas em prática, reprimindo a manifestação de alunos, docentes e funcionários. Tal como o restante da sociedade, naquele momento engessada e imobilizada pela decretação do AI-5, a universidade brasileira teve que se submeter às novas diretrizes.

Como universidade nova e que recém iniciava sua implantação, a UFPel teve sua formação balizada por esta reforma, da qual nem suas unidades mais antigas conseguiram escapar.

A UFPel era vista como uma forma de trazer mais dinamismo à economia pelotense e auxiliar na solução dos problemas históricos que entravavam, na visão dos seus promotores, o desenvolvimento da região sul como um todo. Ainda hoje, a Universidade é uma instituição de peso dentro da cidade: seu orçamento é o segundo do município, só inferior ao da Prefeitura e, mesmo assim, por pequena diferença.

Sempre buscado, o patrocínio federal deu aos cursos existentes condições de desenvolvimento antes inimagináveis, o que se refletia claramente na melhoria e profissionalização do corpo docente, no aumento e procura de vagas pelos estudantes, na construção e equipamento de novos prédios.

Outra influência relevante na criação e manutenção das primeiras unidades foi a Maçonaria. Odontologia, Farmácia e Direito foram obras de profissionais liberais maçons, e até na fundação da Medicina, várias décadas depois, ela participou, senão efetivamente, pelo menos com o seu apoio. Outras categorias e setores sociais acompanhavam os processos de mobilização, também considerando as instituições de ensino superior como uma possibilidade para o desenvolvimento social e econômico da cidade.

Organizados em grêmios e na Federação Acadêmica Pelotense, fundada em maio de 1923, os estudantes sempre tiveram um papel atuante nessas lutas, especialmente na federalização da Escola de Agronomia, em 1945, na campanha pela incorporação do Direito e Odontologia, em 1947/48, e na criação da UFPel, em 1968/69.

UFPel: Uma história escrita em três séculos

Resenha histórica

Contextualizando

Estruturação e desenvolvimento

O processo de expansão

Anglo: De frigorífico a principal campus

Cotada: De fábrica de massas a Centro de Engenharias

Laneira: De manufatura de lãs a centro dedicado à saúde

Na antiga cervejaria a Cultura pede passagem

Casarão 8: Suntuoso imóvel sediará museus

Prédios contam a história