Por Kaique Cangirana/Superávit Caseiro
A cidade que possui o estádio mais antigo do Brasil (Boca do Lobo), o primeiro teatro construído no
estado, museus, acervos históricos e as charqueadas que movimentaram a economia da região, encontra desafios e grandes oportunidades a partir do turismo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, expõem progresso e posicionam a cidade de Pelotas como a 8ª principal economia do estado do Rio Grande do Sul, números impulsionados por áreas como o comércio,
serviços e o agronegócio.
Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o setor representará 11,3% da economia global, movimentando US$14,6 trilhões ao longo dos próximos anos. A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), relatório de informações socioeconômicas solicitado pelo Ministério do Trabalho, constatou que em 2020, ano mais atingido pela Pandemia da Covid-19, foram mais de 97 mil pessoas
empregadas pelo setor de turismo no estado do Rio Grande do Sul, com destaques para o emprego em hotéis e restaurantes. Já de acordo com dados do Observatório do Turismo, no primeiro semestre de 2022 (período pós pandêmico), o aeroporto de Pelotas (1,7%) foi o 3º maior destino final de passageiros, ficando atrás apenas de Porto Alegre (88,8%) e Caxias do Sul (2,3%) . Em 2020, a Costa Doce Gaúcha, região turística da qual Pelotas pertence, registrou 6.160 empregos voltados ao turismo na região. A mesma região representa, segundo dados do IBGE em 2019, 7,8% do PIB do estado.
Em entrevista ao Superávit Caseiro, a presidente do Grupo Associativo dos Empreendedores do Turismo Rural de Pelotas, Nivea Saraiva, ressaltou a atuação das instituições voltadas ao turismo na cidade. “Nós (do Grupo Associativo dos Empreendedores do Turismo Rural de Pelotas) contamos com 12 diretores e trabalhamos com os empreendimentos, qualificação, novos produtos, divulgação em feiras e seminários. Na Diretoria de Turismo da Associação Comercial de Pelotas (ACP), já trabalhamos com o turismo junto ao empresariado, o turismo da cidade “, disse. As diretora também citou as possibilidades de turismo na cidade e ressaltou a importância de parcerias público-privado para o desenvolvimento das atividades no setor: “A cidade de Pelotas tem muitas possibilidades de turismo. Hoje nós temos 16 tipos de turismo elencados no Brasil, e todos eles, nós possuímos em Pelotas. Alguns exemplos são: o turismo de aventura, o turismo de compra, o turismo religioso, o turismo de esporte, turismo patrimonial e da natureza também. Pelotas é muito rica nesse sentido, as pessoas não sabem que Pelotas oferece tudo isso, então, muitas vezes não aproveitam todos esses lugares e todas as agendas culturais. Estes eventos e locais estão sendo mal divulgados sem uma parceria entre o privado e o público. Então, é necessário chamar o privado para trabalhar junto e divulgar agendas culturais, datas comemorativas e diversos eventos”, ressalta.
Nivea Saraiva complementa afirmando que seria muito importante a existência de colaboração deste tipo nas secretarias de turismo para explorar melhor o setor. “Eu posso dizer que o turismo rural cresceu muito. Só no ano passado, vieram mais de 10 novos empreendimentos. Nós temos tido dificuldade em obter mais alojamento para as pessoas, porque as pousadas lotam e ainda temos poucas disponíveis. Então, na realidade, a gente precisa de incentivo público e também de novos investidores”, afirmou. Nivea também avaliou e propôs medidas para o desenvolvimento do turismo na cidade, ressaltando a importância da população no processo: “Para que o turismo se desenvolva, teríamos que ter um grupo técnico dentro da secretaria, desde o secretário até sua equipe técnica, porque acaba sendo tudo muito político. Essa equipe poderia trabalhar frente a todos os eventos, tudo que acontece na cidade com a divulgação do turismo, aquilo que a gente oferece. Isso já movimentaria muito a economia da nossa cidade e garantiria muitos empregos. Também é preciso conscientizar o nosso povo, demonstrar como o turismo vai nos ajudar, fazer crescer e movimentar a região. Então, é importante que as pessoas conheçam e divulguem o que tem na sua cidade, com um senso de pertencimento e reconhecimento da amplitude de possibilidades do turismo da cidade. ” concluiu.
Já o pelotense e narrador da World Wrestling Entertainment (WWE), Roberto Figueroa, descreveu suas experiências para exemplificar o potencial e o repertório histórico de Pelotas para o turismo: “Trabalho com jornalismo esportivo desde 1995, como narrador e comentarista, já fiz diversos esportes por empresas americanas. Com isso, conheci diversos países de todos os continentes a que fui a trabalho ou turismo. Por isso, minhas opiniões sobre Pelotas são baseadas no que reconheço da cidade e a comparação com outros lugares do mundo. E em comparação com outros lugares que conheço, Pelotas tem tudo. Porém, ainda não há uma organização, um trabalho na cidade que transforme o visitante da cidade em turista. Na minha opinião, um visitante de Pelotas poderia passar ao menos quatro dias na cidade, sem repetir nenhum passeio, nenhum lugar. Há tantas coisas para se fazer que podemos realizar uma suposição entre as possibilidades.”, constatou o narrador.
Para Figueroa, em um primeiro dia, um visitante pode ir ao centro histórico, aos prédios e à estação ferroviária. “É bom destacar que Pelotas é uma das poucas cidades a unir a matriz política e cultural da cidade. Os fundadores de Pelotas planejaram e fizeram questão de separar a religião com as igrejas (bases centrais para muitas cidades) da política, visivelmente e especificamente aos arredores da Praça Coronel Pedro Osório. É um fato da cidade que renderia uma palestra inteira. Os casarões planejados por arquitetos europeus, foram construídos por pessoas escravizadas que deixaram suas marcas nas construções, muitos casarões com detalhes como impressões digitais que marcam a presença dessas pessoas.”, lembrou.
Já no segundo dia, complementa, este visitante poderia passar pelas praias, parando no Parque Una, um case de urbanização para o Brasil inteiro. “Eles conseguiram o arranjo de um sistema que colabora não só com os moradores do parque, mas também com a comunidade que consegue acessar os espaços. Isso é inédito no Brasil e em comparação com estados e cidades brasileiras, é uma atração à parte. Após este trajeto, o visitante pode chegar ao Laranjal, uma praia maravilhosa, e percorrer o caminho até a Colônia Z3 e Pontal da Barra, onde o fim de tarde tem um pôr do sol único. No terceiro dia, o visitante poderia ir à Colônia, a zona rural que oferece diversos passeios atrativos e únicos na cidade. No quarto dia, o visitante pode aproveitar a parte histórica e cultural de Pelotas, o Teatro Sete de Abril e o Teatro Guarany. Não há outra cidade brasileira com dois grandes palcos de cultura e entretenimento em um espaço tão curto como há entre eles. Os museus, as charqueadas… Esses seriam os passeios, que ao mínimo de quatro dias, um visitante poderia fazer, sem contar com a grande gastronomia, incomparável e com um ótimo custo benefício em relação às outras cidades e capitais. É aí que acredito que Pelotas pode agir”, avalia.
Roberto Figueroa também apontou medidas que poderiam valorizar os pontos turísticos e comerciais da cidade de Pelotas: “Uma administração deve focar em 3 pontos: educação, saneamento básico e segurança. Para mim esses são os principais focos para uma prefeitura cuidar, mas ainda sim, poderia desenvolver parcerias público-privadas para o desenvolvimento em outras áreas. O aeroporto é um exemplo fundamental. Uma pessoa que pousa no aeroporto de Pelotas para ir a Rio Grande por exemplo, não se depara com uma placa sequer, uma carta que mostre a cidade, o Centro Histórico, o Mercado Público ou locais como o Laranjal. Você não vê nada. Falta uma secretaria mais incisiva, específica e diferente da mistura com outras pastas que temos hoje. Então, falta essa publicidade dos locais e dos comércios da cidade. São ações para organizar, por isso, a iniciativa privada com comércios, restaurantes e hotéis, poderiam participar deste processo numa eventual parceria”, conclui o narrador.
Um Relatório de Análise do Fluxo Turístico de Pelotas elaborado pelo SEBRAE em 2022, constatou que 193.017 turistas vieram à cidade durante o Evento da Fenadoce naquele ano. O fluxo de turistas veio principalmente de outras cidades do Rio Grande do Sul e de estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais. Em 2023, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Turismo e Inovação de Pelotas investiu R$12.048.000 na pasta, média de 1.004.000,00 investidos mensalmente. Em janeiro de 2024 este valor caiu para 484.433,80, retratando uma queda de aproximadamente 52% em investimentos. Em âmbito nacional, a Lei Orçamentária Anual de 2024 (Lei nº 14.822/24) prevê despesas de R$ 9,5 bilhões de reais para as funções de comércio e serviços, sendo R$ 107 milhões, competências do mesmo escopo no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, setores estratégicos para o turismo e hotelaria. O Boletim de Inteligência de atração de investimentos em Turismo do Ministério do Turismo do Brasil, mediu aumento em grande parte dos empregos voltados ao turismo no país entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023. O levantamento da Coordenação Geral de Formalização e Fiscalização de Prestadores de Serviços Turísticos (CGST), comparou o número de registros no Cadastur (Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos). (imagem: Dados do Cadastur) O boletim também mapeou as motivações: “Crescimento do Mercado Interno” e “Proximidade com mercados ou clientes”, como principais atrativos de investimento externo no turismo brasileiro. O boletim completo está disponivel em: https://investimento.turismo.gov.br/wp-content/uploads/2023/10/Boletim-de-Inteligen
cia-1_2023-Portugues3.pdf.
Em meio a dados promissores, oportunidades, os interessantes fatos da cidade e suas perspectivas históricas, a “Capital Nacional do Doce”, “Cidade do Charque” ou “Princesa do Sul” reserva vastas riquezas que podem ser destinos cada vez mais comuns para turistas do Brasil e no mundo.