Por Maria Rita Rolim/Superávit Caseiro
O Mattilde Boteco é um dos bares mais populares da cidade de Rio Grande, local que teve seu início em 2018 e já acumula diversas histórias em uma jornada curta e intensa. Ganhando cada vez mais o carinho de quem frequenta, com um ambiente acolhedor e deixando sua marca registrada na cena cultural da cidade, seu sucesso é um testemunho da paixão e dedicação de uma equipe composta exclusivamente por mulheres, que transformaram um sonho em uma realidade vibrante e cheia de histórias para contar.
Juliana Freitas, tem 33 anos, é estudante de Administração e co-fundadora do Mattilde, em parceria com Lisielle Ramirez. O nome Mattilde é em homenagem à gatinha de Juliana e Lisielle, que infelizmente já se foi. Iniciar um empreendimento pode representar uma jornada singular e repleta de desafios, em razão de diversos fatores, expectativas sociais e dinâmicas específicas, como os altos e baixos. Nesta entrevista ao Superávit Caseiro, Juliana conta como foi a jornada até o Mattilde se tornar o lugar favorito de happy hour de muitos rio-grandinos.
SUPERAVIT – Como surgiu a ideia de iniciar seu próprio negócio?
Juliana Freitas – Bom, a ideia vem de muito tempo, lá da minha adolescência. Eu estava passando próximo do lugar que hoje em dia é o bar com um grupo de amigos, alguns com dinheiro e outros sem, e o pessoal decidiu ir num bar ali da volta. Eu era do grupo sem dinheiro, e nesse dia passou pela minha cabeça: “Eu vou ter um bar”. A partir daí eu comecei a construir esse sonho. Logo depois, ano após ano, eu fui construindo esse sonho, comecei a planejar, comecei a ler e estudar como eu poderia fazer isso. Assisti muitos vídeos sobre o assunto, até que chega 2017 e eu estava sem emprego desde 2013, procurando emprego na minha área e não conseguia. Eu sou técnica em segurança do trabalho e quando chega 2017 eu recebo uma ajuda financeira a qual eu destino exclusivamente para isso, para abrir o bar, nisso eu chamo a Lisielle Ramirez para ser minha sócia entrando cada uma com uma parte de 50/50 e conseguimos abrir o bar. No início com muito pouco dinheiro, com pouca estrutura, sem maquinário foi basicamente na fé e na coragem que fizemos. E deu tudo tão certo que em 6 ou 7 meses tudo dobrou de tamanho.
SUPERÁVIT – Como lidaram com o período de pandemia? Como foi ser empreendedora nesse período?
Juliana Freitas – Sobre a pandemia, eu gosto muito de falar sobre isso porque é a maneira que eu tenho de mostrar que existe gente muito boa nesse mundo. No nosso caso, a proprietária do imóvel e a pessoa que fazia a manutenção, eles abonaram totalmente nosso aluguel, durante os dois anos de pandemia nós não pagamos nada. Na verdade, nós optamos por pagar a taxa da imobiliária, para a imobiliária não sair no prejuízo. Elas foram anjos na Terra para nós pois elas simplesmente entenderam que nós não tínhamos de onde tirar dinheiro, contudo, mesmo assim a gente tentou trabalhar durante esse período, fizemos exatamente tudo como tinha que ser feito. Nós optamos por ser bem rígidas com todas as restrições exigidas dentro do bar, e a gente sempre falava: “vamos ser corretas, porque essa pandemia vai passar e nós vamos ser recompensadas por isso”.
Mas em relação a empreender nesse período, foi extremamente difícil, porque mesmo não pagando aluguel nós não tínhamos de onde tirar dinheiro porque nós praticamente não trabalhávamos. Tentamos colocar lanche e até que deu certo mas tivemos que tirar porque nosso valor foi muito abaixo do mercado e com isso acabamos ficando no vermelho. Por que o que acontece no nosso caso, ali no Mattilde, nós vendemos o entretenimento, o ambiente, a música, um bom atendimento e no delivery não tem isso e nós entendemos que o pessoal busca isso. E as contas elas bateram na porta, em dezembro desse ano eu pago a última parcela de um empréstimo que eu fiz na pandemia que foi para arcar com as nossas dívidas, por que mesmo sem pagar aluguel ficou tudo para trás como contador, imposto, luz e tudo isso virou uma bola de neve. Mas concluindo, o que eu posso dizer é que foi desafiador empreender durante a pandemia, eu não desisti nunca, nenhum dia, teve dia que abrimos o bar e não entrou ninguém mas batemos na tecla que não podíamos desistir por que o Mattilde é o Mattilde e as pessoas sempre amaram a nossa proposta e uma hora tudo aquilo iria passar e foi o que aconteceu.
SUPERÁVIT – Quais são seus planos futuros para o crescimento de seu negócio?
Juliana Freitas – Bom, os planos futuros para o crescimento começaram neste mês, inclusive, a Lizi e eu saímos completamente do operacional. Eu sou atualmente responsável pela administração do bar e faço toda a parte da criatividade e a Lizi é responsável pelas compras: tudo que entra no bar passa pelas mãos dela. Nós estamos pensando para o ano que vem (2024) abrir uma filial na Praia do Cassino. Temos planos também de colocar alguns itens no Ifood e, quem sabe, mais adiante fazer uma cafeteria no mesmo ambiente do bar. Eu percebi que o pessoal pede bastante uma cafetaria mais descolada aqui na cidade e as pessoas nos sugerem para fazermos isso, mas esse é um plano que ainda não está maduro, porém, acho que com a minha visão empreendedora pode dar certo. Nós temos uma boa localização e o ambiente favorece para que as pessoas que queiram estar ali durante o dia tomando um bom cafezinho. Então esses são os nossos três planos futuros para o crescimento do bar.
SUPERÁVIT-Quais recursos ou ferramentas você acha mais úteis para o sucesso de sua empresa?
Juliana Freitas – Os nossos recursos e ferramentas que usamos no Mattilde são inteligíveis, basicamente o simples e bem feito, além da criatividade. Eu, como pessoa que estou empreendendo há 5 anos, vejo que esse é o nosso “segredo”: nós fazemos o simples e muito bem feito e contamos muito com a nossa criatividade e eu acredito que essa é a fonte do nosso sucesso.
SUPERÁVIT – Como você lida com o estresse e a pressão associados ao empreendedorismo?
Juliana Freitas – Eu sou muito prática e muito organizada, então tudo que eu puder minimizar o estresse eu minimizo. Realmente é muito estressante empreender, é muito estressante precisar entregar algo 99% bom, porque nós nos sentimos cobradas e observadas o tempo todo. Porém, eu acho que a minha organização faz com que todos esses fatores sejam menos problemáticos e esse é meu maior segredo, pois realmente é muito estressante, mas eu consigo lidar melhor com isso sendo organizada.
SUPERÁVIT – Você tem algum conselho para outras mulheres que desejam iniciar seu próprio negócio?
Juliana Freitas – O meu conselho para outras mulheres é para que simplesmente façam e não deixem passar a vontade de ter o seu próprio negócio. O segundo conselho que eu daria seria que a criatividade é mais importante do que o dinheiro que vai ser empregado no negócio. Obviamente o dinheiro é necessário, mas a criatividade é o mais importante pois ela faz você quebrar um padrão, ela atrai mais pessoas. Então, meu conselho é: empreendam com a ideia de não colocar o dinheiro como o principal motivo ou motivação, afinal, às vezes você pode ter um negócio maravilhoso sem necessariamente você ter investido muito dinheiro
SUPERÁVIT – Quais são seus maiores orgulhos ou conquistas como empreendedora?
Juliana Freitas – Acho que meu maior orgulho é empregar, essa é a maior conquista. Eu saí do Estaleiro Rio Grande em 2013, e de 2013 a 2017 eu só consegui um emprego no meio do caminho que foi uma tia que conseguiu pra mim. Eu corri muito atrás de emprego e não consegui. E o meu maior orgulho é poder proporcionar empregos. Hoje eu emprego sete pessoas e isso, para mim, é surreal, é um sentimento tão bom que eu não consigo descrever e essa é a maior conquista.