O Jornal Nacional (JN), da Rede Globo de televisão, iniciou na segunda-feira uma série de entrevistas com os quatro candidatos mais bem classificados na pesquisa Datafolha publicada no dia 28 de julho. Na segunda-feira foi ouvido o candidato e atual presidente Jair Bolsonaro (PL), na terça o candidato Ciro Gomes (PDT) e na quinta-feira o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A série termina na sexta-feira, quando será ouvida a candidatada Simone Tebet (MDB).
O site Superávit Caseiro, desde o início da série, está publicando as perguntas e respostas dos candidatos sobre o tema Economia. Na edição de hoje, você acompanha as ideias de Luiz Inácio Lula da Silva sobre a temática apresentadas no JN.
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William Bonner – Vamos falar de economia então, candidato.
Luiz Inácio Lula da Silva – Sabe por que eu estou querendo voltar? Porque eu quero ser melhor do que eu fui. Eu quero ser melhor. Eu quero voltar porque eu quero fazer coisas que eu deveria ter feito, mas não sabia que era possível fazer. É por isso que eu fui escolher o Alckmin de vice, para juntar duas grandes experiências na minha vida: um cara que foi governador de São Paulo 16 anos, e vice seis anos, e o cara que foi considerado o melhor presidente da história do Brasil. Esses dois que vão governar este país.
William Bonner – Vamos falar de economia, então, agora, candidato. Todos os economistas atualmente estão dizendo que o próximo governo vai ser obrigado a lidar com uma bomba fiscal, um desequilíbrio das contas públicas enorme. O senhor não tem sido claro quando fala dos seus planos para a economia. Mas o senhor, ao mesmo tempo, tem feito promessas. Como é que o senhor pretende recuperar o equilíbrio das contas?
Luiz Inácio Lula da Silva – Bonner, é que você não deve lembrar o que os meus economistas diziam para mim nas eleições de 2002. Naquela época, o Brasil estava quebrado. Naquela época, vocês lembram que o Brasil quebrou duas vezes no governo Fernando Henrique Cardoso? Naquela época, o Malan, que era um homem sério, ele todo final de ano ia para Washington tentar pegar dinheiro para tentar fechar o balanço com o caixa do governo. Estão lembrados de duas pessoas do FMI que vinham para o Brasil investigar o Brasil todo dia, e os meus economistas diziam “O Brasil está quebrado, o Brasil está quebrado”. Eu falava: “Então, por que vocês querem que eu ganhe as eleições?” Eu vou dar um dado para vocês ver o seguinte, quando eu tomei posse em 2003, o Brasil tinha 10,5% de inflação, o Brasil tinha 12% de desemprego, o Brasil devia 30 bilhões ao FMI. Nós tínhamos uma dívida pública de 60.4%. O que que nós fizemos? Primeiro, nós reduzimos a inflação para a meta, sabe, que era 4,5 durante todo o período de governo. Segundo, nós reduzimos a dívida pública de 60.4% para 39%. Nós fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares, e nós ainda emprestamos 15 bilhões para o FMI. Não sei se está lembrado disso. Além do que, nós fizemos a maior política de inclusão social que a história desse país conheceu. É assim que nós vamos governar esse país. Eu digo sempre, Bonner, que tem três palavras mágicas para governar o país. Três. A primeira delas é credibilidade. A segunda dela é previsibilidade. E a terceira é estabilidade. Você tem que garantir… primeiro que, quando você falar, as pessoas acreditam no que você fala. Quando você fala na previsibilidade, é porque ninguém pode ser pego de surpresa dormindo com mudança do governo. E a estabilidade é para você convencer, o governo cumprindo com sua tarefa, que os empresários privados do Brasil e os empresários estrangeiros, tenham condições e saibam que tem estabilidade para fazer investimento aqui dentro. Você sabe, eu vou terminar dizendo o seguinte: nunca antes na história do Brasil esse governo teve uma chapa como Lula e Alckmin para poder ganhar credibilidade interna e externa para fazer acontecer as coisas no Brasil.
William Bonner – Mas ainda na economia, depois dos seus dois mandatos, candidato, veio o governo Dilma. E o governo Dilma se notabilizou por tentar induzir o crescimento da economia brasileira fazendo… aumentando gastos públicos, e também segurando aumento de preços de combustíveis, aumento de preços de energia. O resultado disso foi a maior recessão em 25 anos e uma explosão da inflação. Daí, a pergunta: O senhor, uma vez eleito Presidente da República, mais uma vez, vai implantar na política econômica qual das receitas petistas? A do seu primeiro mandato, ou a receita petista do mandato de Dilma Rousseff?
Luiz Inácio Lula da Silva – Bonner, sábado eu estive com a Dilma no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. E a Dilma sabia que eu vinha aqui. E a Dilma disse para mim: Presidente, se perguntar do meu governo, não responda, fala para me convidar que vou lá discutir com eles. Mas o que eu quero dizer para você? Eu quero dizer primeiro que a Dilma é uma das pessoas que eu tenho mais profundo respeito pela competência e pela ajuda que ela me deu quando era chefe da Casa Civil. A Dilma fez um primeiro mandato presidencial extraordinário, porque crise se agravou, a crise internacional, e, mesmo assim, ela se endividou para poder manter as políticas sociais e para poder manter o emprego em 4.5%, que foi o menor desemprego que nós tivemos na história desse país, era como se fosse o padrão Noruega, padrão holandesa. Eu acho que a Dilma cometeu o equívoco na questão da gasolina, ela sabe que eu penso isso. Eu acho que cometeram equívoco na hora que fizeram 540 bilhões de desoneração, isenção fiscal de 2011 a 2040. E eu acho que quando ela tentou mudar, ela tinha uma dupla dinâmica contra ela: Eduardo, sabe, o presidente da Câmara, e o Aécio, no Senado, que trabalharam o tempo inteiro para que ela não pudesse fazer nenhuma mudança. Ela mandou uma medida provisória para mudar. Como aconteceu com o Fernando Henrique Cardoso, quando o Fernando Henrique Cardoso teve o segundo mandato, ele mandou medidas para poder evitar que o Brasil quebrasse, e ele tinha como presidente Câmara o Temer, que ajudou a aprovar as coisas, não trabalhou contra. E o presidente da Câmara, da Dilma, ele trabalhou contra o tempo inteiro a Dilma.
William Bonner: Mas a então presidente Dilma, candidato, não agiu sozinha, havia uma equipe cuidando de economia para ela e tudo, então este “erro” que o senhor reconhece ter havido lá não foi um erro pessoal, solitário dela, mas de uma corrente do PT, por isso a pergunta se impõe: se a corrente do PT que amparou as decisões que o senhor reconhece terem sido equivocadas da ex-presidente Dilma fizer valer a sua opinião em um governo seu, vai-se por esse caminho, daí a pergunta. O senhor está dizendo então que o seu governo vai ser diferente?
Luiz Inácio Lula da Silva – Se um dia entrar alguém no teu lugar para fazer o “Jornal Nacional”?
William Bonner – Entrará, seguramente.
Luiz Inácio Lula da Silva – Você vai perceber o que é rei morto, rei posto. Você vai descobrir. Ou seja, quando você deixa o governo, quem ganha vai governar do jeito que entender. Quem está de fora não vai mandar. Eu vou voltar a governar esse país, se o povo assim permitir, para fazer as coisas melhor do que eu fiz. A minha obsessão, Bonner, a minha obsessão, um homem de 76 anos de idade, que digo todo dia que tenho energia de 30, de voltar a governar esse país é porque eu acho que é possível recuperar, sabe, esse país, a economia voltar a crescer, a gerar empregos, a gerar melhoria nas condições de vida das pessoas. Eu estou convencido disso. Se eu não acreditasse nisso, eu não voltava, eu preferia ficar em casa, sabe, vivendo os louros de ser o melhor presidente da história do Brasil; não, eu vou voltar para provar que é possível fazer mais. E eu espero que, quando eu estiver no governo, vocês me convidem para vir aqui uma vez por mês para poder checar o que está acontecendo nesse país.
William Bonner – Só relembrando, então: os números ruins, ao fim do governo Dilma, a inflação, em 2013, estava em 5,9%, ela chegou, em 2015, a 10,3%. O PIB tinha subido 3% em 2013, caiu 3,5 em 2015, então, assim, os números falam por si. Renata.
Renata Vasconcellos – Candidato…
Luiz Inácio Lula da Silva – Eu peguei a inflação a 12 e reduzi para 4,5.
William Bonner – Antes.
Luiz Inácio Lula da Silva – Não, mas nós vamos fazer o mesmo. Se tem uma coisa que eu sei fazer, Renata, é cuidar do povo.
William Bonner – Não, o senhor deixou claro que pretende fazer uma gestão na economia diferente da que foi feita?
Luiz Inácio Lula da Silva – Não, eu pretendo fazer uma gestão de acordo com aquilo que nós construímos. Eu, hoje, tenho dez partidos junto comigo e ainda tenho a experiência do ex-governador Alckmin comigo. Muita gente pensava, uns anos atrás, que era impossível Lula se juntar com Alckmin, e eu me juntei para dar uma demonstração para a sociedade brasileira que política não tem que ter ódio, política, sabe, é a coisa mais extraordinária para você estabelecer convivência entre os contrários.
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