Por Superávit Caseiro
Na série de entrevistas que o Jornal Nacional (JN) da Rede Globo está realizando nesta semana com os quatro candidatos que aparecem na frente nas pesquisas eleitorais, na terça-feira foi a vez do candidato Ciro Gomes (PDT) ser entrevistado pelos jornalistas Willian Bonner e Renata Vasconcelos. Confira a seguir os trechos da entrevista em que o candidato abordou o tema Economia.
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William Bonner – O senhor trouxe à baila agora a Economia, o senhor falou do programa de renda mínima, né? O governo atual aumentou o Auxílio Brasil para 600 reais só até dezembro. Esses 200 reais a mais, só até dezembro, vão custar 26 bilhões de reais. O senhor mencionou, o senhor tem aí um plano de garantir uma renda mínima de mil reais para todas as famílias brasileiras de baixa renda, e em caráter permanente. Como, candidato?
Ciro Gomes – Essa é uma boa pergunta, porque eu peço às pessoas para me darem a oportunidade de numa… CiroTV.com.br, ela vai estar no ar, competindo com a Rede Globo, a partir de sábado. Brincadeira. Mas eu quero explicar ali. Mas você me dá a oportunidade. Veja, o que eu estou propondo é uma perna de um novo modelo previdenciário. Então, eu vou pegar o BPC (Benefício de Prestação Continuada), a aposentadoria rural de muitos brasileiros que ainda remanescem, que não contribuíram no passado, o Seguro Desemprego, e pegar todos os programas de transferência, especialmente o novo Bolsa Família, que é o Auxílio Brasil, transformar num direito previdenciário constitucional, ou seja, ninguém mais vai depender de político A, político B, eleição A, como está acontecendo, ameaças e tentativas de manipular o sofrimento mais humilhado do nosso povo, das mães de família que estão vendo seus filhos dormir hoje com fome, isso me dói o tempo todo. Essa é minha história de vida. E essa consolidação dá R$290 bilhões.
William Bonner – Essa conta fecha, candidato?
Ciro Gomes: Fecha. Por que eu vou agregar para fechar os 290 bilhões dos recursos que já existem, eu vou agregar um tributo sobre grandes fortunas apenas e tão somente sobre os patrimônios superiores a 20 milhões de reais. Entenda bem, só 58 mil brasileiros têm um patrimônio superior a 28 milhões de reais, 20 milhões de reais. Quer dizer o seguinte, cada super rico no Brasil vai ajudar a financiar com 50 centavos apenas de cada 100 reais da sua fortuna a sobrevivência digna de 821 mil brasileiros abaixo da linha da pobreza, ou seja, aqueles domicílios que as pessoas ganham 417 reais, ou menos, por cabeça, por mês.
William Bonner – O seu plano de governo, além dessa proposta de garantia e renda mínima, prevê ainda também reformas, né? Tem reforma tributária, tem reforma fiscal. E esse tipo de assunto precisa ser resolvido com o apoio do Congresso Nacional. O que nos leva a questão do isolamento. O senhor tem 40 anos de vida pública, o senhor foi prefeito, foi governador, foi deputado, ministro de estado. O senhor hoje disputa a presidência da República pela quarta vez. E, no entanto, o seu partido, o PDT, não conseguiu formar alianças nessa eleição. É fato, a candidatura Ciro Gomes pelo PDT é uma candidatura como se diz “puro-sangue”, uma chapa sem alianças. Como é que o senhor pretende formar maioria no Congresso para a aprovação das suas propostas?
Ciro Gomes – Eu proponho mudar o modelo econômico, que é uma tarefa profundamente complexa e difícil, e eu pretendo mudar também o modelo de governança política, pedindo às pessoas para pensarem juntas comigo. O Brasil se redemocratizou, se nós tomarmos eleições diretas para presidente, em 89. O Collor governou com esse modelo e foi cassado. O Fernando Henrique Cardoso e o PSDB nunca mais ganharam uma eleição nacional governando com esse modelo. O Lula foi parar na cadeia governando com esse modelo.
[…] [Após falar sobre questões políticas, a entrevista retorna para o tema econômico].
Renata Vasconcellos – O senhor está contando que o Congresso aderirá, mas se o Congresso se opor a essa estratégia, a crise está instalada, não é?
Ciro Gomes – Não, eu vou energizar a política brasileira. Por que a crise brasileira está instalada e tem 30 anos. Deixa eu lhe dar aqui alguns rápidos e breves números de quem acompanha a vida nacional, e deu-se ao povo brasileiro por paixão e amor a vida inteira. O Brasil tinha 34% da sua riqueza tirada da indústria, que paga os melhores salários, que dá os melhores empregos. Hoje está com menos de 10%. Destruíram a indústria nacional brasileira. A tradição do desemprego no Brasil é 4%, 5%. Nós batemos em 12 e estamos aí na faixa de 10%. A informalidade está mandando para a velhice? Minha irmã, deixa eu lhe dizer, perdoa aqui a expressão, mas é uma irmandade, uma fraternidade que eu estou pedindo. Nós estamos mandando para a velhice, daqui 15 anos, 50 milhões de brasileiros que não terão nenhuma cobertura previdenciária. Só eu estou preocupado com isso? Não é possível! A política não pode ser reduzida a essa coisa odienta, de: “O Bolsonaro é um protesto contra a corrupção e a crise econômica que o PT produziu”. Agora a frustração com o Bolsonaro, a gente vai voltar ao passado? O Brasil não aguenta mais isso.
[…] [Nas considerações finais, Ciro Gomes volta a falar do tema Economia]
Ciro Gomes – Das cinco propostas que eu me propus a trazer hoje, ainda não falei de uma que é inédita, que é a lei anti-ganância. Eu quero colocar uma lei em vigor no Brasil que eu conheço na Inglaterra. Que é assim: Todo mundo do crédito pessoal, do cartão de crédito, do cheque especial etc., ao pagar duas vezes a dívida que tem, fica quitado por lei. Essa é uma polêmica, estou apresentando aqui em homenagem ao William Bonner e a Renata, né, em primeira mão.
Na segunda-feira o presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro entrevistado. A série segue na quinta e sexta-feira, com a seguinte programação:
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — quinta-feira (25)
Simone Tebet (MDB) — sexta-feira (26)