Por João Victor Rodrigues/Superávit Caseiro
Na última segunda-feira a apresentadora do programa Mais Você (TV Globo), Ana Maria Braga, iniciou o seu programa com um colar de remédios em protesto ao aumento dos medicamentos que entrou em vigor na sexta-feira, 1° de abril. “Quando você pensa que já usei de tudo aqui: cenoura, arroz, botijão de gás, feijão, cebola.. Agora é a vez dos remédios se tornarem artigos de luxo para uma população tão carente”, disparou a apresentadora. O aumento ocorreu após resolução aprovada pelo Governo Federal, publicada no Diário Oficial da União, com o mesmo percentual para medicamentos do nível 1, 2 e 3. Tal medida pegou muita gente de surpresa e já está impactando negativamente no orçamento familiar de todos os brasileiros.
O aumento em questão foi um reajuste de 10,89% nos preços dos remédios, tendo como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias, e também os altos custos de produtividade de cada setor. O problema é que esse índice tem sido cada vez maior na comparação com os baixos ou inexistentes reajustes salariais dos mais diversos setores da sociedade, reduzindo muito o poder de compra de mantimentos básicos dos brasileiros.
Segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) outros fatores também interferem no aumento dos medicamentos, como a alta do Dólar em relação ao Real nos últimos anos e também o aumento de gastos com o transporte de medicamentos e os constantes reajustes no preço dos combustíveis.
O que casou revolta nos consumidores foi o alto índice de aumento, o segundo maior em dez anos, que só ficou atrás do reajuste de 2016, quando o aumento chegou aos 12,5%. Vale lembrar que o último acréscimo ocorreu no ano passado, ficando em 8,15% e fazendo com que no acumulado do período o reajuste no preço dos remédios aumente a defasagem salarial dos brasileiros, que encontram cada vez mais dificuldades para organizar as suas finanças sem ficar no vermelho.
Em reajustes anteriores, a forma de aliviar o impacto aos consumidores era de diferentes taxas para cada categoria. Na prática, medicamentos com maior procura e também concorrência recebiam os reajustes maiores, enquanto os menores eram para os medicamentos de alto custo. Neste ano o aumento foi igual às categorias 1, 2 e 3. Em nota, o presidente executivo do SindusFarma, Nelson Mussolini, afirmou: “Dependendo da reposição de estoques e das estratégias comerciais dos estabelecimentos, aumentos de preço podem demorar meses ou nem acontecer”. No entanto, essa não foi a realidade encontrada por muitos que tiveram que ir à farmácia desde a última sexta-feira.
Alguns membros do grupo de aposentados e pensionistas, principais consumidores de medicamentos, afirmam que a cada ano está mais difícil conviver com os aumentos anuais dos remédios. Dona Elma Beatriz, aposentada há mais de cinco anos, afirma que além dos remédios habituais, como o utilizado para controlar a pressão, ela ainda conta com outros remédios que eventualmente precisa comprar. “O dinheiro da gente não dá pra isso tudo de remédio, não. Ainda tem mais as outras contas… Só com um salário mínimo é quase impossível, não sei como a gente vai fazer, mas deixar de comprar não dá pra deixar”, lamenta.
A mesma situação é vivida pela também aposentada Nara Miriam Ritter, que reclama que os índices de reajuste tanto dos remédios, como de outros produtos e serviços, são bem mais altos do que os reajustes salariais dos últimos anos. “A verdade é que com isso é como se o nosso salário estivesse diminuindo a cada mês, porque os preços aumentam e o salário continua o mesmo. Cheguei na farmácia sexta-feira e os funcionários já estavam trocando os preços de praticamente todos os remédios”, conta. Além dela, que sofre de pressão alta, o marido, Nabucodonosor Ritter, que também é aposentado, faz tratamento contra a diabetes. “Com os nossos salários hoje em dia só dá para comprar remédio e fazer supermercado. E parece que fica cada vez pior. Se nada for feito, não sei aonde vamos parar”, acentua.
No momento, há poucas alternativas para tentar aliviar mais esta alta, no entanto, elas podem amenizar um pouco a falta de dinheiro no orçamento familiar dos brasileiros. Eis algumas dicas que podem ser observadas:
- Pergunte ao seu farmacêutico qual o melhor genérico para substituir o seu medicamento, levando em consideração o preço acessível entre eles e também o seu princípio ativo, e não o seu nome comercial.
- Consultar se seu plano de saúde oferece algum desconto que reduza os valores dos medicamentos.
- Procurar se informar se a Farmácia Popular disponibiliza seu medicamento. Inúmeros estabelecimentos credenciados no programa disponibilizam medicamentos com até 90% de desconto.
- Pesquisa de preços em diferentes redes de farmácias e drogarias.
O texto da resolução afirma que cabe às empresas produtoras realizar a divulgação do reajuste através de publicidade nos grande meios de comunicação e aos varejistas de disponibilizar aos consumidores a lista de preços atualizada. A resolução assegura que os preços não devem ultrapassar os preços publicados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) disponível no portal da Anvisa. Tanto a consulta à lista, quanto denúncias, pode ser feita através do link: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/cmed/precos.