Por Rafaél de Lima – Administrador e jornalista, servidor público municipal.
Na última semana o governo de Jair Bolsonaro anunciou novas manobras para injetar dinheiro na economia, mais um pacote de “bondade” para o povo. Mas na realidade não passa de mais uma ilusão de poder de compra, para quem não tem poder para comprar o básico.
Ao adiantar o 13º salário para aposentados e pensionistas, já para os meses de abril e maio, ele classifica como uma “boa ação”, mas a verdade é que esse dinheiro fará muita falta no final do ano. Também foi autorizado saque de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aos trabalhadores, e em ambos os casos o governo premia as pessoas com um dinheiro que já é delas, criando a falsa ilusão de que o governo está dando isso, pelo menos é a ideia apresentada para que a grande imprensa divulgue à população. Mas na verdade o que o governo faz é jogar para pensionistas, aposentados e trabalhadores a responsabilidade de aquecer a economia. Parece que essa foi a melhor das ideias que se conseguiu no momento.
Em ano de eleição tudo vale, então seguimos com as “inovações” do governo para aquecer a economia: aumento da margem de consignado para 40%, estendendo este também aos beneficiários do Auxilio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família. Essa, sem dúvida, é a pior parte desse plano, permitindo as pessoas a se endividar ainda mais, com uma falsa ilusão de aumentar o poder de compra retirando um montante em empréstimo e, a pessoa acaba por se endividar e pagar muito caro por isso nos próximos meses ou anos.
Sabemos que a taxa de juros dos empréstimos consignados, mesmo sendo uma das mais baixas do mercado, ainda prejudica muito quem a utiliza. Principalmente quem tem uma renda baixa, que acaba contratando em um prazo mais longo devido ao valor da parcela mensal autorizada na margem. Aposentados e pensionistas e beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e do Auxílio Brasil podem agora comprometer até 40% de seus benefícios em empréstimos consignados, reduzindo a renda à disposição mensalmente. Quando falamos em beneficiários do Auxilio Brasil, isso fica mais evidente, pois retirando os 40% comprometidos no empréstimo, muitas vezes não sobrará valor para um botijão de gás.
O empréstimo é opcional, claro que sim, mas do jeito que boa parte dos brasileiros estão, irão correndo contratar empréstimos e, pior ainda, muitos deles usarão para amortizar dívidas que já tem com os bancos em cheque especial, cartão, ou outros empréstimos. Assim fazendo dívida pra cobrir dívida, sendo que daqui a alguns meses boa parte estará com dívidas no cartão novamente, com dívida na conta, e ainda com a margem mais comprometida.
Essa é a lógica, o brasileiro não sabe como controlar sua vida financeira, em regra as pessoas não sabem como lidar com custos e receitas, não há controle, não há iniciativa, nem um programa para ajudar as pessoas a usar o dinheiro ao longo da vida. O brasileiro, em grande parte, passa a vida inteira tendo que lidar com o muito que gasta e o pouco que ganha, mas o pior é que não sabe como fazer isso, não tem um embasamento ou onde recorrer para aprender isso.
Educação financeira devia ser matéria de ensino primário, aprender na prática o que são juros, não apenas como mais um capítulo do livro de matemática, mas como algo do seu dia a dia, aprender a gastar, a pesquisar, ser orientado sobre os diversos tipos de custos, sobre os bens essenciais. Todo estudante que sai do Ensino Fundamental devia ter na ponta da língua os percentuais mais corretos pra se gastar em custos, lazer, educação, investimentos mensalmente. Não importa se a mesada é 100 ou 500, ou se não tem mesada, mas é preciso que os jovens aprendam, para que os erros não se perpetuem nas gerações. Endividamento às vezes parece algo hereditário na sociedade.
E olha que endividamento não é algo ruim quando se tem um propósito, quando é investimento, é ruim quando não se consegue cumprir os pagamentos. Sem educação financeira não existe empreendedorismo, este sem apoio também inexiste. E aí vamos para mais uma iniciativa do pacote do “bem”: o crédito para microempreendedores, liberando valores de um a três mil reais, para estes trabalhadores, no entanto, o governo mais uma vez não sai da sua lógica de exploração, afinal o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o indicador considerado o termômetro oficial da inflação, fecha em janeiro a 0,54% e fevereiro em 1,01%, enquanto o governo oferece o crédito a juros de 2% ao mês.
Não há incentivo, não há apoio. Sabemos da verdade sobre o ditado popular que não existe almoço de graça, mas existe almoço subsidiado, almoço barateado, almoço fortalecido quando o governo se preocupa com a classe mais baixa, ao contrário de quando joga nestes a responsabilidade de ajudar a economia, mesmo que pra isso custe do bolso de quem mais precisa, de quem menos ganha.
Até quando vamos continuar dando o peixe e não ensinando a pescar ou, atualizando, até quando vamos continuar vendendo um peixe estragado a preço de salmão, para quem não conseguem nem comprar sardinha?