Por: Ester Caetano/Superávit Caseiro.
O conflito entre Rússia e Ucrânia já passa de 20 dias e essa instabilidade, mesmo que no Leste Europeu, pode gerar duros efeitos no mercado brasileiro. Especialistas temem que a Guerra na Ucrânia tome proporções mundiais, embora ainda não chegando a esse patamar, pela economia globalizada e os mercados interconectados, as economias já estão sendo prejudicadas.
O coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais da Universidade Federal de Pelotas, professor Dr. Alisson Eduardo Maehler, avalia que Pelotas não tem uma base industrial tão forte e exporta mais produtos básicos, como arroz e outros alimentos. Assim, o impacto será maior no custo da farinha e dos combustíveis e na cotação do dólar. “Vai depender se a guerra irá durar mais tempo e se envolverá mais países”, analisa o professor.
No Brasil, por exemplo, através do commodity global e de fertilizantes, os brasileiros sentiram na pele a alta dos preços e dos serviços. Na última quinta-feira, 10, a Petrobrás aumentou os preços da gasolina e do gás de cozinha em mais de 18%. No diesel, o aumento chegou aos 24%. Isso por resultado da elevação do preço do barril de petróleo em relação às sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra petróleo e gás exportados pela Rússia.
Mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores de petróleo no mundo, o petróleo que aqui é produzido e extraído junto com as necessidades de refinaria faz com que seja preciso importar petróleo internacional. Isso reflete nos combustíveis que vestem a capa de vilões da inflação, uma vez que a logística brasileira de distribuição é através da malha rodoviária.
Como a Rússia tem significativa produção de combustível, a cotação internacional é diretamente impactada e isso gera uma desarmonia financeira grave e essas consequências podem ser sentidas no longo prazo. “O combustível afeta toda a cadeia, pois aumenta o frete, o transporte de passageiros, etc. Então sentiremos os efeitos por ainda um bom tempo, resta saber quão grande será esse efeito”, aponta o professor Alisson Eduardo Maehler
Maehler, que também trabalha com inovação e gestão de cadeia de suprimentos, complementa que a guerra impacta o poder de compra das empresas brasileiras, dado que a interconexão de mercados e as sanções faz com que o dólar fique mais valorizado. Logo, as empresas que dependem de importações baseadas na economia do dólar e fazem transações com esses países em guerra sentem os impactos da guerra no bolso. Além do mais, a guerra faz com que não só as empresas como os países se deem conta que dependem em alta escala de uma lista pequena com poucos fornecedores. “Isso é muito arriscado. O caso da pandemia, agora, de Covid-19, foi um exemplo. Importamos muita coisa da China, desde luvas, máscara, respiradores… Precisamos produzir mais internamente no Brasil”, relata o doutor em Administração.
A guerra com o invisível e a guerra cívica, qual pior cenário para a economia?
Atualmente, os especialistas revelam que as sociedades estão entrando na melhor fase da crise empeirada pela Covid-19, porém, nas finanças, ainda terá uma retomada lenta e gradual da economia e dos negócios. Contudo, com a guerra não se pode medir essa retomada. “A questão da Guerra é imprevisível, pois uma guerra se sabe como começa e nunca como termina, ainda é cedo para dizer alguma coisa. Mas mesmo que acabasse logo os efeitos ainda irão perdurar, pois atacaram as cadeias de suprimentos, as exportações e há muitas sanções contra a Rússia”, explica o professor Maehrl.
O docente ainda revela que por outro lado a guerra abre portas para a necessidade de produção nacional de itens de grande ou baixo valor agregado, como os fertilizantes, combustíveis, vacinas, equipamentos hospitalares, fármacos e, até mesmo, itens de defesa, para assim depender menos das importações.
O lamento com as crises é grande e custoso, gera criatividade e ativismo, propõe diversas formas de mecanismo para soluções, contudo antes mesmo de se entrar em um cenário catastrófico “precisamos pensar e planejar mais as políticas e os negócios no longo prazo e considerar diversas variáveis”, conclui.