UMA PARTE DO TODO
3 a 14 de outubro de 2022 na Galeria A SALA – UFPel
Sobre Uma Parte do Todo
No âmbito das distintas estratégias deflagradas pelas poéticas artísticas na contemporaneidade, uma noção pode ser sublinhada através do conjunto de proposições reunidas aqui: algo que pode nos remeter a outra coisa; vetores, parcelas de realidades (e ficções) indicadores de algo mais amplo; dispositivos de acesso; elementos disparadores. Não seria improvável relacionar tecer aproximações com os procedimentos de artistas atuantes nas décadas de 60 e 70 do século XX, através dos quais identificamos operações similares. Quando o que é mostrado no espaço de exposição, por constituir-se enquanto parte de um conjunto ampliado, denota a insuficiência do objeto de arte e, ao mesmo tempo, dispara uma miríade de sentidos e conexões com diversos campos do conhecimento.
Após dois anos de interrupção nas atividades acadêmicas presenciais, Uma parte do todo expressa, assim como as demais atividades do XI SPMAV, a vontade pelo reencontro com as dimensões materiais da experiência. Apresenta-se, no entanto, pela economia de meios e pela sutileza nas formas de apresentação no espaço expositivo. Observamos, talvez, uma sintomática presente em novas (e outras) formas de construção de enunciados por meio de fragmentos, parcelas, pistas e rastros de poéticas em fase de amadurecimento no contexto da pós-graduação. O escopo material da experiência humana, ao ser subtraído ou restringido durante o período pandêmico, parece ter sido encapsulado. Como num empacotamento de Christo e Jeanne-Claude, a experiência material retorna agora estranha, ainda mais indecifrável, ainda mais instável em suas dimensões afetivas.
Do virtual ao presencial, com o vagar de quem começa a enxergar no escuro, pouco a pouco, o encontro de olhares e corpos parece querer se adaptar aos espaços, ao mobiliário, aos objetos. Ao mesmo tempo em que se apropriam da arquitetura, marcam o território com suas produções poéticas, manifestações que se apresentam em sintonia com asinquietaçõescontemporâneas do mundo, necessárias à reflexão. As temáticas transitam entre questões ambientais, diversidades de origem e gênero, decolonidades, fronteirasque afetam o viver, as rotinas, as políticas e os gestos diários que abarcam as narrativas pessoais, marcadas pelos afetos e pelo corpo presente. A exposição habita o lugar do sonho, da fantasia e das utopias. Singularidades que reverberam no todo. Sopros individuais se fundem, transformam-se em brisa suave na promessa de um turbilhão de novos sentidos.
Clóvis Martins Costa e Roseli Nery
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