MR 1: Relações tecnopoéticas entre criaturas e máquinas

Coordenação: Guilherme Corrêa (PPGC/UFPel)
Debatedora: Claudia Turra Magni (PPGAnt/UFPel)

Da Computação à Psicanálise, passando pela Antropologia, esta Mesa estimula o encontro e a fricção de múltiplas perspectivas contemporâneas sobre as interações e hibridizações entre seres vivos e seres maquínicos. Partindo de uma restrospectiva da popularização da IA, desde sua implementação à atualidade, trataremos, a seguir, de seus empregos na produção de memórias e imaginários; das relações sociotécnicas entre criadores, criação e criaturas, bem como de afetos, ânimos e paixões que os autômatos suscitam na humanidade.

Comunicadora/es:
“Uma caminhada pela Inteligência Artificial: como chegamos até aqui?”
Joaquim Francisco dos Santos Neto (PPGCA/Unisinos)

Síntese da proposta: Qual caminho percorremos para chegarmos às atuais IA? Desde as teorias de Alan Turing até os Grandes Modelos de Linguagem, como o ChatGPT e o LLaMa; desde modelos baseados apenas em fragmentos de palavras até aqueles capazes de compreender e gerar texto, voz e imagem: como chegamos até aqui?


“Uma antropologia mais-que-humana”
Jean Segata (UFRGS)

Síntese da proposta: Há meio século, as teorias antropológicas foram atravessadas e tensionadas por campos como os estudos pós-coloniais, de gênero e feministas. Como resultado, emergiram antropologias menos europeias, menos brancas, menos masculinas e menos heteronormativas. De forma semelhante, uma antropologia menos antropocêntrica tem ganhado força a partir de etnografias recentes, influenciadas pelos estudos da ciência e tecnologia, dos animais, da ecologia e pelos debates sobre o Antropoceno. Enfatizando este último ponto, esta apresentação estimula essas interseções de campos e temas em prol de uma antropologia mais-que-humana, cujo ponto de convergência é o reconhecimento das histórias, protagonismos políticos, biografias e identidades de artefatos tecnológicos, animais, plantas, minerais e outras criaturas na constituição do que a antropologia convencionou chamar de vida social.


“A paixão pelo autômato como gozo no capitalismo.”
Roberto Amorim (UFRGS)

Síntese da proposta: Paixão pelo Autômato é um conceito desenvolvido pelo autor para investigar, desde a psicanálise, um páthos da cultura contemporânea. Por páthos deve se entender não o sentido capturado e popularizado pela medicalização da vida que remete à doença, mas uma disposição da experiência humana de envolvimento subjetivo e provação singular no sentido existencial de suas próprias paixões. Uma noção disso é o que chamamos de paixão de Cristo: sua provação e passivamento para cumprir uma destinação deliberada. As repetições em nossas práticas cotidianas de trabalho ou de relações afetivas e lazer, bem como os autômatos como figurações de um suposto ideal humano observados nas narrativas e produções culturais numa sociedade cada vez mais informatizada e associada ao tecnológico, completam o sentido da expressão Paixão pelo Autômato. Nesta intervenção o autor procurará justificar como os últimos avanços das IAs reforçam o questionamento do conceito moderno de humanidade pelo discurso pós-humano, em especial sua vertente transumanista. Por fim, mostrará como esses avanços tecnológicos respondem muito mais à injunção de valorização do valor na relação capitalista de reprodução social da vida, ao invés de constituir uma espécie de destinação inata de desenvolvimento e evolução humana como ser diferenciado na natureza.


“Imagens, inteligência artificial generativa e a produção de passados”
Débora Leitão (UQÀM, Canadá)

Síntese da proposta: Nos últimos anos, as ferramentas de inteligência artificial generativa tem se popularizado significativamente, sobretudo aquelas capazes de produzir textos e imagens. Nessa comunicação discutiremos os usos de IA na produção de imagens que, à partir da adoção de uma série de convenções estéticas, emulam fotografias antigas. O universo empírico que serve de base às reflexões desenvolvidas corresponde principalmente às ferramentas de IA generativa de imagens oferecidas por sites comerciais de pesquisa genealógica amadora. Analisaremos os usos de tais ferramentas na produção de memórias familiares e de imaginários sobre outras épocas e lugares, além de apresentar algumas controvérias contemporâneas que decorrem dessa possibilidade de recriação ficcional de imagens do passado.